Haitiano busca nas aulas de francês uma forma sustentar a família em Jaraguá do Sul

Louis saiu do Haiti buscando melhores oportunidades para a família. | Foto: Eduardo Montecino/OCP News

Por: Guilherme Mélo

24/05/2019 - 05:05

Encontrar espaço no mercado de trabalho local tem sido um dos grandes desafios para os imigrantes haitianos. Até mesmo para quem está há um bom tempo em Jaraguá do Sul, chances para demonstrar habilidades e capacidades são raras.

Fugindo da pobreza e buscando oportunidades melhores para a família após o terremoto que destruiu o Haiti, François Louis, 40 anos, deixou a terra natal em 2013 para vir para o Brasil. As barreiras foram muitas.

“A gente se adapta, mas o problema é que não conseguimos encaixar num emprego facilmente, tem que lutar bastante antes que Deus abra a porta para a gente”, lamenta o haitiano.

Demitido de uma empresa têxtil em janeiro desde ano, Louis buscou no francês, um de seus idiomas nativos, a oportunidade para garantir a renda de sua família.

“Eu tinha planos de dar aula de francês faz tempo, mas como não consegui uma sala para a começar fiquei com esse projeto parado”, conta ele.

Ainda com poucos alunos, Louis espera aumentar quantidade de aulas | Foto Eduardo Montecino/OCP News

A oportunidade surgiu com uma escola de línguas, que buscava um professor e chegou até Louis.

“Sentamos, conversamos e resolvemos tentar. Ainda tenho poucos alunos mas começamos há pouco tempo”, diz o agora professor.

Falta de confiança e reconhecimento é dificuldade

Ensinar não tem sido difícil para Louis, já que ele ainda se apropria do domínio da língua portuguesa. Ele procura passar seu conhecimento de forma gradual para os alunos.

Para Louis, a maior dificuldade que enfrenta no Brasil é a falta de confiança do povo em relação aos haitianos. A maioria dos imigrantes vindos do país possui curso superior, mas é reconhecido.

“A maior parte dos haitianos que estão no país tem conhecimento, ensino superior. Estudaram engenharia, direito, só que as pessoas pensam que a gente não tem nada de conhecimento” lamenta.

Para ensinar, o haitiano precisa superar as barreiras com o português | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Ele era estudante de engenharia florestal na República Dominicana, quando o terremoto em 2010 o forçou a sair do país, faltando ainda um ano para o fim do curso.

Vontade de ficar

Se entre 2015 e 2016 cerca de 600 haitianos viviam na cidade, com a crise que abateu o Brasil e as demissões, muitos foram embora. De acordo com Louis, hoje são cerca de 100 morando em Jaraguá do Sul.

Pensando na família, ele diz que não tem a intenção de sair da cidade, mas no futuro, caso as alternativas não deem certo, a mudança não é descartada. Mas no momento ele continua resiliente.

“Como a gente está em família é bem difícil ficar correndo daqui pra lá. Assim pode ficar fazendo isso o resto da vida, correndo daqui pra lá sem resolver nada”, finaliza.

 

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