Durante a última sessão ordinária da Câmara de Vereadores, nesta quinta-feira (16), a vereadora Sirley Schappo (Novo) trouxe à tona uma reclamação de centenas de candidatos reprovados no concurso público da Prefeitura de Jaraguá do Sul, realizado pelo Instituto Ânima Sociesc.
O concurso público estava organizado em três editais diferentes e teve início em 2019, mas foi suspenso por causa da pandemia. As provas práticas foram realizadas em setembro e a última etapa, a prova psicológica para os cargos que a exigiam, foi realizada em novembro.
No entanto, muitos candidatos dizem terem sido surpreendidos e manifestaram indignação com o número de pessoas reprovadas no exame psicológico.
Este foi o maior concurso da história de Jaraguá do Sul, com mais de 17 mil inscritos. A Prefeitura não divulgou os números, mas segundo informações disponíveis no site do instituto, em torno de 800 candidatos foram convocados para as provas psicológicas, a maioria para o cargo de professor. Cerca de 500 compareceram e aproximadamente 140 foram reprovados.
“Essa questão é muito estranha porque muitos deles já são professores da rede há anos como ACTs e são bons professores”, relatou a vereadora.
Uma das candidatas, que não quis ter a identidade revelada, contou que aguardam uma resposta sobre o caso.
“Como muitos, estou extremamente indignada e inconformada, acho um absurdo. Acredito que fui bem no teste de sequência lógica, não entendi o porquê de ser inapta”, diz.
A candidata também relata que a avaliação foi subjetiva, como se fosse um teste de personalidade e acrescenta dizendo que a prova parecia um quiz da internet.
“É inaceitável, tem professor que trabalha há mais de 15 anos na área e foram avaliados inaptos, outra professora que passou em primeiro lugar e já trabalha na área também foi considerada inapta. É tudo muito estranho”, complementa.
MP apura
A 6ª Promotoria de Justiça de Jaraguá do Sul foi acionada por um grupo de candidatos reprovados e instaurou uma notícia de fato. O Ministério Público, por sua vez, já notificou a Prefeitura de Jaraguá do Sul, que tem prazo de dez dias para apresentar os fatos e documentos.
O Município informou que a responsabilidade pelas provas é da empresa contratada, neste caso, o Instituto Ânima Sociesc, e que a Prefeitura não tem qualquer tipo de interferência sobre as questões aplicadas, mas que está providenciando a resposta ao MP e que pediu urgência ao instituto para que encaminhe as informações necessárias.
Os testes
Segundo o diretor de gestão de pessoas da Prefeitura, Alessandro Buozi Martins, a prova psicológica foi aplicada para os cargos de professor, cuidador social e motorista de caminhões pesados.
Alessandro afirmou que os testes eram rígidos porque são funções que lidam com vulneráveis, no caso de professor e cuidador, e que conduzem maquinário pesado e potencialmente perigoso, no caso de motorista.
“Estamos muito tranquilos quando a isso, porque ninguém inventou este teste querendo prejudicar alguém. O que queremos é contratar bons profissionais, esse é nosso intuito desde o começo. A prova escrita foi difícil, a prova psicológica eliminou sim. Mas faz parte do processo para identificar possíveis traços de personalidade ou desvios. […] Também não estamos sendo preconceituosos, mas precisamos medir o nível de agressividade, por exemplo, porque são pessoas que vão cuidar de crianças ou trabalhar em abrigo”, explica Alessandro.
Afastamentos
O servidor também afirma que outra preocupação do setor de recursos humanos do Município é sobre o alto número de atestados médicos e profissionais afastados por motivos psicológicos e psiquiátricos.
“São cerca de 2,5 mil atestados por mês, nem todos por questões psicológicas, mas muitos são”.
Subjetividade da prova
A questão relacionada à subjetividade da prova caberá ao instituto repassar as informações, pois envolve os aspectos da psicologia. Mas Alessandro sustenta que os testes aplicados seguem a devida metodologia científica e são certificados pelo conselho profissional.
“Cinquenta psicólogos aplicaram os testes. Entendo a frustração de quem não passou, mas isso é uma questão cientifica, psicológica. [….] A gente exigiu no edital, mas quem faz todo o concurso é o instituto, a gente apenas acompanha. Nós atendemos os candidatos, vereadores e imprensa para esclarecer, porque esta também é nossa função. Mas os candidatos poderão entrar com o recurso no tempo certo”.
Candidatos serão atendidos individualmente
Segundo Alessandro, o instituto abre a oportunidade para que o candidato faça o pedido no site para solicitar um encontro, presencial ou online, em que uma psicóloga vai explicar o motivo da reprovação.
Esse atendimento estava previsto para ocorrer neste fim de semana, mas como são centenas de candidatos e foram feitas muitas solicitações, por questões técnicas isso deve ser viabilizado somente no ano que vem.
“O candidato, não estando contente com essa explicação, pode pedir um laudo escrito da prova. Não estando convencido ainda, pode entrar com recurso, que vai ser avaliado e respondido. Se o recurso for indeferido, pode judicializar e caberá ao juiz decidir”.
Por fim, o diretor explica que há uma enorme demanda por profissionais, principalmente para os cargos de professor, médico e enfermeiro. “Estou com mais de mil ACTs, mas não posso desrespeitar etapas”, afirma.
*Com colaboração de Vinicios Ranzan.