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OCP nos bairros: moradores do Vieira pedem atenção ao morro Lessman

Moradores pedem melhorias na rua Gustavo Lessman | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Elissandro Sutil

18/10/2018 - 10:10 - Atualizada em: 29/05/2024 - 11:17

Todas as manhãs, exceto às terças-feiras, a diarista Dalva de Moraes sobe e desce a rua Gustavo Lessman. São duas descidas e duas subidas entre o trajeto que faz para ir ao trabalho e para levar e buscar a neta de 3 anos na creche.

A subida do conhecido “morro Lessman” não facilita a vida da diarista nem de nenhum dos inúmeros moradores que se espalham morro acima. Há 10 anos Dalva mora exatamente no mesmo local e conta que viu o bairro crescer, especialmente a rua, que ganha novos moradores a cada dia que passa.

Para ela, o morro carece de atenção e está na contramão do bairro, que na visão da diarista, tem uma boa estrutura.

Aos 50 anos, Dalva não pensa em sair do Vieira, mas salienta a dificuldade que a comunidade tem com as péssimas condições da única rua que dá acesso às casas do morro Lessman.

“A nossa dificuldade é a rua. Em época de chuva a gente chega a ficar trancada dentro de casa porque não tem a menor condição de sair”, conta.

O Vieira tem crescido e deixado para trás o perfil dos moradores que deu o pontapé inicial ao bairro. Segundo a vice-presidente da Ambavi (Associação de Moradores do bairro Vieira), Terezinha Cabral Lampert, antigamente “só morava funcionário da WEG”.

Rua apresenta sinais de deterioração | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Moradora do bairro há 34 anos, ela viu o crescimento populacional e estrutural do Vieira, mas assim como Dalva, reclama da falta de atenção com o morro Lessman, que hoje abriga boa parte dos moradores do bairro. “Antes não tinha quase ninguém, era um ou duas casas, agora tem mais de 100”, ressalta.

Coordenadora do Clube de Mães, Marlise Bartel Eggert, tem propriedade para falar da vizinhança. Aos 62 anos, ela viveu absolutamente todos pelas ruas do Vieira e acompanhou a ocupação do morro.

“Eu lembro de quando eu era criança e vinha com o meu pai. Lá pra cima era dois, três moradores, agora está uma cidade”, enfatiza.

As casas foram surgindo, os moradores se multiplicando e as condições estagnaram, garante Dalva, que todos os dias leva 20 minutos para subir e mais 20 para descer a rua de chão.

“Quando nós chegamos aqui tinha poucas casas e foi crescendo, mas não temos atenção das autoridades. É uma vila grande, mas estamos abandonados”, salienta.

Buracos e vazamentos se multiplicam

A subida íngreme do morro é prejudicada devido aos buracos que se acumulam ao longo da via e, para piorar, a rua estreita se torna perigosa especialmente próxima às curvas, algumas bem fechadas.

Segundo Dalva de Moraes, alguns buracos se formam naturalmente por se tratar de uma rua de barro, mas os que mais incomodam são aqueles ocasionados pelo próprio poder público.

Ela conta que não é incomum ver equipes do Samae (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) fazendo a manutenção de canos estourados.

O problema, ressalta Dalva, é que os buracos não são devidamente fechados e, além disso, ela afirma que os vazamentos são constantes. “Eles vêm, cavocam tudo, deixam o buraco e duas horas depois está vazando de novo”, reclama.

Esgoto a céu aberto é outro problema enfrentado pelos moradores do Vieira | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Se há 10 anos o problema se repete, ele é ainda mais antigo, garante o aposentado Venceslau Scherer, de 59 anos.

O aposentado vive há 32 anos no mesmo local, ainda no início da subida do morro Lessman, e garante que há mais de três décadas as reclamações são as mesmas.

“O bairro mudou bastante nesse tempo, cresceu, tem empresas, comércio, a nossa rua que não mudou”, diz.

