Há cerca de uma semana dois vídeos de uma mãe de Joinville vem repercutindo e sendo bastante compartilhados nas redes sociais. O material foi gravado pela dona de casa Elisabete Bárbara Reinbold Rowoldt, 50 anos. Ela é mãe e cria sozinha Bianca Cristina Rowoldt, 29 anos, mais conhecida como Bibi. A menina tem deficiência intelectual, é autista, e depende completamente dos cuidados da mãe e dos professores da Apae de Joinville para sobreviver.
No vídeo, Elisabete Bárbara destaca a importância dos professores e pedagogos da Apae para o desenvolvimento das crianças e adultos especiais. O material foi gravado em tom de desabafo depois que a Fundação Catarinense de Educação Especial decidiu atrasar o calendário escolar das 194 Apaes de Santa Catarina em quase um mês.
Ao invés de iniciar as atividades nas unidades de educação especial junto a Rede Estadual de Educação, no dia 11 de fevereiro, a entidade vinculada ao Governo do Estado de Santa Catarina, queria começar o ano letivo em março.
A medida foi vista com muita preocupação tantos para os pais quanto para os professores. Nesta sexta-feira (1), Elisabete Bárbara contou o porquê à reportagem da Rede OCP News.
“Minha filha tem idade mental de uma criança de um ano. Ou seja, precisa de cuidados o tempo todo. Na Apae eles conseguem dar um suporte maravilhoso, tanto para ela, quanto para a família. Minha menina não era para andar, mas graças ao trabalho realizado na Apae ela começou a andar com cinco anos”, contou.
A mãe da garota enfatiza que o atendimento da instituição para com a pessoa com deficiência é fundamental e fica prejudicado nas férias.
“É um processo evolutivo diário. Esta construção fica bastante prejudicada no período de férias. Os excepcionais saem daquela rotina diária e isso afeta o desenvolvimento. A falta destas atividades é visível. Estamos sem este trabalho desde o dia 12 de dezembro, e nas vésperas de voltar, nos avisam que vai demorar mais um mês. Isto é um descaso com as pessoas com deficiência”, pontua a mãe da Bibi que não esperava tanta repercussão do vídeo.
MPSC
Na sexta-feira (25) elas, juntamente com mais pais e professores da Apae de Joinville, foram até o Ministério Público de Santa Catarina, relatar o caso e pedir uma intervenção. Outro medo dos pais é que o governo substitua os professores pedagogos contratados no regime ACTs por cuidadores.
“A principal função da Apae é educar. Sem os professores a instituição perde o foco”, comenta a pedagoga e educadora especial Dione Donilia Testone, 53 anos.
Há 12 anos ela atua na Apae de Joinville e também não aprova a mudança no calendário.
“Ao que nos parece esta mudança chega com uma ferramenta de redução de gastos do Estado. Querem fazer isso em cima dos direitos da pessoa com deficiência. Todos os dias recebo ligações de pais e alunos da Apae que querem voltar logo as atividades rotineiras. Este período de férias prolongado é muito ruim para o desenvolvimento dos excepcionais”, acrescenta.
Entenda o problema
Hoje Santa Catarina tem 194 Apaes. Só em Joinville, a maior instituição, conta com 380 alunos. Além disso a entidade faz outros atendimentos fora do turno escolar com as pessoas com deficiência. Parte dos profissionais das Apaes em Santa Catarina são servidores do Governo do Estado, mas há também professores ACTs (os temporários).
Toda esta gestão é realizada pela Fundação Catarinense de Educação Especial, que, de acordo com a presidente da Federação das Apaes de Santa Catarina, Lorena Starke Schmidt, teve alguns problemas com a renovação de contratos.
“Parece que o processo de renovação dos professores temporários atrasou, por isso a mudança no calendário. Nós da Federação pontuamos o quanto é preocupante deixar estes alunos mais um mês longe das Apaes. Por isso, buscamos o diálogo com a Fundação. Nesta quinta-feira (31) conseguimos entrar em um consenso e antecipar o início das aulas das Apaes para o dia 27 de fevereiro. Não é o ideal, mas foi o meio termo encontrado”, explicou.
No próximo dia 4, em Joinville, haverá a seleção das escolhas de vagas dos professores ACTs, na Gerência Regional de Educação. Professores e pais de alunos da Apae devem fazer manifestação no local cobrando mais celeridade e atenção aos diretos dos excepcionais.
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