A Miastenia ou Miastenia Gravis é uma doença autoimune que atinge as chamadas junções neuromusculares – regiões espalhadas pelo corpo todo, onde os neurônios entram em contato com os músculos. São nesses locais que os estímulos nervosos efetivam as contrações musculares, através do transmissor acetilcolina.
De acordo com o neurologista, Dr. Vicente Caropreso, essa é uma doença autoimune de causa ainda desconhecida, que surge quando o sistema imunológico começa a produzir autoanticorpos, ou seja, anticorpos que de forma inapropriada vão atacar e destruir elementos e estruturas saudáveis do próprio organismo.
“Na miastenia gravis, o problema não ocorre na medula, e sim no ponto onde as fibras nervosas se conectam às fibras musculares – a junção neuromuscular, um pequeno espaço entre a terminação nervosa e a fibra muscular”, explica o especialista.
Casos no Brasil
No portal do Ministério da Saúde (MS), consta que a incidência de novos casos de Miastenia Gravis vai de um a nove para cada milhão de habitantes, enquanto o total de casos deve variar de 25 a 142 por milhão de pessoas.
Calculando a estimativa pelos números do próprio Ministério da Saúde, Dr. Vicente pontua que teríamos entre 5,2 mil a 29,7 mil miastênicos, porém, acredita-se que esse número está abaixo da realidade, já que também existem os casos que não são diagnosticados.
Como identificar?
O médico afirma que a principal característica da miastenia gravis é de fadiga muscular limitado a determinados grupamentos musculares, que pode ser flutuante, ou seja, com períodos de melhora alternados com fases de piora.
Mais de 50% dos pacientes apresentam sintomas oculares no início da doença, tendo a senda de ptose (queda da pálpebra) e a diplopia (visão dupla) como os mais comuns.
Além disso, cerca de 15% dos pacientes apresentam sintomas relacionados aos músculos da face e do pescoço, que incluem: disartria (dificuldade de articular palavras e frases), disfagia (dificuldade para engolir), falta de forças para mastigar e perda das expressões faciais.
Fraqueza do pescoço também é comum, fazendo com que o paciente tenha dificuldade de manter a cabeça erguida.
“O envolvimento dos músculos respiratórios produz os sintomas mais graves da miastenia gravis. A fraqueza muscular respiratória pode levar à insuficiência respiratória ou até parada respiratória, uma situação grave que é chamada de crise miastênica”, ressalta Dr. Vicente.
Ele destaca que o o diagnóstico é feito através do exame neurológico, e pode incluir o teste do gelo ou o teste do edrofônio, junto com exames complementares, como a dosagem de anticorpos no sangue e a eletroneuromiografia.
Como é feito o tratamento?
Tendo em vista que a doença pode se apresentar sob formas diferentes e com fases mais ou menos intensas. O neurologista pontua os tratamentos mais comuns.
- Inibidores da colinesterase: é um tratamento apenas sintomático, não tendo ação direta na evolução da doença. São medicamentos que aumentam o tempo da acetilcolina na junção neuromuscular, melhorando a capacidade e a força de contração muscular;
- Imunossupressores: são os tratamentos mais efetivos por agirem diretamente no sistema imunológico, inibindo a produção dos autoanticorpos;
- Timectomia: a remoção cirúrgica do timo (órgão do sistema imunológico que fica localizado na região superior do tórax e é responsável por boa parte da produção dos autoanticorpos da MG), costuma levar à melhora dos sintomas e até à cura em alguns casos, principalmente nos pacientes com timoma;
- Tratamento da crise miastênica: a crise é uma urgência médica que precisa ser tratada com fármacos que tenham ação rápida, porque a respiração pode ficar muito difícil. As duas modalidades de tratamento mais comuns são:
* Plasmaferese;
* Administração intravenosa de imunoglobulina.
Ele ainda frisa que com o tratamento adequado, a maioria dos indivíduos com MG costuma melhorar significativamente e consegue levar uma vida normal ou quase normal. “Alguns casos podem alcançar remissão temporária ou permanente, de modo que a medicação possa até ser interrompida”, diz Dr. Vicente.
Episódios de agravamento podem ser prevenidos
Segundo o médico, não há como prevenir a Miastenia Gravis, por ser uma doença de causa ainda desconhecida. Porém, quem sofre dessa doença, pode prevenir episódios de agravamento dos sintomas ou surtos seguindo algumas dicas:
- Dê a si mesmo muito descanso;
- Evite atividades extenuantes;
- Evite o calor e o frio excessivos;
- Evite o estresse emocional;
- Evite a exposição a qualquer tipo de infecção, inclusive resfriados e gripe, e mantenha a vacinação em dia;
- Trabalhe com seu médico para monitorar suas reações a medicamentos. Alguns remédios comumente receitados para outros problemas, como infecções, doenças cardíacas ou hipertensão, podem agravar a miastenia gravis. Você pode precisar escolher terapias alternativas ou evitar totalmente alguns medicamentos.
Sobre o especialista
O Dr. Vicente Caropreso (CRM-SC 3463 e RQE 618) atende no centro de Jaraguá do Sul. É médico neurologista desde 1983, voluntário da Apae de Jaraguá do Sul. É referência estadual dos Agravos Epidemiológicos Botulismo e Doença de Creutzfeld-Jacob (DCJ) e é médico honorário do Hospital e Maternidade São José.