Ele conta que quando chegou havia poucas casas e todas elas não eram escrituradas, processo que aconteceu depois para os terrenos mais próximos.

Apesar disso, ele afirma que as casas construídas mais recentemente, na subida, ainda não possuem regularização fundiária, o que para ele pode ser um dos motivos para o descaso do município. “A Prefeitura não dá muito a míninima, talvez porque tem bastante casa para legalizar ainda”, avalia.

A vice-presidente da associação de moradores do bairro, Terezinha Cabral Lampert, afirma que a concretagem da rua deve sair do papel no início do próximo ano.

“Está tudo certo para ano que vem, no começo do ano concretar, mas vamos ver se isso vai acontecer mesmo porque nós já havíamos nos reunido para fazer pago e veio uma ordem da Prefeitura que não era pra fazer porque a Prefeitura ia fazer”, conta.

Saúde, educação deixam a desejar

Se no morro Lessman a principal reclamação, demanda e dificuldade é a rua que atrapalha a vida dos moradores, os serviços que atingem toda a população do Vieira também são alvo de críticas.

Segundo a vice-presidente da associação de moradores, Terezinha Cabral Lampert, tanto a saúde quando a educação não conseguem atender mais a demanda de um bairro que, segundo o último Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2010, já tinha, à época, mais de 2,6 mil habitantes.

Terezinha (dir.) pede mais atenção às necessidades do bairro | Foto Eduardo Montecino/OCP News

“O nosso postinho está lá, em uma estrutura que é alugada, que não tem sala de vacina, só tem uma médica e uma pediatra. Mas ainda que tem isso né, muitos nem isso tem. Na creche, a situação é ainda mais difícil, é muita reclamação de falta de vaga, é triste”, afirma.

A coordenadora do Clube de Mães, Marlise Bartel Eggert, minimiza a situação, mas reitera que os serviços não conseguem absorver a demanda de atendimento. “O atendimento no postinho, por exemplo, é bom, mas não consegue atender a tudo que deveria”, completa.

A diarista Dalva de Moraes também reclama da demora para o agendamento de consultas, tanto as de rotina quanto as de especialidade. Ela afirma que está há dois anos aguardando o agendamento de uma consulta médica com oftalmologista.

Atenção com a rua principal

A coordenadora do Clube de Mães, Marlise Bartel Eggert, também aponta a manutenção da rua principal como um problema que merece atenção. Na Manoel Francisco da Costa, via de acesso a outros bairros como o João Pessoa ao município de Schroeder, o acostamento da rua tem dado dor de cabeça, afirma Marlise, que acredita em uma possível solução.

“A gente espera que melhore porque a gente já pediu e já implorou. Esse acostamento dessa nossa rua principal, é cheio de buraco, é um perigo”, analisa.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura para obter o contraponto do governo municipal a respeito das demandas apontadas pelos moradores, porém, até o momento do fechamento, não obteve resposta.

Mulheres encabeçam grupos do bairro

Os laços comunitários do bairro Vieira ficam muito visíveis quando a movimentação para arrecadação de fundos para a manutenção da sede que abriga os trabalhos da associação de moradores, do Clube de Mães e  da comunidade católica Nossa Senhora das Dores, tomam forma.

Nesta semana, por exemplo, um “café com prêmios” foi organizado para arrecadação de verba para os grupos. Mas, além do forte senso de comunidade, o que chama a atenção é a determinação das mulheres do Vieira.

Iraci Ropelato Hermann, está à frente da comunidade católica, Terezinha Cabral Lampert, é uma das vozes mais fortes da associação de moradores e Marlise Bartel Eggert, coordena o Clube de Mães.

O que elas têm em comum? A liderança e a vontade de fazer o bairro mais sustentável, forte e com atividades sociais para todos. “Estamos trabalhando para conseguir as coisas, para manter a sede bem organizada e para desenvolver atividades para todos”, garante Iraci.

 

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP