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Início da propaganda eleitoral gratuita: televisão ainda tem força, mas internet ganha espaço

Em Santa Catarina, a disputa é entre Gelson Merísio (PSD) e Comandante Moisés (PSL) | Foto F.L. Piton/A Cidade

Por: Elissandro Sutil

31/08/2018 - 05:08

A corrida eleitoral deste ano segue rodeada de incertezas no que diz respeito ao cenário nacional no qual podemos, inclusive, ter uma troca de candidato às vésperas das eleições. Para além da disputa propriamente dita, os mecanismos utilizados para a conquista de votos também trazem um enorme ponto de interrogação.

Nesta sexta-feira (31), é dada a largada para os programas eleitorais gratuitos na televisão e no rádio. Na TV, os horários definidos não sofreram alteração em relação a eleições passadas e serão veiculadas a partir das 13h e das 20h30. Nas terças-feiras, quintas-feiras e sábados, com propagandas dos presidenciáveis e dos candidatos a deputado federal.

Já nas segundas-feiras, quartas-feiras e sextas-feiras, quem aparece na telinha são os candidatos a governador, senador e deputado estadual. No domingo, não há veiculação de propaganda eleitoral gratuita.

Se os dias e horários já estão definidos, há muita indefinição ainda nestas eleições, embora restem menos de 40 dias para o 7 de outubro. E uma das perguntas que fica no ar é justamente relacionada à eficácia e ao poder que a televisão poderá exercer sobre o resultado eleitoral. Dados do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) revelam que a audiência nos canais de televisão despenca assim que se inicia o horário eleitoral.

Além disso, o tempo de propaganda eleitoral gratuita diminuiu consideravelmente neste ano, começando mais tarde e terminando mais cedo. Em comparação com eleições anteriores, o tempo de exposição gratuita na TV caiu de 45 dias para 35 na corrida eleitoral de 2018.

Caso as eleições caminhem para o segundo turno, haverá outros 15 dias de propaganda, iniciando no dia 12 de outubro – primeira sexta-feira após o primeiro turno – e se estendendo até o dia 26 de outubro.

Fator surpresa para quem ainda não está conectado

Apesar de o tempo de exposição na TV ser menor nestas eleições, o consultor em marketing político Darlan Campos ressaltou, em entrevista ao Gazeta Online, que os meios tido como tradicionais ainda exercem grande influência sobre os brasileiros, o que inclui também a corrida eleitoral.

Em um país no qual apenas 64,7% de toda a população está conectada à internet, ele afirma que há uma parcela bastante considerável que ainda pode ser atingida pela TV e pelo rádio.

Outro fator apontado como fundamental na TV é a surpresa, destaca Campos. Pela primeira vez em uma eleição presidencial, além do programa eleitoral gratuito, as campanhas terão inserções ao longo da programação das TVs, ao lado dos comerciais publicitários, fato que já ocorreu em 2016, nas eleições municipais.

Para o consultor, o fator surpresa dessas inserções é ainda mais impactante do que o programa eleitoral gratuito, uma vez que as pessoas estão permanecendo menos tempo diante da TV e quando o conteúdo é inserido no meio de uma programação usual, pega o espectador desprevenido e pode gerar um resultado positivo para as intenções eleitorais.

Assim como o tempo do programa eleitoral gratuito, o número de inserções de peças publicitárias eleitorais – que tem duração de 30 segundos – durante a programação habitual é definido de acordo com a representatividade da coligação do candidato na Câmara, critério também utilizado para a divisão do tempo no horário eleitoral.

Internet abre espaço para debate

Enquanto apenas 64,7% dos brasileiros estão conectados à internet, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a situação se inverte quando falamos em televisão. Realizada no fim de 2016, a mesma pesquisa apontou que, de 69,3 milhões de domicílios permanentes particulares no Brasil, apenas 2,8% não tinham televisão.

E, para a antropóloga Maria Elisa Máximo, estes números mostram o quanto a TV continua tendo um papel central na formação da opinião dos eleitores sobre os candidatos, uma vez que, no país, ainda há muitos lugares nos quais a televisão segue sendo a mídia mais consumida.

Apesar disso, Maria Elisa acredita que, talvez, ela não seja o fator mais decisivo, como o era em eleições no passado, pois para ela esse papel hoje está diluído entre diversas mídias. “O que se pode dizer, também, é que há uma tendência das diferentes mídias convergirem umas com as outras de várias formas”, aponta.

Um dos exemplos citados pela antropóloga, que também é professora de ensino superior, pode ser notado especialmente nos últimos dias, com as entrevistas de presidenciáveis em inúmeros canais – fechados e abertos. “Da televisão o efeito ‘escorre’ quase que instantaneamente para as redes na internet, com comentários, críticas, ‘checagem de fatos’ e uma intensa produção de conteúdos a partir das falas e ideias esboçadas pelos candidatos”, explica.

