Chegou a hora de vermos o resultado daquelas gravações de março que uniram mais de 60 pessoas em torno do cantor e compositor Jesus Luhcas. O motivo? Produzir o clipe de “Pode me Chamar de Bixa”, misto de desabafo, posicionamento e orgulho que pode tranquilamente ser o momento mais forte da iniciante carreira do artista maranhense radicado em Joinville.
Dirigido por Mário Águas, o clipe ganhará a internet no próximo dia 17, mas neste sábado (12) ele será exibido durante o show de lançamento que acontece na Galeria 33, às 18 horas. Os ingressos antecipados estão à venda neste link, e na hora custarão R$ 20.
A Orelhada bateu um papo com Jesus Luhcas, no qual ele fala sobre as inspirações para a música/clipe, preconceito e sexualidade.
Acompanhe a entrevista:
Você já sentiu a homofobia na pele? Como reagiu?
A homofobia começa se sentindo no coração antes de chegar à pele. Desde pequeno, qualquer pessoa que não está dentro dos padrões criados socialmente convive com afirmações que ferem a alma e magoam a qualquer criança. Em minhas lembranças mais antigas, me recordo claramente que já sentia que não era como a maioria dos meus coleguinhas da escola. Mas tinha de conviver com afirmações como “gay é doente”, “homossexual é abominável” e mesmo que “são endemoninhados” e, na maioria das vezes, essas afirmações eram de pessoas muito próximas. Depois você cresce e aprende a não se deixar atingir por essas afirmações, mas até chegar ao ponto em que você entende que não precisa da aprovação dos outros para se entender como ser humano, rola muita lágrima e sofrimento. Mas é possível passar por tudo isso e se tornar cada vez mais forte.
Pra você, a homofobia ficou mais escancarada ou ela ainda é muito velada?
Hoje o véu da internet permite que as pessoas mostrem seus pensamentos e é assustador o quanto ainda há pessoas vivendo na pré-história, como se fôssemos apenas um amontoado de células sedentas por se reproduzir. Acho que a homofobia não aumentou, apenas se mostrou de verdade. E aí é que vemos o quanto ela é fruto da falta de informação, compaixão, compreensão e empatia.
O preconceito é mais forte aqui ou no Maranhão?
Eu não sei mensurar, pois quando vim para Joinville ainda mantinha um comportamento mais dentro dos padrões que são aceitos. Foi só aqui, morando um tempo sozinho e podendo me conhecer melhor que eu entendi que não preciso parecer o que não sou. Cansei de ser um personagem que não equivalia a quem realmente sou. Hoje sei que se alguém me amar, vai me amar pelo que sou, não pelo que pareço ser. E eu prefiro que seja assim. Mas acredito que preconceito não tem força alguma diante da verdade e do amor.
Essa música saiu depois de algum episódio específico?
Eu estava andando na rua em direção a um evento e um cara parou seu carro, colocou a cabeça para fora e gritou “bixa!”. E respondi educadamente “Oi, tudo bem?”. Depois disso, fiquei pensando em como ainda pode se usar uma palavra que se refere à sexualidade para tentar ofender alguém. E foi desta forma que nasceu “Pode me Chamar de Bixa”.
Aliás, quais cenas no clipe retratam algo pelo qual você passou?
O Clipe é lúdico, leve. Não tem exatamente uma reprodução de uma cena vivida. Mas trazemos o “ogro”, personagem agressivo, machista e preconceituoso, para um tratamento intensivo contra LGBTQfobia. Mas o que mais me identifico é com a possibilidade de mudar de opinião e se desprender de ideias autodestrutivas – é o que acontece com o (ex)ogro.
A música seria então um desabafo?
Na verdade a música é um posicionamento pessoal. Por isso foi escrita toda em primeira pessoa. Quando alguém me pergunta sobre minha sexualidade, eu respondo que sou “bicho solto”, que é o que melhor ME define. Mas pode me chamar de bixa, de gay e até de hétero (não tenho nada contra, tenho até amigos que são, risos) Penso que os títulos são necessários para as pessoas entenderem que somos semelhantes, mas não completamente iguais. Mas o intuito da música é mostrar que eu não me sinto ofendido ao ser chamado de bixa, não vejo motivos lógicos para ninguém se ofender com isso. Até gosto, na verdade, me sinto mais divertido, a maioria das bixas são maravilhosas, divertidas, lindíssimas e muito inteligentes (perceba que eu falei a maioria, porque não dá padronizar seres humanos).
Você se sente um representante LGBT?
Eu me sinto representar acima de tudo a bandeira do amor e da humanidade, e, consequentemente, entendo que o ser LGBTQ faz parte dela, e luto com eles esta luta, não apenas por ser um LGBTQ, mas por acreditar que não preciso ser negro, nem gay, nem mulher, para entender que cada ser humano tem direito à uma vida com liberdade e respeito.
Mudando de assunto: e o disco, sai este ano?
Ao que tudo indica, em julho teremos o lançamento do meu primeiro EP, mas até lá ainda teremos algumas surpresas.