Tenho uma história para contar, mas antes, você sabe, costumo dar umas voltas. E começo essas voltas dizendo que já ouvi incontáveis vezes alguém dizer que – Ah, meu avô, minha avó, agora é outra pessoa desde que entrou para a Internet e se envolveu com as redes sociais, diz que agora é feliz…!
Coitadas dessas pessoas. Num primeiro momento, sim, elas vão pensar que voltaram ao convívio humano, que têm amigos, que não estão mais sozinhas, solitárias, depressivas mesmo… Coitadas. Voltarão às suas habituais depressões, mas não vão intuir da razão. A razão é o isolamento “físico”, a ausência de corpos, de hálitos, de olhares, de mãos sobre o ombro, de risos “ao vivo”, de vida, enfim…
Agora conto a tal história falada lá em cima. Ouvi essa história de um professor de inglês, um americano. Ele contou de dois homens que tinham acabado de fechar um negócio, discutiram tudo o que precisava ser discutido, chegaram a um acordo ótimo para os dois lados, era, enfim, um belo negócios para ambos. Terminadas as discussões, os dois se levantam, ajeitaram as camisas para dentro das calças, trocaram sorriso e um deles estendeu a mão para o cumprimento final e o “selo” do grande negócio que acabaram de fechar, mas… Um deles não quis apertar a mão, não lhe era de hábito, não apertava mãos… O que ficou com a mão no ar, prostrou-se, caiu-lhe o queixo da surpresa e… voltou atrás, desfez o negócio que acabara de ser acertado. Ele não ia fazer negócio com um cara que não lhe apertava a mão, aí estava um alto sinal de desconfiança, afinal, apertar as mãos depois da celebração de um negócio é como pôr o selo numa carta… Tudo desfeito.
Por que o negócio desandou? Exatamente por isso, falta de confiança na esquiva do contato físico, a desconfiança que isso gera, afinal, negar-se a um aperto de mão é altamente constrangedor, significativo, há algo de errado, não é normal…
Vim até aqui para dizer que as pessoas que pensam ter saído de suas vidas solitárias, de suas depressões depois da descoberta das redes sociais, enganam-se. A sensação de solicitude, de desamparo, de isolamento acaba sendo fortemente vivida pelo inconsciente. A pessoa não atina das razões de suas depressões, a razão vem do isolamento, é como ter namorada/o e não poder beijar, é como celebrar um negócio e não ter mão a apertar, é… solidão do mais alto grau, posto que com milhares de “amigos virtuais”, sinônimo de nenhum. Precisamos dos outros, corpo a corpo…
Vida
Você já passou os olhos aí por cima? Então, vai ficar mais claro o que vou dizer agora: Não é que não devamos entrar em redes sociais, caso dos mais velhos, mas é não colocar toda a vida social nessas redes e contatos. Precisamos de mais, precisamos de ar para respirar, o ar alheio, outras pessoas por perto. Vem daí a necessidade de entrarmos, outra vez, ou num trabalho qualquer ou num voluntariado. A vida precisa ter sentidos, não há sentidos nas redes sociais…
Falta dizer
Grande Encontro Nacional de Blogueiros, em São Paulo. Ginásio lotado… Ué, vivem dizendo que hoje é tudo pela Internet, pelos blogues, por que não fizeram o encontro por via virtual? Trouxas.