Arte, mistério, magia! A gôndola segue lentamente pelo Grande Canal de Veneza. É assim desde que foi construído, em 1588! Estou vivendo um momento de profundo encantamento. Nem acredito que estou participando desse Cortejo Aquático, com esse vestido de seda lilás e púrpura, com todos esses detalhes dourados e pedrarias.
Essa máscara branca com apliques e plumas me faz reviver os tempos da Idade Média, quando tudo isso começou. Naquele tempo, os nobres usavam máscaras que garantiam o anonimato e permitiam que se misturassem ao povo, participando dos festejos sem preocupações. Tão conveniente, não é mesmo?…
Ah, lembrei! Foi inspirado nesses festejos que surgiram os artistas mambembes da “Commedia dell Arte”. Ali surgiu a Colombina, sempre às voltas com Arlequim e Pierrô… E os bailes de máscaras? Esses se perpetuam através dos séculos, são atemporais e seguem mantendo o glamour, em pleno século 21.
Observo que ao meu lado os outros mascarados também parecem ter encarnado bem os seus personagens. Altivos, garbosos e com uma certa melancolia, os homens transpiram nobreza e elegância. Com trajes mais coloridos, com tecidos brilhantes e modelagens exóticas, as mulheres transmitem ao mesmo tempo luxo e leveza. Misteriosas, reproduzem gestos graciosos, com um toque de romantismo.
Enquanto o gondoleiro conduzia a nossa gôndola de mascarados, senti que lágrimas de alegria corriam por debaixo da máscara veneziana. Esperei tanto por esse momento! Nem acredito que estou vivendo tudo isso!
A cidade está repleta de turistas. Enquanto nosso cortejo avança ao longo do canal, as pessoas nos aplaudem com olhares de admiração e sorrisos nos lábios.
Chegamos ao fim do percurso. O gondoleiro nos conduz ao deck. Um por um, desembarcamos com extremo cuidado. Além da segurança, é preciso cuidar para não sujar as fantasias… Por um momento, fico apreensiva. E se eu cair na água? E se manchar o vestido e for desclassificada do concurso? Mas nada disso aconteceu e respiro aliviada.
Pouco depois, nos dirigimos em cortejo para a Praça São Marcos e inicia o Desfile de Máscaras. Fico admirada. Incrível a criatividade, a originalidade e a inovação que constato ao passar os olhos pela Praça. Começamos a desfilar, me sinto acalorada e meu coração bate mais forte.
Ouço uma voz ao longe que me chama. O ambiente muda de repente. Começo a abrir os olhos e sinto que estou segurando a máscara veneziana branca que comprei na loja de fantasias. Agora ouço claramente a vizinha me chamar. Solto um longo suspiro e me levanto depressa. Guardo a máscara e me apresso para me dirigir ao salão de festas. Está na hora da reunião do condomínio.