Após um caso de injúria racial contra uma menina de apenas sete anos, em Criciúma, a empresa onde a autora trabalha se manifestou sobre o ocorrido e informou que a mulher já foi “desligada”.
Vestida de princesa, a criança foi chamada de “macaca” em uma rede social. Os pais já registram boletim de ocorrência e a autora do comentário criminoso, Vanice Damiani, deixou as redes sociais após o racismo vir à tona.
O caso ganhou repercussão, em nível nacional, ainda mais que hoje é comemorado o Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial.
“Nós não compactuamos e repudiamos atos ou comportamentos discriminatórios que venham depreciar e/ou desqualificar qualquer pessoas em razão de toda e qualquer atitude preconceituosa.
Em virtude do caso de injúria racial envolvendo uma colaboradora da empresa em seu perfil pessoal no Instagram, a mesma foi desligada e não faz mais parte da marca.
Continuaremos promovendo a diversidade entre nossos colaboradores e reforçaremos ainda mais nossas ações em busca de uma sociedade mais justa e intuitiva”, manifestou-se a empresa.
Mobilização
Entidades, coletivos, sociedade civil organizada, dentre outros, manifestaram-se sobre o tema. O Coletivo Chega de Racismo Criciúma abordou em texto, com o título “Racismo: Esse debate é de todos e todas”, uma reflexão sobre a necessidade do posicionando da empresa a qual a mulher trabalha, antes da nota.
Confira
“O caso de racismo que aconteceu contra uma criança aqui em Criciúma no último dia 18/03 levantou a necessidade de um debate importante. Qual o papel das empresas e instituições quanto a isso? Por elas devem se envolver e contribuir contra as práticas racistas que acontecem na sociedade, e particularmente, nos seus espaços. O caso da menina repercutiu muito porque um dos motivos, foi que a pessoa que praticou tal ato trabalho numa grande empresa de confecção na cidade. E o que a empresa tem a ver com isso? Tem uma máxima no movimento negro que a seguinte: se você não se posiciona contra o racismo você também é racista, ou pelo menos contribui para reproduzir o racismo. Por isso exigimos enquanto movimento negro uma posição da empresa. Queremos saber se ela é a favor desses atos, partindo de seus funcionários ou donos, porque do contrário, torna-se cumplice.
Os grilhões da escravidão deixaram profundas marcas na história brasileira, no entanto, a dificuldade no debate público sobre os resquícios desta história tem inibido os próprios processos de combate ao racismo. É a experiência escravagista um dos caracteres mais perversos que marcaram a história da sociedade brasileira. E nela está pautada a opressão que foi estabelecida sobre os negros e as negras brasileiras e se tornou ainda mais aguda porque o Estado, depois da farsa abolição, intensificou o racismo estrutural na exploração capitalista na divisão racial do trabalho.
Empresas, escolas, universidades, segmentos políticos, imprensa entre outras setores precisam abraçar a causa negra e se posicionar duramente contra atos racistas. Isso corresponde em tarefas comuns a negros, brancos, oprimidos e explorados, correndo todos os riscos que ela apresenta, mas compreendendo que ela se faz pertinente. Por essas e outras, reafirmamos que a luta contra o racismo só pode se dar através da organização de negros e de negras em aliança com a classe operária, a juventude e todos os demais setores explorados e oprimidos da sociedade.
Que lutar contra o racismo é lutar também contra o sistema que dele se beneficia. Que nossa luta não é pela tão alardeada “cidadania negra”, defendida por alguns setores da sociedade brasileira, mas sim, pela real libertação de negros e de negras, no marco da luta de classes. Que esta é uma batalha que só pode ser travada com raça e classe.
Queremos uma Criciúma, uma Santa Catarina, um Brasil e um mundo contra o racismo!”.