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Telas, o vício mais aceito e mais perigoso

Foto: Divulgação

Por: Emílio Da Silva Neto

05/12/2025 - 07:12 - Atualizada em: 05/12/2025 - 14:26

As primeiras evidências de consumo de chocolate surgiram na América Central, com os Olmecas (1900 a.C), depois com os Maias (250 a 900 d.C) e os Astecas (séculos 14 e 16). Considerado um alimento sagrado, que proporcionava força e vitalidade, era reservado à elite da sociedade – nobres, sacerdotes e guerreiros.

Há muito, o chocolate é visto como a “droga da alegria”, devido aos seus efeitos no cérebro, pela serotonina (hormônio da felicidade), endorfinas (analgésicos naturais), dopamina (associada à recompensa e prazer), feniletilamina (que provoca euforia) e a anandamida (que imita os efeitos de drogas).

Por isso, o chocolate vicia fácil, incluindo este colunista, que não o dispensa, pós vinhos noturnos. Contudo, há dependências outras, que exigem “alertas”, tal como o vício em telas: celular, computador, televisão, streaming, redes sociais … a lista é infinita.

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As telas são os “espelhos mágicos” do nosso tempo. Não fumaceam, nem exalam álcool, mas intoxicam pela luz azul que seduz silenciosa; são janelas que prometem o mundo, mas sequestram o aqui e agora; oferecem companhia, mas roubam a presença.

Diferentemente do fumo, álcool e chocolate, o vício digital não é malvisto – ao contrário, é até incentivado e celebrado – sob o pretexto de produtividade, conexão, informação ou entretenimento.

Sim, as telas não nos matam com tosse, ressaca ou obesidade, mas com distrações, que corroem a alma e apagam lentamente a chama da atenção. São prisões sem grades, correntes feitas de pixels, estando o perigo não no brilho da tela, mas no escuro que ele instala dentro de nós.

Em outras palavras, as telas prometem companhia, mas entregam isolamento. Prometem liberdade, mas prendem. Prometem diversão, mas esvaziam. Assim, esse vício coletivo provoca efeitos psicológicos, sociais e, até, espirituais, levando o escritor David Foster, já lá em 1990, a vaticinizar as telas como as “drogas do futuro”, sem as quais não se seria ninguém.

Há, ainda, características perversas da cultura digital, como, por exemplo, o sarcasmo virando sinônimo de inteligência e o cinismo tornando-se a postura dominante diante do mundo. A consequência disso é um ambiente em que parecer estar “acima de tudo” importa mais do que se comprometer com algo real, levando a pressa envolvida a nos tornar cada vez mais superficiais.

O vício em telas não é apenas um problema individual, mas um fenômeno cultural, com efeitos devastadores, resultantes de interações que misturam confissões pessoais com referências literárias, filosofias e críticas sociais, muitas das quais sem fundamentação científica.

Em resumo, as telas tornaram-se companheiras inseparáveis da vida moderna, estando em todos os lugares: no bolso, na mesa de trabalho, na sala, no quarto, no veículo. E esse excesso de tempo diante das telas vem deteriorando relacionamentos reais, sabotando o sono, comprometendo a saúde mental e roubando a capacidade de concentração profunda.

Enfim, as telas, que antes eram lazer viraram compulsão, num ciclo que prende adultos e crianças em compartilhamentos intermináveis. A ironia é que, enquanto combatemos outros vícios com campanhas e alertas, este se infiltra sorrateiro e perigosamente, pois maior que o risco da dependência, é não percebermos que estamos presos, faltando-nos, enfim, liberdade para reconhecermos que precisamos nos precaver de “superdoses” de telas.

Ou seja, o desafio não é eliminá-las, mas recuperarmos o controle, isto é, usarmos a tecnologia como ferramenta, e não como algema, sempre lembrando que um vício aceito é algo inclemente, porque não queima por fora, mas detona por dentro.

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Emílio Da Silva Neto

Consultor especializado em profissionalização, governança e sucessão empresarial familiar. Com vasta experiência, Emílio da Silva Neto é PhD/Dr.Ing, Pós-Doc, Industrial, Consultor, Conselheiro, Palestrante, Professor e Sócio da 3S Consultoria Empresarial Familiar. Redes sociais: emiliodsneto | www.consultoria3s.com