Faz minutos, repassando os olhos sobre obras da Clarice Lispector (1920/1977), um anjo de mulher, escritora, colunista, linda, dei de cara com esta frase dela num texto: – “Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam”.
De fato, se crermos, existe. Não é por outra razão que a maioria dos religiosos sofre mais que os ateus. Os religiosos vão a igrejas, procissões, ritos, mas são infelizes. Por quê? Porque dizem da boca para fora que creem, que acreditam no que dizem crer.
Se de fato acreditassem, não precisariam viver indo a igrejas. Saberiam que “crer” basta. Ora, se eu visceralmente acredito no que penso, pronto, a conta está fechada, vou viver o que penso… O diacho é a qualidade do que penso.
Sabemos, leitora, que você, eu, o Pedro, o Paulo, a mãe Joana, somos livres para dar passe livre à nossa cabeça, que ela pense o que quiser, desde que seja para o nosso bem. Ela faz isso? Faz coisa nenhuma. Mais das vezes ficamos a pensar em nossos limites, medos, frustrações, ansiedades, depressões, derrotas, enfim. Perda de tempo.
Não acredito que haja quem não saiba que realidade externa e palpável não existe, só existe o que pensamos. A personagem da Clarice Lispector acreditava em anjos e os anjos existiam para ela. Nós tentamos fazer o mesmo, pensamos acreditar em anjos, deus, santos, o que for, mas…
Patinamos na dúvida, uma dúvida que se expressa em nossas ações. Ora, se de fato creio em um deus poderoso que está dentro de mim e em outros lugares, por que não ajo com segurança e certeza do bom resultado? Pela singela razão de não crer. E pensando assim, bah, fracasso garantido.
A “realidade” está dentro de nós, não há realidades para os mortos. Aquela história do Cristo caminhando sobre as águas e os apóstolos afundando na mesma água, valeu a eles a advertência – “Homens de pouca fé”. Claro que a história é uma ilustração sobre uma realidade possível, aquela do – “Se tu podes crer tudo é possível ao que crê”.
Até mesmo caminhar sobre as águas. Quando a Clarice diz que – “Ela acreditava em anjos e porque acreditavam eles existiam”, é ideia parecida com a do Cristo diante dos homens de pouca fé. O que mais nos falta na vida é fé, fé que constrói realidades, confiança em nós mesmos.
CONVERSAS
Conversas caseiras, daquelas… Lá pelas tantas, alguém cita uma estatística e diz que – “49% de brasileiros pesquisados consideram que o ideal de relacionamento é cada um morando em sua própria casa”. Bom, se for assim, estou casado com a minha vizinha? É isso? Parvos. Casamento é companheirismo, mesmo teto, churrasco e bom chimarrão, caipirinha e novelas, mesmo cobertor e sono dos “juntos”. Não sendo assim, bah, que fique cada um na sua, “solteiros”…
ESPELHOS
Estava num pedaço de papel, uma tira antiga, daquelas que anotamos, jogamos numa gaveta e esquecemos… Frase de um psiquiatra na revista Nova, edição antiga: – “Aprender a se enxergar é um processo delicado, em que talvez seja bom buscar terapia. O espelho apenas reflete nossa insegurança”. É cair na real. Aliás, toda vez que me olho no espelho saio desconfiado, desconfio que o espelho me pisca: – Vai te enxergar, cara!
FALTA DIZER
Escolas sem partidos, sim. Escolas e professores. Ambiente escolar é Educação Moral e Cívica. Alunos vagabundos que ofendam colegas, que os “minimizem” por pobreza ou pelo que for têm que ser suspensos e logo em seguida expulsos. São ordinários “fabricados” pelas famílias. Abram o olho!