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Uma semana depois, famílias tentam entender tragédia de feminicídio seguido de suicídio

Caso aconteceu no dia 26 de setembro | Foto William Fritzke/OCP News

Por: Claudio Costa

04/10/2018 - 09:10 - Atualizada em: 04/10/2018 - 09:59

Uma relação conturbada, marcada por ciúmes, consumo de drogas, longos dias de distância e muitas brigas nos poucos dias de convivência.

Assim era o relacionamento de cerca de dois anos do detento do Presídio Regional de Jaraguá do Sul, Evandro Valderi Vitor de Souza, conhecido pelo apelido de Play Beti, 38 anos, e a dona de casa Luciane Ribeiro, 26.

Passada uma semana da tragédia que se abateu sobre as famílias de ambos, as feridas causadas pelo assassinato dela, seguido pelo suicídio dele, durante uma saída temporária de cinco dias do presídio, ainda estão abertas. E a família tenta agora seguir em frente, dando apoio em especial aos oito filhos órfãos – cinco dele e três dela.

A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar as mortes de Luciane e Play Beti. O crime ocorreu por volta das 22h de quarta-feira da semana passada (26), no bairro Santo Antônio, em Jaraguá do Sul.

Embora o autor do crime seja conhecido e tenha morrido, a Polícia Civil segue os procedimentos de investigação do caso. Por enquanto, o delegado Carlos Alberto Crippa, que preside o inquérito, ainda não ouviu nenhuma testemunha. Crippa espera finalizar a investigação em 30 dias.

Evandro cumpria pena por tentativa de homicídio Foto: Arquivo Pessoal

O que todos são unânimes em relatar é que o relacionamento entre Evandro e Luciane era mesmo muito conturbado.

Tanto que um boletim de ocorrência por ameaça já havia sido registrado pela vítima na Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso, mas a investigação sobre a ocorrência não foi realizada porque Luciane não quis representar contra o companheiro.

Mas o registro na Polícia Civil não representava nem de perto o histórico de brigas, discussões e agressões entre o casal.

“Ela pulava de faca nele. Aí, quando ele batia nela, ela queria falar do jeito dela. Não é porque era o meu ex, mas prestar nenhum dos dois prestava”, diz a ex-mulher de Evandro, de 40 anos, que não quis se identificar.

Segundo familiares, quando Evandro tinha o benefício da saída temporária, Luciane deixava a casa onde morava com algumas pessoas da família e se mudava para a casa da mãe dele, local onde ocorreu o homicídio.

Lá, ela ficava com o detento por cerca de uma semana, quando ele ganhava o benefício da saída temporária do Presídio Regional de Jaraguá do Sul, onde cumpria pena por tentativa de homicídio.

Luciane era considerada uma boa mãe | Foto: Arquivo Pessoal

“Ele usava drogas. Assim que ele saía, ia atrás e sempre era assim. Quando ele voltava, os dois brigavam, mas se reconciliavam e acabavam usando juntos. Depois, brigavam de novo e acabavam voltando”, conta ex-mulher de Evandro.

Comportamento estourado

Luciane deixou três filhos, uma menina de seis anos e dois meninos, de 3 e 11 anos. Apesar de não trabalhar e se relacionar com o detento, ela era considerada uma ótima mãe. Pelo corpo, exibia orgulhosa tatuagens com os nomes dos filhos.

Um irmão dela, de 31 anos, que também não quis se identificar, diz que ela era dona de casa, alegre, vaidosa, e não conversava sobre o relacionamento com Evandro com a família.

A vítima era calma no convívio familiar. “Ela era inocente”, afirma uma das sobrinhas. Com a morte da mãe, os filhos estão sob a guarda dos respectivos pais.

“A gente não para de sentir a dor da perda dela. Sentimos mais pela fatalidade do que propriamente a forma como foi morta”, destaca o irmão.

Já Evandro era considerado brigão e conhecido por arranjar confusão por onde passava. Ele tinha cinco filhos com a ex-mulher, todos adolescentes, três rapazes de 19, 18 e 16 anos, e duas filhas, de 15 e 14 anos.

A ex-mulher conviveu com ele por cerca de sete anos e não nega que esperava que alguma coisa assim pudesse acontecer.

“Os filhos deles estão sofrendo. Eu acho que por ele ser metido, brigão, eu até  esperava que um dia isso poderia acontecer, mas com outra pessoa. Mas isso foi uma coisa muito chocante. Toda essa situação, desse jeito, foi inacreditável”, explica a ex.

O dia do crime

No dia do crime, Evandro, que havia saído da cadeia há dois dias aproveitou o dia com a família. Chegou a ir até a escola para buscar a filha de 14 anos e pediu que os outros filhos fossem visitá-lo.

Depois, ele saiu de casa e, quando voltou horas depois, estava completamente alterado, aparentemente sob o efeito de drogas. Após ter alucinações onde dizia que a polícia estava cercando a casa, começou a brigar com a companheira.

A mãe e uma filha dele e os dois meninos de Luciane estavam na casa. Os dois começaram a brigar e a mãe chegou a dizer que ele atirasse nela própria, mas não na mulher.

Neste momento, Evandro se trancou com Luciane no quarto e deu um tiro no rosto da companheira com uma pistola calibre.380. Em seguida, se matou. As equipes de emergência chegaram a ser chamadas, mas os dois morreram antes da chegada dos socorristas.

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Claudio Costa

Jornalista pós-graduado em investigação criminal e psicologia forense, perícia criminal, marketing digital, em inteligência artificial e pós-graduando em gestão de equipes.