A Vila União, no Norte da Ilha, embora seja pequena (cerca de 180 famílias) é uma das que mais sofre com a falta de investimento público e vive os resquícios da violência. Apenas um dos cinco equipamentos públicos da comunidade está em funcionado (a Creche Vila União). As outras unidades que deveriam ser utilizados para atividades de convivência, estão desativadas.
A barricada montada na única entrada da vila no ano passado, quando uma organização criminosa fez várias incursões com o intuito de tomar conta da comunidade, ainda se mantém de pé. Entre o Natal e o Reveillón, apenas cinco famílias permaneceram na vila. As outras, foram expulsas de suas casas pelos criminosos.
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Com a volta às aulas e após operações policiais, as famílias retomaram o território e retornaram para casa. O clima agora é de tranquilidade nas ruas. Crianças, jovens e adultos recuperam suas rotinas progressivamente. Só que a barricada não deve ser desmontada, pelo menos por enquanto. É que a comunidade ainda não se sente segurança o bastante para manter uma relação amigável com a polícia e o medo de que os criminosos voltem ainda assombra o sono dos moradores.
“Na páscoa, a comunidade fez uma festa para as crianças aqui no Centro Comunitário (mesmo estando abandonado). Fizemos uns comes e bebes e tinha uma cama elástica pra elas brincarem. No meio da tarde, a polícia entrou com tudo, atirando e correndo atrás de uns meninos aí. Acabou com a festa, ficou todo mundo apavorado”, contou uma moradora que prefere não ser identificada.
O comandante-geral da Polícia Militar, Araújo Gomes, alega que as pessoas não precisam ter medo da polícia e defende que a corporação tem o interesse em se aproximar da comunidade.
“Precisamos reduzir o domínio do tráfico sobre o espaço público para que possamos abrir caminho e a população confie em nós. Ela precisa acreditar que somos bem intencionados e estamos lá pra protegê-la e acreditar que não vamos embora, que ela pode investir nessa relação porque não vai ser abandonada”, prometeu Gomes.
Outra moradora, que também tem medo de dizer o nome, relatou que já sofreu com a violência da polícia, inclusive com uma coronhada na cabeça, durante uma abordagem. Ela tentou registrar boletim de ocorrência na delegacia, mas o policial que a atendeu não deu credibilidade à sua queixa. O mesmo ocorreu na corregedoria da Polícia Militar.
“Até hoje tenho a marca na minha cabeça. Como a gente vai denunciar? Quem tem coragem? Não dá, não tem como”, lamentou a mulher.
A reportagem do OCP News conversou com o atual secretário de Segurança Pública, Alceu de Oliveira Pinto Júnior, que assumiu a pasta em fevereiro deste ano, sobre os relatos da comunidade. O secretário, por sua vez, disse que as denúncias de desvio de conduta em abordagens policiais devem ser todas apuradas.
“Toda informação de procedimento executado de forma inadequada é apurada imediatamente. Podem procurar as instituições pública: a polícia, a Secretaria e o Ministério Público. A população não tem que ter medo da polícia, mas sim do criminoso, pois é sobre esse que não se tem controle”, afirmou Júnior.
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Sala de informática do Centro Comunitário está abandonada (Foto: Schirlei Alves)

Centro Comunitário está abandonado (Foto: Schirlei Alves)