Para Maria Elisa, a internet atua e aponta no sentido de uma democratização do debate, disponibilizando espaço para que todos possam opinar e defender suas ideias e ideologias, posicionando-se pessoalmente.

Porém, a antropóloga alerta para as tentativas de “eliminação” do outro que acontecem, para ele, em níveis diversos de intensidade. “De um modo geral, falo daquela linha tênue que separa o debate livre e democrático de ideias e as expressões do ódio e da intolerância”, pontua.

E é neste ponto, ressalta, que reside uma das grandes responsabilidades da TV. “Ninguém mais é ingênuo para o fato de que aquilo que é veiculado na TV passará ao largo das redes na internet e desses espaços de debate e de enfrentamento. Portanto, isso exige cautela, prudência e muito compromisso com o interesse público na produção e divulgação do conteúdo. Não dá para fazer conteúdo apostando na polêmica, na viralização, etc, embora a gente saiba que essa lógica é predominante hoje”, avalia.

Maria Elisa destaca que cada uma delas [TV e redes sociais] tem o seu papel de importância e o que não se pode negar é que elas estão diretamente ligadas, lembrando que embora nem tudo que passa pelas redes vire conteúdo na televisão, o que passa na televisão quase sempre vira, de algum modo, assunto nas redes na internet e, ao mesmo tempo, o que as pessoas falam nas redes têm agendado, ao menos em parte, a televisão, o que demonstra o quão intrincados estão os dois meios.

Para Maria Elisa, o momento pelo qual o país vive é, a seu ver, talvez o mais difícil de todos, pois, embora nunca houvesse tanto espaço de participação, livre expressão e espaços de atuação para que as pessoas sejam formadores de opinião, vive-se também um desgaste, aponta ela, do excessivo convívio com as diferenças, com opiniões opostas e da disputa pelas narrativas.

Ela destaca que hoje, existe quase que uma imposição para que todos se posicionem, fazendo com que as pessoas acabem abrindo mão de um tempo precioso para a consolidação e construção de ideias e pensamentos.

“Diferentemente de quando tínhamos apenas os meios de comunicação de massa – onde a nossa participação ainda era muito restrita – hoje é possível dizer que nós mesmos somos a mídia em nossos perfis nas redes sociais, em nossos blogs, nos comentários das notícias, no youtube, etc. Penso que estas atuações serão determinantes para o resultado destas eleições”, finaliza.

Veja o tempo disponível na propaganda eleitoral gratuita

Candidatos ao governo de Santa Catarina:

  • Ângela Castro (PCO) – 6 segundos;
  • Camasão (PSOL) – 11 segundos;
  • Comandante Moisés (PSL) – 7 segundos;
  • Décio Lima (PT) – 1min21seg;
  • Gelson Merisio (PSD) – 3min12seg;
  • Ingrid Assis (PSTU) – 6 segundos;
  • Jesse Pereira (Patri) – 11 segundos;
  • Mauro Mariani (MDB) – 3min34seg;
  • Portanova (Rede) – 8 segundos.

Coligações que concorrem ao Senado:

  • Coligação Aqui é Trabalho (DEM, PCdoB, PDT, PHS, PODE, PP, PPL, PRB, PROS, PRP, PSB, PSC, PSD, PV e Solidariedade) – 2min30seg;
  • Coligação Santa Catarina em Primeiro Lugar (PATRI, PMN) – 8 segundos;
  • Coligação Santa Catarina Quer Mais (Avante, DC, MDB, PPS, PR, PRTB, PSDB, PTB, PTC) – 2min47seg;
  • Coligação Um Caminho Pra Gente (PCB, PSOL) – 8 segundos;
  • Partido da Causa Operária (PCO) – 4 segundos;
  • Partido dos Trabalhadores (PT) – 1min03seg;
  • Partido Social Liberal (PSL) – 5 segundos
  • Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) – 4 segundos;
  • Rede Sustentabilidade (REDE) – 6 segundos.

Candidatos à presidência:

  • Álvaro Dias (Podemos) – 40 segundos e 53 inserções;
  • Cabo Daciolo (Patriota) – 8 segundos e 11 inserções;
  • Ciro Gomes (PDT) – 38 segundos e 51 inserções;
  • Eymael (DC) – 8 segundos e 12 inserções;
  • Geraldo Alckmin (PSDB) – 5min32seg e 434 inserções;
  • Guilherme Boulos (PSOL) – 13 segundos e 17 inserções;
  • Henrique Meirelles (MDB) – 1min55seg e 151 inserções;
  • Jair Bolsonaro (PSL) – 8 segundos e 11 inserções;
  • João Amoêdo (NOVO) – 5 segundos e 8 inserções;
  • João Goulart Filho (PPL) – 5 segundos e 7 inserções;
  • Lula (ou candidato do PT) – 2min23seg e 189 inserções;
  • Marina Silva (Rede) – 21 segundos e 29 inserções;
  • Vera Lucia (PSTU) – 5 segundos e 7 inserções.

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP