Meio dia de sol quente. O mar está próximo, repleto de cultivo de mariscos e de pequenas embarcações de pesca predominantemente amarelas. Quintal de grama alta de uma igreja católica. É uma pequena festa comunitária, no sul do Chile, na Ilha de Chiloe, porta de entrada para a Patagônia Chilena. A Ilha de Chiloe é um reduto da criação de salmão, peixe que vive parte de sua vida em tanques de água doce e parte em águas salgadas.
Tem a barraca da cerveja em lata, a barraca do vinho bordô em garrafão e em copos de meio litro, a barraca dos doces de chocolate e strudel, – sinal que alemães passaram por aqui formando uma comunidade mais ao sul, no continente, a barraca do artesanato local: bonecas de pano e pequenas réplicas de embarcações, em madeira, envernizadas.
E claro, em festas desse tipo sempre têm alguns bêbados profissionais. Pediam por trocados para comprar vinho. Sob aquela lua escaldante, três homens começam a remover pedaços de terra com grama. Todos os participantes do evento rodeiam esses homens e os assistem em silêncio. Da terra removida sai fumaça. Não, não é um ritual religioso, trata-se de algo para comer.
Está para ser servido o “curanto”, comida que se prepara embaixo da terra. Do buraco vão sendo retiradas camadas de pedras escuras, vulcânicas (que retêm o calor), folhas similares ao do mamoeiro e alimentos; pedaços de carne de porco, bifes de gado, peito de frango, linguiças brancas, linguiças escuras, batatas, massinhas achatadas de trigo, iguais as de pão para ser assado, ervilhas verdes e muitas diferentes conchas com frutos do mar.
Tudo é deixado no buraco, por três horas, sem nenhum tempero. Mas tudo fica bem por efeito do calor das pedras, da fumaça, e dos aromas da própria terra. Nada de talheres para atacar o prato. É com as mãos mesmo que se come. Para acompanhar, vinho para sair mais alegre como o povo daqui, celebrando um dos raros dias de sol intenso nessas partes do Chile. Não se sabe a origem do “curanto”. Dizem ser das ilhas polinésias.