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Educação que transforma: conheça o projeto que melhorou a convivência em escola de Guaramirim

Olimpíada escolar ajudou na integração dos estudantes e envolvimento com o projeto | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Elissandro Sutil

13/10/2018 - 05:10 - Atualizada em: 29/05/2024 - 11:03

Valores e virtudes. Essas duas palavras, pequenas e até mesmo complementares, mudaram a rotina da escola municipal Iaro Eugenio Hansch, em Guaramirim. A mudança começou em 2014, quando os professores perceberam que a indisciplina, comportamento agressivo e falta de acompanhamento das famílias era um problema comum, independente da turma.

Uma das idealizadoras do projeto foi a professora de educação física Kátia Milena Loogan. Com o clima de competição, os embates entre os alunos eram ainda mais fáceis de acontecerem. “Eles brigavam muito, não respeitavam pequenas regras e não entendiam os colegas”, relata Kátia.

A professora resolveu mostrar aos alunos a importância de se colocarem um no lugar do outro. Ela escolheu uma turma do jardim para esse pontapé inicial. As rodas de conversa para explicar sobre respeito e empatia não estavam funcionando.

Professora Kátia (D) e diretora Miraci comentam sobre problemas de comportamento que existiam na escola | Foto: Eduardo Montecino

Já no segundo ano, com os estudantes despertando para as diferenças que existem entre meninos e meninas, a professora separou a sala e propôs que elas falassem o que esperavam deles e vice-versa. “As meninas disseram que queriam que eles fossem mais educados e corteses, enquanto os alunos falaram em beleza”, conta Kátia.

Depois deste momento, a professora notou algumas mudanças nas aulas. A turma passou a respeitar mais as regras nas práticas esportivas e os limites de cada um. O comportamento melhorou também nas outras disciplinas. “Naquele ano, a turma conseguiu ser a melhor da escola”, observa a professora.

Todos os professores adotaram a iniciativa de conversar sobre valores com os alunos, perguntando o que eles entendiam de palavras como “respeito”, por exemplo. Essa reflexão fez com que eles compreendessem o que significa cada termo.

“Quando nós ou os pais mandam, eles obedecem, mas não adianta fazer isso se não sabem o motivo. Ao entender isso, a criança caminha sozinha”, aponta Kátia.

Equipe pedagógica também se adaptou às novas normas para dar exemplo | Foto: Eduardo Montecino

Para a diretora Miraci Solange Ribeiro Hahn, são essas ações que fazem o ser humano crescer e ter valores, saber respeitar, tolerar as diferenças e agir em união. “Ainda estamos nos primeiros degraus, mas com certeza os alunos vão lembrar disso quando saírem daqui”, garante.

A professora Maria Benize da Silva também ajudou na criação do projeto e explica que foi criada uma lista de regras a serem seguidas não só na aula de educação física, mas nos momentos de recreação entre as aulas e também dentro das salas.

“Chegamos ao senso comum de que as reclamações eram constantes nas reuniões de professores e pensamos em criar o projeto ‘Valores e Virtudes'”, conta Maria. O comportamento da equipe pedagógica também mudou para se adaptar as novas normas de convivência da unidade.

Competição de esportes

Nada melhor que um ambiente de competição para avaliar como os estudantes iriam se comportar depois de alguns meses do projeto Valores e Virtudes em prática. Para isso, a equipe pedagógica montou a Olimpiaro, em alusão ao nome da escola, Iaro Eugenio Hansch.

Crianças mostraram o que aprendem com projeto durante competição esportiva | Foto: Eduardo Montecino

Na disputa, as crianças jogaram queimada, futebol e vôlei, além de fazerem circuitos e provas de estafetas. Os pais também participaram do primeiro dia da olimpíada escolar. Gislaine e Ricardo Kitkze acompanharam o jogo e prestigiaram a filha Eduarda, de cinco anos. A menina ganhou medalha de ouro no circuito.

