Conhecido por suas propostas práticas e soluções simples, Gustavo Cerbasi se tornou um dos mais renomados consultores de finanças pessoais do País após mostrar que é possível crescer financeiramente com organização e muito planejamento. A prova viva é o próprio consultor: seguidor ávido dos ensinamentos que repassa, Cerbasi conquistou o primeiro milhão ainda jovem e comprovou que enriquecer exige muito mais esforço do que sorte.
Para compartilhar este conhecimento, Cerbasi esteve na noite de ontem (18) na Scar participando do 10º Encontro Regional dos Jovens Empreendedores, promovido pelo Núcleo de Jovens Empreendedores da Acijs e pela Apevi. Mais de 500 pessoas prestigiaram o evento. Em entrevista ao OCP, Cerbasi, que é mestre em finanças pela USP e autor de 15 livros, fala sobre os desafios de controlar as finanças do negócio, as oportunidades do cenário de crise e o comportamento do brasileiro quando o assunto é dinheiro.
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Diante do cenário econômico instável que se estabelece hoje no Brasil, quais são os principais desafios das empresas no que diz respeito à manutenção do seu capital financeiro?
A questão não é manter o capital financeiro, mas sim se adaptar à nova realidade econômica, de um país mais pobre, que consome menos e de maneira mais seletiva, que demorará para voltar a um nível de consumo que tivemos até 2012. O empresário que tentar segurar as pontas até a crise passar irá perder muito, pois a recuperação será lenta e muitas empresas não terão fôlego para sustentar durante tanto tempo estratégias que são adequadas para expectativas mais elevadas de consumo.
Que lições podemos aprender em momentos de crise, seja dentro de uma empresa ou no controle financeiro do lar?
Crises são períodos de renovação, como as queimadas que acontecem periodicamente no cerrado. Nas queimadas, há a tristeza da perda de vidas e da poluição, mas há também a alegria da renovação e da força da nova vida. Crises econômicas são períodos em que a conta chega para quem errou no passado, e oportunidades aparecem para quem se preparou para elas.
Nos períodos de bonança, empresários e famílias conscientes criam reservas para consumir e investir melhor nas crises, comprar com desconto o que está sendo vendido urgentemente por quem não se precaveu. Isso é cíclico, e deveria ser percebido e discutido com mais ênfase no Brasil, país de crises frequentes e intensas. Quem não se educou, não se preparou, está sofrendo na crise. Quem cuidou bem de suas finanças nos últimos anos está comprando imóveis e automóveis com desconto, ou adquirindo o concorrente que está falido.
O brasileiro tem sabido encontrar oportunidades de aprendizado dentro deste cenário? Como reagimos diante do direcionamento inesperado que nossa economia tomou?
Sim, parte dos brasileiros tem aprendido a explorar os ciclos de crise. Discordando da pergunta, esse período de ajuste dos excessos cometidos no passado não é tão inesperado. Sempre que vivemos períodos de crescimento intenso das oportunidades, do consumo e da rentabilidade dos investimentos, precisamos nos manter alertas para o esgotamento dessa bonança e nos preparar para o ajuste. Gananciosos se cegam diante da onda otimista, conscientes se seguram para aproveitar a crise. Como a educação financeira cresceu muito nos últimos anos, é nítida a evolução do perfil de investimentos e de crédito das famílias de renda mais elevada.
As famílias de menor renda carecem desse aprendizado devido, principalmente, à recente “bancarização” dessa parcela da população, o que faz com que ainda estejam aprendendo com base em seus erros. Por outro lado, a economia tem trazido oportunidades mesmo para quem não se preparou adequadamente. Esse ciclo de crise só não foi mais intenso e mais grave porque, nos grandes centros urbanos, floresceu o empreendedorismo por necessidade.
O que precisa ser feito hoje no Brasil para que ele volte a crescer? Em sua visão, já caminhamos para um cenário mais animador?
Para se recuperar, qualquer economia precisa de investimentos, e investimentos só acontecem quando há poupança. Nos últimos anos, a expansão do crédito fácil esgotou a poupança das famílias. O discurso político falacioso e irresponsável fez empresários investirem onde não houve retorno. A condução irresponsável e criminosa das contas públicas consumiu mais de metade as reservas do país.
Famílias, empresas e estado não têm de onde tirar para investir. Restaria contar com capital estrangeiro, mas a mesma irresponsabilidade que levou para o ralo as reservas das famílias, empresas e governo também reduziu nosso crédito perante o mundo. É por isso que o investimento estará aquém do desejável. Com políticas de austeridade do governo e consciência da sociedade, estamos entrando em um período de recuperação e crescimento, mas, por ser um período longo e lento, eu não chamaria esse cenário de animador.
Muito se fala do potencial de consumo do brasileiro. O que isso diz sobre a nossa cultura? Temos criado mais consciência sobre como gerenciar nossas finanças?
Ainda estamos longe do ideal. A família brasileira é como o adolescente que passa fome e dorme pouco, mas que diante do primeiro salário quer gastar tudo com um tênis ou um smartphone. O potencial de consumo é sim elevado em termos mundiais, afinal nossa renda não pode ser considerada baixa, mas é uma renda desigual e com expectativas de consumo irreais.
Por consumir mais do que cabe em seu bolso, o brasileiro gasta mais do que deveria com os caríssimos juros dos empréstimos. Com isso, seu poder de consumo é muito distante do que sugere sua renda. Além disso, estamos vivendo tempos de inflação elevada, o que desgasta esse poder de consumo sem que a maioria perceba.
Quais são as principais armadilhas financeiras que as pessoas criam no seu dia a dia? Como superá-las?
Eu apontaria três armadilhas principais: excesso de gastos fixos (resultado de comprar sempre o máximo que cabe no bolso, sem margem para ajustes), perda de flexibilidade no orçamento (em razão do excesso de compras a prazo) e desprezo pelo crédito (lidamos mal com as oportunidades que nos oferecem). Como são armadilhas que mostram seus efeitos somente depois de algum tempo com o efeito acumulado, muitos só aprenderão errando na prática. Porém, depois de 20 ou 30 anos pagando uma escolha ruim do imóvel errado com o financiamento errado, não há muito tempo em vida para aproveitar esse aprendizado. Por isso, a melhor maneira de superar esses erros é com educação financeira: debatendo e compartilhando ideias que conduzam a escolhas mais inteligentes.
Em tempos de crise, é possível notar que o consumidor busca cada vez mais o pagamento a vista ou em poucas parcelas. Esta pode ser uma mudança duradoura ou é uma tendência que o brasileiro retorno para os antigos hábitos quando o cenário se modificar?
Há alguns anos, crises eram os períodos em que as pessoas mais compravam a prazo, imaginando que a facilidade de pagamento ajudava a manter o consumo e que, após passada a turbulência, a situação financeira poderia ser equilibrada. Felizmente, a sociedade brasileira está aprendendo que os erros acumulados com esse hábito foram tão graves, que muitas famílias atravessaram os bons momentos da economia apenas corrigindo erros, e que quando as crises voltaram elas se viam obrigadas a apelar para as compras parceladas novamente. Com isso, a maior parte da população brasileiro vinha vivendo uma crise interminável, independentemente do cenário.
Com a maior conscientização sobre o tema disseminada principalmente pela imprensa, hábitos estão mudando para melhor. Em tempos de crise, famílias estão preferindo diminuir o tamanho da moradia ou do automóvel a assumir prestações que podem gerar dificuldades de pagamento. Com isso, o ajuste é mais eficaz e com maior sentimento de alívio. Eu acredito que o hábito de abandonar compras a prazo veio para ficar.
Como garantir que a gestão financeira tenha aderência com a rotina da família? Muitas vezes, o planejamento está no papel, mas as pessoas não conseguem colocá-lo em prática. Por que isso acontece?
O problema está no excesso de racionalismo. As pessoas percebem que precisam diminuir gastos, mas tendem a cortar os gastos que são mais fáceis de serem cortados. Deixam, então, de consumir lazer, cuidados pessoais e outros itens de qualidade de vida. Equilibram as contas, mas entram em um processo mecânico de acordar, trabalhar, pagar contas e dormir. Sem qualidade de vida, ficam mais ansiosas, dormem mal, produzem menos no trabalho e mais imprevistos acontecem.
Como resultado do equilíbrio financeiro, vem o desequilíbrio emocional, e com ele o abandono dos planos. A esse processo dão o nome de auto-sabotagem, mas nada mais é do que escolhas erradas. Na hora de cortar gastos, deve-se reduzir o custo de vida (mudar para um apartamento menor, por exemplo, ou diminuir o padrão do carro), para que se preservem os gastos com qualidade de vida, os mais recompensadores durante o processo de sacrifício nas finanças.
Qual a diferença entre enriquecer e crescer patrimonialmente? Investir dinheiro em bens é sempre a melhor escolha? Como avaliar?
Enriquecer é aumentar a liberdade de escolha. Isso se faz com investimentos e com diminuição das necessidades. Quem vive de maneira simples pode se sustentar durante a vida toda com negócios simples, como um food truck, ou com a estabilidade de um emprego público ou de uma carreira planejada.
Uma pessoa excessivamente ambiciosa, por outro lado, pode estar sempre longe de se sentir realizada, por maior que seja seu patrimônio. E não basta ter patrimônio – é preciso desenvolver inteligência financeira para saber a hora de vender o que não gera mais utilidade ou renda. Afinal, patrimônio mal administrado gera despesas, e não renda.
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