O nome da Rock Total já deveria ser outro há muito tempo. Centro de Formação de Roqueiros de Joinville seria mais correto. Porque, se olharmos para trás, agora que a mais tradicional loja de artigos de rock da cidade completa 30 anos, é possível ver claramente o quanto ela influenciou na construção do conteúdo musical de uma ou duas gerações de joinvilenses. Para muitos deles, um oráculo, um banco de dados, um obelisco ao deus Guitarra.
Como Jaime Leandro é notoriamente avesso a entrevistas, a missão de contar a história do estabelecimento fica para a esposa e coproprietária, Goreti. Ela começou em 1984, quando Jaime deixou a lavoura em Vidal Ramos para trabalhar na fundição da Wetzel. Gostava de rock, mas não era exatamente um estudioso do gênero.
Já morando na casa de Goreti, ele ouviu uma proposta do cunhado, que achara uma sala vazia no final da rua Henrique Meyer, bem próxima à Livraria O Sebo. Bom ponto para abrir uma loja voltada para o rock (foto abaixo). Jaime entrou de sócio e assim nasceu a Rock Story, cujo contrato foi oficialmente lavrado em 24 de novembro de 1988.
A sociedade, porém, durou apenas nove meses. Goreti tomou o lugar do irmão nela, e aproveitou-se para mudar o nome da loja para Rock Total. Era a Meca dos fãs de heavy metal em Joinville, que iam em busca de discos, acessórios e, principalmente, camisetas. Aliás, até hoje as “peitas” seguem como carro-chefe das vendas.
Passados cinco anos, a loja começou a ficar pequena, e por um motivo: a chegada avassaladora do CD. Já não havia espaço para tantos pedidos, que tinham uma segunda razão de ser: a gravação de fitas cassete. Montes delas.
“O Jaime ficava até as duas, três horas da manhã gravando fitas”, recorda Goreti.
A sorte sorriu, no entanto. Exatamente ao lado da loja foi erguido um pequeno prédio comercial, que teve a Rock Total como primeiro inquilino, em 1993. Se vivia então o estouro do grunge, que Goreti lembra como o auge das vendas, principalmente em termos de vestuário.
“Era Nirvana, Pearl Jam, calça xadrez, camiseta xadrez. O Jaime trazia fardos de tecido, e a costureira não dava conta”, afirma.
Mas nem só de oferecer produtos vivia a loja. Havia um “serviço comunitário” envolvido, pois quem não lembra do quadro de anúncios, coberto de bilhetes de gente a fim de montar uma banda, oferecendo aulas ou vendendo instrumentos? É de se imaginar quantos músicos iniciantes encontraram um caminho graças aquele quadro.
“Até hoje o pessoal pergunta, achando que ainda tem. Era todo dia alguém colocando anúncio”, diz Goreti, ressaltando que a loja também organizava excursões para shows no Curupira, em Guaramirim, e para eventos especiais, como o Ratos de Porão (João Gordo com Jaime na foto abaixo) em Brusque e os Ramones em Balneário Camboriú.
É essa troca, essa sensação de fraternidade, que Goreti sente falta hoje. Os encontros na loja, as longas conversas, a consequente esticada para o bar, isso tudo ficou no passado. Mesmo assim – e mesmo com as oscilações do rock no gosto do público -, a Rock Total segue como referência para muitos roqueiros locais.
“A gente já passou por muitas crises, mas sempre conseguimos nos manter”, completa Goreti.