“Ela estava muito empolgada, ficou a semana toda falando disso. Este é o primeiro ano dela na escola, então é tudo novo, mas está gostando bastante. O trabalho em equipe fez bem para nossa filha e ela viu que o importante é competir, ganhando ou perdendo”, contam os pais.

Eduarda recorda que no circuito ela passava em cima de uma corda, pulava dentro do bambolê e chutava uma bola para o gol. “Foi fácil e divertido”, observa a menina.

Mãe da Eduarda comenta que filha passou a entender o trabalho em equipe | Foto: Eduardo Montecino

A professora Maria Benize da Silva comenta que alguns pais defenderam a premiação para todos os alunos, mas a equipe avaliou que esta não era a atitude correta. “As crianças precisam aprender a lidar com isso para evitar confrontos futuros”, destaca.

Um dos estudantes, depois da competição, chegou a comentar com a professora Kátia que era “uma escola diferente”. “É visível a diferença, mesmo com apenas quatro horas por dia de trabalho, considerando que pra mudar conceito, caráter e valores precisamos tempo”, enfatiza a professora.

A Olimpiaro não foi o único momento de testar o projeto. Os alunos também arrecadaram brinquedos para doar e fizeram uma festa junina solidária.

Resultados foram além das quadras e corredores

A cada ano, a escola escolhe uma palavra para trabalhar no projeto. Desta vez, foi “amor”. As quatro letras estão espalhadas pela instituição.

Outras atividades foram desenvolvidas nos últimos anos, como visita aos avós e pais para relatarem como era a educação décadas atrás, rodas de leitura com livros de literatura infantil que tratam o tema, palestras com psicólogos e psicopedagogas, e trabalho com artigos de revistas, jornais e textos sobre resgatar valores.

Palavra trabalhada neste ano foi “amor” | Foto: Eduardo Montecino

No quarto ano do ensino fundamental, a professora propôs um trabalho para os alunos fazerem uma autoavaliação todas as semanas sobre o comportamento deles.

Nas aulas de educação física, onde os problemas eram mais frequentes, Kátia dá um exemplo prático de como o projeto transformou a convivência entre eles.

“Quando comecei a trabalhar aqui, carregava o material que ia usar na aula e deixava na quadra durante o recreio, quando voltava já estava tudo esparramado”, recorda a professora.

Hoje, ela explica que pode deixar as bolas, redes e demais itens que vai usar na aula e ninguém mexe. “Respeito, essa é a principal diferença que vemos. Quando um empurra o outro, já se pedem desculpa, tomam um cuidado maior quando estão correndo”, garante Kátia.

William destaca que era mais agitado antes do trabalho | Foto: Eduardo Montecino

Para a professora, o sucesso da iniciativa também está ligado ao conceito de educação coletiva, quando uma criança acaba copiando as atitudes de outra naturalmente. “O certo é mais difícil ser ensinado, já as ações erradas passam rapidamente de um para o outro”, acredita Kátia.

A docente avalia que, agora, a equipe da escola está nessa fase porque os alunos novos têm dificuldade para se adaptar ao ritmo da unidade. “Eles demoram até seis meses pra entender, mas depois gostam”, afirma.

A união entre os professores também é apontada como fundamental para o desempenho positivo do projeto. Shirley Bandoch, também da equipe de docentes da instituição, declara que a iniciativa levou os professores a refletirem sobre suas atitudes e diz que os alunos estão mais calmos e compreensivos.

Alunos aprovam mudanças

O contato com novas normas e atitudes foi aprovado pelos estudantes. William Spezia, 11 anos, avalia que passou a respeitar mais os outros desde a implantação do projeto. “Eu era bem agitado e extrovertido, isso atrapalhava na aula às vezes. Gostei da proposta e acho que meus colegas também melhoraram”, pontua o menino.

Isadora comenta que crianças têm que lidar com diferentes situações | Foto: Eduardo Montecino

Isadora Nort, seis anos, participou da corrida de estafetas da escola e comenta que as crianças precisam enfrentar as vitórias e derrotas da mesma maneira.

 

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP