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Entrevista especial: “Temos que fazer com que o povo sinta vontade de pagar o imposto”, defende Chiodini

Foto Eduardo Montecino/OCP

Por: Elissandro Sutil

20/12/2017 - 05:12 - Atualizada em: 21/12/2017 - 07:13

Luís Antônio Chiodini (PP) é o segundo entrevistado da série especial do OCP de balanço do ano com os prefeitos da região. Formado em educação física e mestrado em gestão pública, o pepista tem conseguido algo há pouco tempo impensável em Guaramirim, quebrar a série histórica de rivalidade política que ultrapassava a racionalidade. Quem não se lembra de episódios de prefeito queimando a cadeira do antecessor, ou de brigas que quase chegaram a vias de fato?

Manter a boa relação com a Câmara, “respeitando a independência entre os poderes”, é, inclusive, uma das prioridades para 2018. No campo do desafio, aumentar a capacidade de investimento, hoje em torno de apenas 1%, é uma necessidade latente. Chiodini aposta na obtenção de recursos para realizar obras e prevê como alternativa um projeto que ainda será analisado pelo Tribunal de Contas do Estado; o objetivo é conseguir autorização para financiar diretamente com as empresas vencedoras de licitação.

Assim como aconteceu em Jaraguá do Sul, Guaramirim também deve atualizar a planta de valores dos imóveis e, em consequência, aumentar a cobrança de IPTU.  As dívidas já começaram a ser protestadas. O professor, como gosta de ser chamado, diz que o IPTU é uma fonte importante de receita e que fará algo dentro da realidade dos contribuintes. Para ele, é preciso fazer o povo sentir vontade de pagar os impostos, mostrando a cidade limpa e bem administrada.

 

O ano foi como o senhor previa? Qual o balanço?

Eu gostaria de dizer que foi um ano maravilhoso, em determinadas circunstâncias foi, mas foi de muito trabalho para todos. Implantamos um novo modelo de gestão, mais profissionalismo, o comportamento dos servidores no atendimento, a consciência de que aqui a gente não presta favor, a gente é empregado. O munícipio paga por isso. Outra coisa que a gente conseguiu, talvez o mais positivo, foi fazer a população voltar a ter amor pela cidade, de dizer com orgulho que é de Guaramirim, de querer passear na cidade, de fazer compra, de ajudar a cuidar.

 

“Outra coisa que a gente conseguiu, talvez o mais positivo,
foi fazer a população voltar a ter amor pela cidade”.

 

O senhor acredita que no primeiro ano conseguiu isso?

A gente conseguiu recuperar sim. Dá para medir isso nas redes sociais, nas conversas que temos. Dividimos a cidade em um quadrante para ter todos os bairros atingidos pela limpeza. Começa pelo simples fato de limpar, pintar o meio fio, de arrumar a pavimentação que estava solta. Isso gera custos, mas com pouco investimento que nós temos conseguimos atingir 90% dos bairros. Isso mostra que o imposto que o cidadão paga é para investimentos em toda cidade. O momento não é fácil. Nós tivemos uma crescente na arrecadação no início do ano, mas depois teve queda. Mesmo assim conseguimos iluminar a cidade, fizemos pavimentações no Avaí, Recanto Feliz, Vila Freitas, Guamiranga, Rio Branco, no Centro. Fizemos ponte no Poço Grande, João Pessoa, Jacu-Açu. Temos que fazer com que o povo sinta vontade pagar o imposto.

A economia tem sido uma preocupação constante. Como o município fechará o ano?

Nós vamos terminar o ano no positivo. Vamos terminar dezembro colocando no mercado e no comércio da cidade, eu espero, R$ 10 milhões, com o pagamento de vale refeição, férias, o salário de dezembro para que o funcionário que sai para viajar possa ir tranquilo. Mandei uma cartinha para cada funcionário agradecendo pelo trabalho e empenho e solicitando que o presente do filho, da sogra, sogro, cunhado, seja comprado aqui. O ano foi bom, estamos com a folha de pagamento em 49%.

 

“Mandei uma cartinha para cada funcionário agradecendo pelo trabalho e
empenho e solicitando que o presente do filho, da sogra, sogro, cunhado, seja comprado aqui.”

 

Quando o senhor assumiu qual era o índice de comprometimento com a folha?

