Enquanto a greve dos caminhoneiros deixava clara a dependência nacional pelo transporte rodoviário, outras deficiências da infraestrutura nacional eram reveladas no relatório Infraestrutura: Regras e Incentivos, publicado pelo Insper e a empresa de consultoria de negócios Oliver Wyman na última sexta-feira.
Essas deficiências ficam claras já pela posição do país em rankings internacionais de infraestrutura: estamos em 73º entre 160 países, embora sejamos a 9ª maior economia do mundo.
Na qualidade das rodovias, o Brasil fica em 103º – e estas são responsáveis por 64% de toda a malha de transportes brasileira. Na microrregião, a precariedade das estradas pode ser confirmada pela situação da BR-280 – que está há quatro anos em obra de duplicação – e da SC-108.

Deficiência da infraestrutura brasileira fica clara em estudo divulgado recentemente | Foto Eduardo Montecino / OCP News
O Brasil investe anualmente cerca de 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura – em 2017, foram cerca de 1,97% e a estimativa para 2018 é de 2,2% – mas apenas a manutenção da estrutura atual demandaria entre 2,5% e 3%.
Esse percentual é abaixo do visto em países em desenvolvimento, como a China, com 7%, e Índia, com 5,5%, e menor até que o visto em países já desenvolvidos como Estados Unidos, que investem somente em água e transporte 2,5% de seu PIB.
A expansão sustentável da infraestrutura nacional demandaria 4% do PIB pelos próximos 25 anos. A situação é agravada quando se leva em conta o crescimento reduzido do PIB, de apenas 1% em 2017, após dois anos de queda acumulada de 7%.
Não há um único setor em que a infraestrutura nacional não esteja defasada, segundo o estudo – olhando os rankings globais por setor em três das principais áreas, o Brasil está 55º entre 160 países no índice de eficiência logística, 86º em saneamento e em 58º na velocidade média das conexões de Banda Larga, com 3,6 mbps – a média mundial é de 5 mbps.
Além de contar com um relativamente elevado preço de US$ 0,09 por Megawatt/hora pela energia elétrica.
Hoje, o país conta com um estoque de infraestrutura – obras já terminadas – equivalente a 36% do PIB. A universalização da infraestrutura exigiria um estoque de 60%, segundo o estudo.
Nem tão bom assim
Mesmo os aspectos em que o país tem resultados mais positivos – como acesso à telefonia móvel, água e a rede elétrica – são marcados por deficiências e precariedades. Com 92,6% de penetração, a telefonia móvel é marcada por sinal precário.
A telefonia fixa – categoria em que o ranking nacional sobe para 43º – é igualmente marcada por problemas, e 29,1% de todas as queixas registradas no Procon nacional dizem respeito à telefonia.

Serviços de telefonia e energia elétrica estão entre os que mais geram reclamações | Foto Eduardo Montecino / OCP Online
O acesso a rede elétrica é um dos mais universalizados do globo, em 99,7% dos domicílios, mas com 70% de dependência de hidroelétricas, complementadas em grande parte por usinas a carvão, a matriz está sujeita a fatores climáticos que sujeitaram regiões do país a apagões e crises de abastecimento.
O acesso à água tratada chega a 85,4% dos domicílios, mas nem toda essa rede tem tratamento de qualidade, e o saneamento é apenas o básico em 48% deles, com 14% dos domicílios carecendo de qualquer forma de saneamento.
Em Santa Catarina
Em Santa Catarina, os problemas mais graves de infraestrutura dizem respeito à logística, como as muito adiadas obras de duplicação das rodovias federais BR-101, BR-470 e BR-280.
Segundo a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), os custos com transporte representam 49% do total gasto pelas indústrias catarinenses com logística de suprimentos e produtos acabados, e as despesas logísticas representam 14%do faturamento – maior que a média brasileira, de 11,2%, e que os 9% estimados para outros países.
De acordo com a entidade empresarial , há pouco uso de modais alternativos de transporte no estado, como cabotagem e transporte ferroviário, devido ao número restrito de destinos oferecidos por essas modalidades.

País conta com apenas 30 mil quilômetros de ferrovias | Foto Arquivo OCP News
O país conta com apenas 30 mil quilômetros de ferrovias, usadas primariamente para o transporte de commodities, e apesar de ter a 16ª maior linha costeira do planeta, o transporte marítimo de cabotagem representa apenas 10% da matriz de transportes brasileira, rejeitado por 55,3% das empresas catarinenses em um estudo com 76 empresas em 2015.
A preocupação com a infraestrutura logística se reflete nas associações empresariais da região do Vale do Itapocu, com demandas perenes pela duplicação urgente da BR-280 e pelo contorno ferroviário da região – fontes de gargalos logísticos que aumentam os custos de transporte e resultam em lentidão nas estradas.
Para o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), Anselmo Ramos, a falta de infraestrutura eficaz para o escoamento de produção é agravada pela lentidão nas reformas e o excesso de burocracia, posição que é compartilhada pelas associações empresariais de Guaramirim (Aciag) e Schroeder (Acias) – esta última também pleiteia melhorias para a geração de energia elétrica na região.
A Fiesc lançou no ano passado uma agenda estratégica para a infraestrutura e o Estado conta com R$ 4 bilhões em investimentos no setor para 2018. Cerca de 40% das obras rodoviárias estão com atraso em Santa Catarina, com uma malha rodoviária de 8 mil quilômetros, dos quais 5,8 mil são pavimentados.
As obras em estradas são consideradas prioridade e representam 62,5% do investido no ano, com R$ 2,5 bilhões. Segundo o vice-presidente da entidade para o Vale do Itapocu, Célio Bayer, o estado tem outras prioridades. Confira:
- agilização no licenciamento ambiental para instalação de antenas para telefonia;
- planejamento e modernização da infraestrutura de distribuição de eletricidade no estado;
- diversificação da distribuição e do fornecimento de gás natural para a região.
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