Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Deputados analisam repasse de recursos aos poderes de SC

Deputados da Comissão de Finanças vão analisar parecer | Foto Divulgação/Alesc

Por: Ewaldo Willerding Neto

11/06/2019 - 07:06

Os deputados que integram a Comissão de Finanças da Assembleia Legislativa analisam, em sessão extraordinária nesta terça-feira (11), o parecer do relator Marcos Vieira (PSDB), contrário à redução do duodécimo proposto pelo Governador Carlos Moisés da Silva (PSL). Após a votação, o relatório será encaminhado ao presidente Julio Garcia (PSD), que terá até 16 julho para colocá-lo em votação no Plenário.

O duodécimo é o repasse de recursos que o Executivo faz a Legislativo, Judiciário, Tribunal de Contas, Ministério Público Estadual e, também, à Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc). De acordo com a previsão constitucional, o governo deve transferir 21,88% ao ano da receita estadual.

Carlos Moisés, ao encaminhar a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) – que é o orçamento do Estado para 2020 – para a Alesc propôs a redução para 19,69%. Nas contas do governo, isto permitiria uma economia de R$ 400 milhões ao ano ao Executivo, que poderia, segundo o governador, usar os recursos em outras áreas.

Governador apresentou LDO com redução nos repasses | Foto Julio Cavalheiro/SECOM

“Tradicionalmente sobra dinheiro destes poderes no final do ano, ou seja, essa redução não inviabilizaria os demais poderes”, argumenta o Governador. “Além disto, com a redução, o governo não precisaria mais ficar de pires na mão pedindo a devolução do dinheiro”, complementa.

O parecer a ser votado nesta terça-feira, no entanto, é contrário à redução. Para sustentá-lo, o Deputado Marcos Vieira ouviu os órgãos a serem afetados. O TJSC, por exemplo, sustenta que a redução poderia representar o fechamento de grupos de repressão ao crime organizado, o Gaeco, além de 63 promotorias de Justiça.

Nesta segunda-feira (10), o Governador reforçou o pedido para que os deputados aprovem a redução, em entrevista coletiva na sede da Acif, em Florianópolis – quando mais uma vez recebeu o apoio dos empresários da Capital.

Logo em seguida, a Alesc emitiu nota, com o apoio da Federação Catarinense dos Município (Fecam) contrário à redução.

Parecer do Deputado Marcos Vieira é contrário á redução | Foto Luca Gebara / Agência AL

Leia a nota da Alesc/Fecam

NOTA PÚBLICA

O Tribunal de Justiça, o Ministério Público, o Tribunal de Contas, a Federação Catarinense de Municípios – FECAM e a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC vêm a público, conjuntamente por meio da presente nota, prestar alguns esclarecimentos que consideram pertinentes e necessários sobre a proposta do Poder Executivo de modificar os atuais critérios das repartições de receitas (duodécimos) em Santa Catarina.

Todos os órgãos estatais autônomos e municípios, por seus gestores, têm plena consciência da boa vontade do atual governo em querer encontrar meios para superar os quadros históricos de endividamento e de desobediência ao limite de alerta da Lei de Responsabilidade Fiscal, que, por certo, constituem relevante fator para a falta de recursos para a saúde, educação, segurança e outras ações públicas.

A questão é que, ao contrário do que se pode pensar, a tomada de fatia das receitas de outros poderes e entes, por um lado, nem de longe será capaz de equacionar o crônico descontrole das contas do Executivo e, por outro, caso implementada certamente trará sensíveis e catastróficos impactos em outras atividades essenciais prestadas à população catarinense, que em última análise será a maior prejudicada.

De acordo com o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2020 apresentado ao parlamento, o governo do Estado almeja reduzir em cerca de 10% os repasses que hoje são destinados a todos os demais entes com autonomia financeira. Com isso, em caso de aprovação, a proporção de tudo o que é destinado para Poder Judiciário, ALESC, Ministério Público, TCE e UDESC será reduzida de 21,88 para 19,69% da receita líquida disponível do Estado. No mesmo projeto, também se pretende a modificação do conceito de Receita Líquida Disponível – RLD, que é a base do repasse aos poderes, órgãos e municípios catarinenses, permitindo sua redução por meio de decreto do Poder Executivo, em prejuízo à segurança jurídica e estabilidade orçamentária dos entes. Além disso, por meio da desvinculação de receitas tributárias sem registro na fonte do repasse, os poderes, órgãos e municípios catarinenses poderão sofrer perda adicional de até 30% em seus orçamentos. Não fosse o bastante, projeto distinto do Executivo busca criar, ainda, um fundo que, sob a bandeira de concessão de incentivos fiscais de ICMS, igualmente tende a prejudicar as finanças não somente dos demais poderes e entes como, também, de todos os municípios catarinenses ao excluir receitas das repartições constitucionais.

Se para o Executivo esse volume de recursos nem sequer o colocará abaixo do limite de alerta da LRF, para os demais, cujas receitas são significativamente menores, as perdas os deixarão com os respectivos orçamentos colapsados, conquanto TJSC, MPSC, TCE e UDESC sempre tenham sido cuidadosos e meticulosos no controle de gastos – além de, com certa frequência, inclusive promoverem ações em prol de atividades estatais típicas do Poder Executivo. O mesmo ocorrerá com grande parte dos municípios catarinenses, os quais têm nos repasses a principal e indispensável fonte de recursos para a prestação de serviços básicos à população.

A maior função do Estado é melhorar a qualidade de vida das pessoas: mais saúde, mais educação, mais segurança, um ambiente mais saudável e equilibrado. A divisão de poderes e o pacto federativo pressupõem a distribuição das funções estatais sem perder de vista esses objetivos comuns. 

Nenhum poder ou órgão do Estado detém o monopólio da prestação de serviços públicos ao cidadão catarinense; pelo contrário, é da essência da democracia a pluralidade de atores que executam atividades específicas e exercem controle sobre outros órgãos públicos. O resultado do Estado de Santa Catarina, medido por meio de seus indicadores sociais e econômicos, é comum, compartilhado entre todos os integrantes do aparato estatal. Essa é a razão de ser do duodécimo: a divisão dos recursos do Estado para que todos os entes que partilham a responsabilidade consigam produzir os resultados necessários em benefício da população catarinense.

Acredita-se que o bom senso haverá de prevalecer nas discussões que se seguirão na Assembleia Legislativa nesses próximos dias, com a esperança de que assuntos relevantes como o ora tratado sejam precedidos de aprofundados estudos e amplo diálogo entre as instituições e a opinião pública de modo transparente e responsável, reconhecendo-se a importância de cada um dos envolvidos na construção de um Estado de referência, que se consolida cada vez mais como um exemplo para o nosso País.

Rodrigo Collaço, Presidente do Tribunal de Justiça

Fernando da Silva Comin, Procurador-Geral de Justiça

Adircélio de Moraes Ferreira Júnior, Presidente do Tribunal de Contas

Joares Carlos Ponticelli, Presidente da FECAM

Marcus Tomasi Reitor, da UDESC

 

Quer receber as notícias no WhatsApp?

 

Clique aqui e receba as notícias no WhatsApp

Whatsapp

Ewaldo Willerding Neto

Jornalista formado pela UFSC com 30 anos de atuação.