Quase 53%. E mesmo com o reajuste que demos, de 4,61%, mais R$ 50 no vale refeição e o parcelamento dos 4% que tinham ficado pendente do governo anterior, o índice caiu. Queremos chegar a 46%. Lembra que anunciei para você no início do ano que a gente ia ter somente quatro secretários (hoje são oito), que ia reduzir salários mudando nomenclaturas dos cargos de confiança, que iria extinguir a chefia de gabinete e o planejamento estratégico, nós tínhamos comissionados que custavam R$ 7 mil e hoje custam R$ 3,5 mil. A economia com essas mudanças girou em torno de R$ 1,2 milhão nesse ano.

 

Algumas vezes as suas decisões tem ido na contramão da política pregada atualmente, da necessidade de diminuir o comprometimento com a folha, pensar no futuro das finanças públicas com mais austeridade, aumentar a capacidade de investimento.

A tendência hoje é o modelo privatista, tenho estudado isso desde o mestrado. A nossa região está atrasada nesse sentido. Eu defendo a terceirização em alguns setores, mas o objetivo maior do setor público deve ser o bom atendimento à população, esse é o foco. Eu não dou nenhum aumento aos servidores sem falar com o secretário de Administração, Controladoria, Planejamento, sem antes olhar os números. Também sei que nós precisamos aumentar receita para pagar o funcionalismo e para poder investir.

 

“Eu não dou nenhum aumento aos servidores sem falar com o secretário
de Administração, Controladoria, Planejamento, sem antes olhar os números.”

 

Qual a capacidade de investimento do município hoje?

Hoje em torno de 1%.

É pouco não?

É pouco. É dinheiro para manutenção das vias, tubos, remédios adquiridos, que não têm convênio. Além dessa diminuição do comprometimento com a folha que já conseguimos, temos buscado recursos fora, conseguimos agora R$ 1 milhão só para subvenção da saúde, para folha ou remédio. Recurso tem, é preciso buscar e eu tenho feito bastante isso. Em função disso, às vezes, não consigo atender o cidadão como eu gostaria. Tenho mantido parceria com os deputados Mauro Mariani (PMDB), Esperidião Amin (PP), Marco Tebaldi (PSDB), Geovania de Sá (PSDB), Carlos Chiodini (PMDB), Darci de Matos (PSD), Vicente Caropreso (PSDB), parlamentares de diversos partidos.

 

Essa sua relação com diversos partidos acontece também com os vereadores. O senhor não sofreu aquela oposição tradicional, que costumava ser ainda mais irracional em Guaramirim. Acredita que isso vai continuar?

Torço que sim. Desde o início eu preguei a paz. Houve certo transtorno entre PP e PMDB no início, eram siglas adversárias. Mas eu sempre preguei o respeito e fui respeitado. Tento me manter fora da velha política, de bate bocas improdutivos. O líder de governo é tratado da mesma maneira que qualquer outro vereador. Se você for analisar, o governo recebeu mais críticas de vereador de base, do PSDB, em relação á saúde, do que da oposição. Acho que continua assim porque o respeito é recíproco. O governo dá resposta às indicações, isso não ocorria.  Atendemos solicitações de todos os vereadores na medida do possível. Fui vereador, sei que a comunidade cobra do vereador e é o vereador quem abre portas com os deputados.

 

O governo deve fazer algumas reformas a exemplo do que acontece em Jaraguá do Sul?

Começamos a protestar as dívidas há alguns dias, temos R$ 1,6 milhão em dívida ativa, vamos atualizar a planta de valores dos imóveis, o que deve gerar um aumento de R$ 2 milhões na arrecadação, conseguimos cobrar o ISS e vamos analisar Cosip.  Vamos cuidar para fazer algo que caiba no bolso dos contribuintes. O IPTU é uma fonte de receita importantíssima, é dinheiro que fica na cidade.  A luta contra a burocracia, ou ‘burrocracia’, é constante.  Um exemplo é que desde março estamos em processo de licitação para trocar a iluminação por lâmpadas LED e só agora que conseguimos terminar em função de impugnações, protestos, tudo trava e quem sofre é o povo, imagina numa licitação de remédio.

 

“O IPTU é uma fonte de receita
importantíssima, é dinheiro que fica na cidade.”

 

Na saúde, quais são as prioridades?

No início do ano teremos dois novos postos funcionando. Um no Guamiranga e outro no Centro, que vai se unir a do Imigrantes, com uma estrutura mais adequada para população. No Bananal vamos fazer o máximo para abrir outro posto. Queremos que a Organização Social escolhida assuma a gestão do Hospital Santo Antônio, para gente conseguir de 20% a 30% atender pelo plano e particular para ter recurso para investir. Investimos no hospital R$ 1 milhão ao mês e estamos apenas com 20% da capacidade sendo utilizada. Voltamos a fazer cirurgias lentamente, mas temos dificuldades, o SUS está há 12 anos sem atualizar tabela. Mudar a gestão é a prioridade número um, as outras melhorias passam por isso.  Temos 50 quartos, às vezes, só cinco quartos estão sendo usados.

Há plano de reabrir a maternidade?

É um sonho, mas só a maternidade custa de R$ 350 mil a R$ 400 mil ao mês. E outra, se tem maternidade, tem que ter UTI neonatal, como eu vou viver o resto da minha vida se alguma criança vier a falecer por uma decisão minha? Não posso fazer isso.

A falta de vagas nas creches continua sendo um problema. Há alguma previsão para diminuir a fila?

Temos um déficit de 480 crianças. Estamos abrindo agora uma creche na Figueirinha, são 40 novas vagas. Vamos construir uma nova sede para Secretaria de Educação e para Feliz Idade e onde é a sede atual vamos transformar em uma grande creche no Centro.

 

“Vamos construir uma nova sede para Secretaria de
Educação e para Feliz Idade e onde é a sede atual vamos
transformar em uma grande creche no Centro.”

 

Não há previsão de compra de vagas em creches privadas?

Nós estamos discutindo. O problema é que de repente acontece outra crise e a primeira coisa que o prefeito vai pensar é cortar contratos. Nós só precisamos estrutura física, servidores são poucos. Queremos até 2020 atender essa demanda. Mas algumas vagas devemos comprar.

 

O seu projeto, que envolve a revitalização do calçadão e a retirada de algumas vagas de estacionamento, gerou reação contrária de alguns comerciantes. O que o governo fará?

Temos que entender que carro não faz compra. Hoje o estacionamento do centro tem uso mais particular do que comercial. Temos 150 vagas atualmente, no modelo novo serão 107, perderemos algumas, mas, em contrapartida, ganhamos uma ciclovia. Já nos reunimos e vamos voltar a nos reunir com os comerciantes. Podemos fazer algumas alterações, mas vamos ter a ciclovia.

 

“Temos que entender que carro não faz compra. Hoje o estacionamento
do centro tem uso mais particular do que comercial.”

 

Esse projeto e outros que o senhor tem dependem de recursos e às vezes é muito difícil conseguir recurso em ano eleitoral, é fácil conseguir promessa. O governo estuda alternativas caso o dinheiro não venha?

Estamos motivados com esses recursos. Através do Avançar Cidades são cerca de R$ 15 milhões, só falta o sinal verde. Estamos um passo a frente em todas as etapas, temos já aprovação de endividamento. Esse dinheiro inclui a ciclovia do Avaí ao Centro, pavimentações diversas como no Bananal, Atanásio Rosa, tudo tem projeto executivo pronto.  Também temos engatilhada verba do Badesc e estamos para enviar um projeto ao Tribunal de Contas para conseguirmos financiar direto com a empresa que vai fazer a obra, com a licitação prevendo isso. E estamos economizando e reformando algumas questões para ter recurso próprio para algumas melhorias. Não preciso inaugurar todas as obras, quero fazer minha parte para melhorar a cidade em longo prazo.

Irá mudar o secretariado antes do fim do ano?

Estamos conversando, isso é sempre delicado, cria especulação, mas vai ocorrer, pelo menos em duas das oito pastas. Não vou te dizer quem são, uma é por motivos pessoais (a Saúde). Tenho um conselho político que me auxilia nesse diagnóstico.

 

Quais as suas principais metas para 2018?

Vou rever alguns pontos da estrutura município. Me sinto feliz com o que fizemos, mas queremos manter e aumentar o ritmo. Nesse verão não vai ter meio período na Prefeitura, é horário integral. No dia 2 de janeiro já teremos plantão no financeiro, no dia 10 volta plantão em todas as secretarias.   Queremos ter sucesso, tirar do papel os projetos, mais obras,  melhorias na saúde, aumentar o leque consultas, de procedimentos, cirurgias.  Digo que não posso viver diferente do que a população vive porque não saberia a realidade que ela enfrenta. E assim quero continuar. Manter a parceria com a Câmara, com respeito à independência, também é prioridade. Deveria ser assim sempre.

 

“Digo que não posso viver diferente do que a população vive
porque não saberia a realidade que ela enfrenta. E assim quero continuar.”

 

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP