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Educação que transforma: empoderamento pessoal estimula criatividade na Escola Lília Ayroso

Foto: Eduardo Montecino

Por: Elissandro Sutil

09/09/2018 - 09:09 - Atualizada em: 29/05/2024 - 10:52

Empoderamento pessoal foi a expressão utilizada pelo professor de física da Escola de Educação Básica Professora Lília Ayroso Oechsler, Emerson Avelino Medeiros, para propor um novo projeto aos alunos do ensino médio.

Eles foram desafiados a colocarem a mão na massa e desbravar conteúdos que nunca tinham pensado em conhecer enquanto estavam no ensino regular. As iniciativas eram uma mescla de diferentes matérias com toques de empreendedorismo e tecnologia.

O resultado não poderia ter sido diferente: alunos motivados, trabalhando em conjunto e acreditando no potencial e bons e criativos projetos desenvolvidos.

Como resultado, foram desenvolvidos aplicativos, um “Guarda-pesca”, um sistema para substituir a pasta do líder utilizada nas salas de aula, telhado móvel, dispositivo para ferro de passar roupa, bomba de água caseira e até um medidor de umidade do solo.

Medeiros explica que a inspiração para colocar o projeto em sala de aula veio de uma constatação pessoal, embasada na seguinte frase: “Não podemos ensinar nossos alunos da mesma maneira que aprendemos, porque os alunos que temos não são os mesmos que nós fomos”.

Professor Emerson e a diretora, Fabiana, acreditam que é necessário despertar a curiosidade do aluno e promover autoestima. | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

Na prática, os estudantes precisaram desenvolver um produto a partir de uma situação problema que identificassem ao redor. Ao elaborar esse proposta inovadora, eles pesquisaram sobre o tema e envolveram diferentes disciplinas ao longo do processo.

“Acredito que educação integral seja isso, ver as matérias como um todo e estudar todas elas juntas, desenvolvendo diferentes competências, inclusive as socioemocionais”, comenta o professor.

Ele acredita que o que mais influencia o sucesso acadêmico é o foco e a curiosidade em aprender.

Estudantes agradeceram a confiança do professor e persistência dele nos projetos | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

Os trabalhos foram apresentados em uma feira de ciências neste ano. Antes disso, o professor fez um texto parabenizando cada grupo pelo projeto.

“Eles ficaram com a autoestima elevada, achavam que não eram capazes de criar algo novo. Também me agradeceram por acreditar neles e até entregarem presentes”, conta Medeiros.

Todas as turmas do ensino médio participaram, sendo 80 alunos no período matutino e 80 no noturno, divididos em cerca de 30 grupos.

Equipe tenta se adaptar aos novos tempos

A curiosidade despertada pelo projeto foi geral e a satisfação também. Até alunos que não se dedicavam com tanto empenho aos estudos passaram a ver com outros olhos as disciplinas.

De acordo com o professor Emerson Medeiros, os estudantes conseguiram trabalhar em grupo e vencer algumas barreiras para desenvolver mais potencialidades.

“Em muitos casos, os pais não acompanham a vida escolar dos filhos, só recebem as notas e não acreditam neles. Com o projeto, eles viram que eram capazes”, avalia Emerson.

O professor destaca a ideia de que é preciso inovar dentro das salas de aula, além de ensinar os jovens a criarem. “Não podemos fazer o mesmo de sempre e nem idealizar a imagem do aluno perfeito. Eles precisam ser estimulados”, aponta.

Trazer conteúdos atuais para a sala de aula foi algo que agradou os alunos envolvidos no projeto | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

A diretora da Escola Lilia Ayroso Oechsler, Fabiana Ribeiro de Franz, enfatiza que os alunos estão estudando em uma escola com estrutura do século passado, por isso as inovações são bem-vindas.

“Nós não tínhamos celular naquela época nem os problemas que eles causam. Por isso, quando a instituição propõe um trabalho desses e traz o atual para os alunos, ela se torna motivadora”, observa a diretora.

Fabiana ainda observa que dessa forma, o aluno se sente “pertencendo ao lugar” e pode contribuir mais com a escola. “Eles querem muito mais do que estamos oferecendo, mas nem sempre temos condições de dar mais. Há pedidos por novas ferramentas, mas enquanto isso, usamos o que temos”, explica.

Os projetos, de acordo com a diretora, podem ser aperfeiçoados e levados adiante. A comunidade também ficou curiosa com os projetos.

Pesque-pagues foram bases para aplicativo e estrutura física

A pesca é uma atividade de lazer muito comum pela região, e foi justamente ela que serviu de inspiração para os alunos Lucas Sebold, Maria Eduarda Buss, Cauana Ferreira de Lima e Larissa Sobieranski, do terceiro ano do ensino médio.

Pensando no tempo em que as pessoas ficam segurando a vara de pescar até fisgar um peixe, eles criaram uma estrutura chamada “Guarda-pesca”, com objetivo de dar mais conforto ao pescador. No suporte, semelhante a um guarda-sol, eles ficam protegidos do sol e podem aproveitar para brincar com os filhos ou comer e beber. Quando o peixe é fisgado, um sino toca avisando o pescador.

Guarda-pesca está sendo negociado com pesque-pague da região para virar realidade | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

“Achamos que não ia dar certo, mas conseguimos nos unir e tirar o projeto do papel. Todo mundo cooperou”, comenta Larissa. Esta não tinha sido a primeira ideia dos alunos.

Bruna Dreus, do segundo ano, também se baseou em pesque-pagues para desenvolver seu projeto, um aplicativo. Segundo ela, o grupo pensou em uma maneira de agilizar e facilitar o atendimento nesses estabelecimentos.

No aplicativo feito pelos estudantes, o usuário cadastra um e-mail para fazer os pedidos, sem precisar sair da lagoa e ir para a lanchonete, por exemplo. Por ali, ele também pode ver as opções do cardápio, encerrar o pedido e fazer o pagamento da conta.

Aplicativo registra os pedidos, mostra o cardápio e ainda permite fazer o pagamento da conta | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

Para montar, eles usaram um aplicativo que ensina o procedimento. “A gente não tinha ideia de como fazer, mas o professor apresentou a ferramenta. Nossa ideia é lançar o aplicativo em uma loja virtual, mas para isso ainda precisamos fazer alguns ajustes”, relata Bruna.

O Guarda-pesca dos alunos do terceiro ano também está sendo negociado com estabelecimentos do ramo.

Propostas também contemplam estrutura da escola

Um grupo do primeiro ano da escola pensou em resolver um dos problemas mais rotineiros da escola: o trajeto até o ginásio nos dias de chuva. Para chegar na quadra, os alunos precisam passar por um caminho sem cobertura e acabam se molhando.

Cobertura móvel foi planejada para facilitar o trajeto dos alunos até o ginásio de esportes | Foto Eduardo Montecino/Rede OCP News

Os alunos pensaram em criar uma cobertura para o percurso, mas esbarram na questão da verba necessária. “Seria muito caro cobrir tudo, por isso pensamos em algo móvel”, conta Djenifer Amorilla.

Com a ajuda de professores e dos pais, eles fizeram o protótipo de uma cobertura com roldanas. A cobertura de policarbonato foi doada. “Envolvemos todo mundo para ajudar e foi muito legal”, relata Djenifer.

Alunos demonstram gratidão pelo professor

“Nós achamos que não daria certo, até mudamos de proposta, mas quando apresentamos para o professor, agradecemos porque ele não desistiu de nós. Hoje vemos o estudo com outros olhos”, diz a estudante Bruna Dreus.

Djenifer Amorilla conta que ao receber a proposta do professor, os alunos pensaram: “mas o que isso tem a ver com física?”. Depois, eles até acharam que seria fácil, mas tiveram que adaptar muitos detalhes no meio do caminho.

“Ficamos muito orgulhosos do resultado. Na faculdade, isso vai fazer a diferença”, acredita a aluna.

A quebra da rotina foi o que mais chamou a atenção da aluna Cauana de Lima. Ela acredita que o aprendizado se torna mais fácil fazendo atividades diferentes.

“Passamos anos na escola, sempre sentado por várias horas. É cansativo. Essa ideia de explorar coisas novas é muito incentivadora”, aponta.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP