Nos dias de hoje, é bem difícil não se conhecer alguém que corre sistematicamente. No mundo todo, já são 620 milhões praticando a atividade. Em 02.11.25, 55 mil desses corredores tomaram as ruas de Nova York para os tradicionais 42,195 km da NYC Marathon.
Para um dos maiores fundistas do mundo, o americano Meb Keflezighi, as pessoas querem, no desafio das maratonas, conhecer a melhor versão de si mesmas. E este colunista concorda, plenamente. O fato é que as corridas de rua são, hoje, um dos maiores eventos esportivos e de negócios do planeta e, mesmo sendo organizadas por instituições sem fins lucrativos, os eventos movimentam dezenas de bilhões de dólares, se forem somadas despesas de locomoção, hospedagem, alimentação, turismo e comércio.
Além da corrida em si, as corridas de rua viraram um desfile de moda esportiva: Adidas, Nike, Hoka, Lululemon, inclusive a jaraguaense Live, por exemplo, promovem, em paralelo, promoções e eventos pelas cidades sedes. Tudo para estarem presentes onde os consumidores high ticket estão. Enfim, o que começou com a ideia de um encontro de pessoas praticando um esporte, para se manterem saudáveis, virou um business bilionário.
Eu comecei a correr em 1974, após um ataque cardíaco, causado por excesso de noites sem dormir, estudando. Entre outras recomendações médicas, ainda morando em Florianópolis, foi-me prescrito começar a correr. Mudando-me para Jaraguá do Sul, em 1975, as pessoas estranhavam ver-me correndo na rua, em fins de tardes, e, até gritavam, ridicularizando: polííííciiiia… pega-pega… au-au… mas, eu devolvia endorfinados sorrisos e seguia em frente, mais feliz que “passarinho fora da gaiola”. Afinal, para que perder tempo em tentar frear bullings como: “está correndo de quem? do que? por que? para que?” Afinal, já tinha comigo uma inquestionável verdade: seja casual ou competitivo, sozinho ou em grupo, correr sempre é uma ótima opção para liberar o estresse e manter a forma física e, acima de tudo, mental.
Atualmente, aos 7.2, ainda corro de 30 a 50 km por semana, e tenho sobre este vício incontornável, 1001 respostas e explicações “na ponta da língua”, que resumo na seguinte frase: “corro sistematicamente, porque é um jeito especial de me redescobrir em cada quilômetro”.
Pois, em 28.11.2025, farei mais uma maratona, a oitava, das quais, 03 no exterior: 2023 Jerusalém/Israel, 2024 Cidade do Cabo/África do Sul e 2025 Deserto do Saara/Marrocos. E, em 2026, Moscou/Rússia, após, quiçá, a derrota de Putin para Zelensky.
Correr uma maratona é muito mais do que percorrer 25 ou 42 quilômetros – é atravessar as próprias limitações. A cada passo, o corpo reclama, a mente vacila, mas é justamente aí que nasce a melhor versão da gente mesmo. A maratona ensina que força não é ausência de dor, e sim, coragem de continuar apesar dela. Entre o primeiro quilômetro e a linha de chegada, descobre-se que a superação é construída com paciência, disciplina e fé. Cada treino, cada madrugada acordada, cada dor superada revela um novo pedaço de quem se é – e quem se pode tornar.
No fim, o troféu não é a medalha no peito, mas o espelho interno que reflete alguém mais confiante, resiliente e consciente do próprio poder. Pela via da maratona, aprende-se que os limites são, na verdade, convites para crescer.
Por tudo isso (e um pouco mais) que embarco, “feliz que só”, para Marrocos, esperando que o Deserto do Saara me aceite pisá-lo teimosamente, em busca de uma (ainda) melhor versão de mim.