O governo catarinense foi avisado no início de dezembro de 2020 sobre o risco de colapso no sistema de saúde devido à Covid-19.
Na época, autoridades sanitárias alertaram para o crescente número de infectados e de internações, e que isso iria refletir também nos óbitos
As informações são do Estado de São Paulo. Dois meses após o alerta, em meados de fevereiro, Santa Catarina atingiu o limite máximo de internações.
Nas últimas semanas, as mortes de pessoas na fila de internação tornou a crise ainda mais dramática.
Pacientes foram transferidos para outros Estados e mais leitos, anunciados. A demanda por oxigênio aumentou 2.000% e os estoques do chamado kit entubação operam com o mínimo.
“Com as UTIs já lotadas e com o tempo de internação médio superior a 15 dias, significa que quando os casos graves relacionados às confirmações dos últimos dias necessitarem de UTI, os leitos ainda estarão ocupados, levando ao colapso da assistência e consequentemente ao aumento do número de óbitos”, alertava o parecer do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde, Cievs, em 3 de dezembro de 2020.
O documento foi juntado em processo do Tribunal de Contas que avaliou as medidas empregadas pelo Estado para contenção da pandemia.
O caso foi julgado em 8 de março e cobra uma série de medidas, entre elas a adoção de lockdown por 14 dias, medidas financeiras para mitigar impactos e a inclusão de professores nos grupos prioritários de vacinação.
O governador foi notificado da decisão no dia 10 deste mês.
Ação por omissão
Na última quarta-feira, 10, o Ministério Público do Estado ingressou com ação por omissão do governo logo após o governador anunciar novo decreto que mantinha aberto bares, shoppings, academias e outros estabelecimentos considerados não essenciais.
O parecer previa uma projeção geométrica dos indicadores da doença em Santa Catarina e falava em “cenário preocupante” com os efeitos das aglomerações das festas de fim de ano, e cita como exemplo países da Europa que enfrentaram uma segunda onda da doença e adotaram lockdown como estratégia para frear a curva de contágio.
O alerta apontava para o crescimento de mortes, que dobrou de um mês para o outro.
“Dados preliminares do mês de novembro contabilizaram 644 óbitos, o dobro de óbitos registrados em outubro (320 óbitos). (…) Ao final do mês de setembro o Estado possuía 6.000 casos ativos e atualmente o registro é de 32 mil casos, incremento de cinco vezes”, diz o alerta.
O número de óbitos em novembro se confirmou em 705 registros. Em dezembro, foram 1.486 mortes. Já o número de pessoas com o coronavírus ativo ultrapassou 40 mil em março.
Santa Catarina registrou 8.502 mortes por covid-19 desde março de 2020 – 36,8 % dos óbitos ocorreram entre janeiro e março deste ano.
Os promotores de Justiça que apontam omissão do governo também sinalizam falta de transparência sobre os óbitos de pessoas que estão na fila de UTI, o que poderia caracterizar desassistência do Estado.
Governo é contra o lockdown
O governo catarinense tem resistido à ideia de adotar um isolamento mais rígido, principalmente ao uso do termo lockdown.
Em março de 2020, Carlos Moisés (PSL) foi um dos primeiros governadores a adotar medidas mais rígidas contra a pandemia, restringindo todo o serviço não essencial.
Nos meses seguintes, após envolvimento no escândalo da compra de respiradores da China pagos e nunca entregues, perdeu apoio político e popular.