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Dia do Índio: Aldeia Tiaraju não tem motivos para comemorar

Por: Elissandro Sutil

19/04/2018 - 10:04 - Atualizada em: 20/04/2018 - 08:39

“Essa história não é contada na escola, os não índios não sabem o que aconteceu e o porquê não consideramos o dia 19 o Dia do Índio. Pelo contrário, esse é um dia muito triste pra gente”. Quem diz isso tem propriedade para falar e sente até hoje as marcas de um massacre que atingiu e continua atingindo seu povo.

O cacique da Aldeia Tiaraju, Ronaldo Costa, assim como todo o povo indígena, não irá comemorar nesta quinta-feira (19). Embora o calendário “branco” descreva a data como sendo o Dia do Índio, a simbologia é história para os índios e uma história de dor e sofrimento.

Conforme conta Ronaldo, o conteúdo repassado exaustivamente às crianças na escola não passa nem perto de ser fiel ao que aconteceu.

“Aconteceu há muito tempo e não é motivo de comemoração. Foi um massacre planejado com dias de antecedência, quando começaram a caminhar para chegar ao Brasil e matar os índios. É por isso que a gente não comemora, é um dia muito triste pra gente, uma coisa que faz a gente sofrer bastante”, ressalta o Cacique a respeito do período de colonização do Brasil.

Conhecer a história para poder lutar

Hoje, a Aldeia Tiaraju, às margens da BR-280, entre Guaramirim e Araquari, se prepara para uma celebração diferente: um momento de reflexão justamente para que a história do povo indígena não seja esquecida.

“Sofremos muito, mas precisamos sempre lembrar o que aconteceu e de como nosso povo foi massacrado. Por causa disso, a gente não comemora. Concentramos todos dentro da casa de reza para nos fortalecer, fortalecer a paz espiritual e contar para as crianças o que aconteceu”, diz.

Foto: Eduardo Montecino/OCP

Responsável pela educação das crianças, a professora e coordenadora Cecília Brizola chama a atenção para a importância de renovação da comunidade que, para ela, precisa conhecer a sua história para poder lutar.

Cecília diz ainda que, ao contrário do que a cultura branca ensina, para os povos indígenas não existe um dia do índio, mas todos eles são e podem ser comemorados.

Foto: Eduardo Montecino/OCP

Entretanto, dia 19 é momento de manter a história viva. Apenas nos dias posteriores, a aldeia costuma fazer uma pequena festa, para celebrar a vida dos antepassados que resistiram e sobreviveram à investida dos colonizadores. “Essa é uma data de tristeza, mas depois comemoramos pelos parentes que restaram”, explica.

História relembrada na Casa de Reza

O dia começa cedo na aldeia que reúne os mais de 150 moradores do povo Guarani e convidados para falar sobre a verdadeira história do 19 de abril. Assim como o sofrimento é lembrado, os pedidos por um futuro melhor e a proteção dos espíritos é invocada na casa de reza.

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As pinturas tradicionais enfeitam os rostos e corpos das pequenas crianças indígenas que vivem na aldeia. O sorriso largo e fácil contrasta com o peso da história que será contada e, para o vice cacique Gabriel Martins Pires, embora dolorido, o passado precisa vir à tona para que conheçam mais sobre seus antepassados, sobre o que viveram e a maneira como foram perseguidos.

O vice cacique Gabriel Martins Pires ressalta a importância de contar a história às crianças, assim elas podem conhecer seus antepassados, sobre o que viveram e a maneira como foram perseguidos. (Foto: Eduardo Montecino/OCP)

“Para nós, o Dia do Índio é muito triste, muito pesado. Lembramos dos nossos parentes que foram massacrados, assassinados, mas também contamos para os nossos filhos, para as crianças, para os adultos, para todo mundo o que aconteceu. O cacique leva todo mundo para a casa de reza e conta, explica o que significa o Dia do Índio e o porquê não há motivo para fazer festa, para comemorar”, ressalta Gagriel.

“Os não índios podem até comemorar porque foram eles que fizeram isso, mas nós índios não podemos fazer, primeiro precisamos pensar no que aconteceu lá atrás”.

Para o vice-cacique, levar à história às novas gerações é uma forma de manter a cultura e fortalecer as raízes, sem deixar de olhar para o futuro. “Cantamos para que os espíritos possam ver que estamos ali relembrando nosso passado e contando para as crianças para que elas possam conhecer e lutar pelo povo”, finaliza cacique Ronaldo.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP