A Federação das Indústrias de Santa Catarina e a prefeitura de São Miguel do Oeste lançaram nesta sexta-feira (24), em Florianópolis, um programa inédito no estado para acolher, qualificar e inserir migrantes no mercado de trabalho.
O Porta Aberta terá participação da Organização Internacional para Migrações (OIM), agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para as migrações.
O programa propõe um ciclo simples: cidade acolhedora, empresa acolhedora, migrante integrado à comunidade e produtivo.
Ele prevê duas frentes: uma pública, para suporte social estruturado; e outra privada, voltada à preparação das empresas para receber e integrar os estrangeiros.
Qualificação profissional
O SESI/SC, braço social da Fiesc, apoiará tanto o poder público quanto as empresas, com ações em educação, saúde mental, telemedicina, formação de líderes e orientação sobre relações de trabalho.
O SENAI/SC também participa da iniciativa com cursos de qualificação profissional voltados às demandas da indústria local.
“O desenvolvimento do nosso estado passa por integrar quem escolheu Santa Catarina para recomeçar. O Porta Aberta une pessoas e indústrias, gerando oportunidade para todos”, disse Gilberto Seleme, presidente da Fiesc.
Iniciativa poderá beneficiar outras cidades
Inicialmente, o programa será implantado em São Miguel do Oeste, um dos principais destinos de migrantes, especialmente venezuelanos. Mas tem potencial para ser expandido a outras regiões do estado.
“O Porta Aberta é uma ação que une poder público, iniciativa privada e entidades em torno de um mesmo propósito: transformar desafios em oportunidades e gerar impacto positivo para toda a comunidade”, disse Daniel Tenconi, superintendente do SESI/SC.
Cenário da migração no estado
São Miguel do Oeste foi escolhida por concentrar um fluxo crescente de migrantes.
Entre 2022 e 2025, o percentual de estrangeiros no município passou de 7,5% para 19,3%, o que evidencia a necessidade de ações estruturadas de acolhimento e permanência.
De 2020 a 2025, a população local cresceu 16,8%, chegando a 47,7 mil habitantes, enquanto o PIB per capita caiu 1,8%. O dado mostra que o aumento populacional, sem integração adequada, não resulta em desenvolvimento econômico proporcional.
No município, do total de trabalhadores na indústria, 19% são migrantes. Venezuela, Haiti e Argentina são os principais países de origem.
Ganhos para migrantes
Para os migrantes, o Porta Aberta traz autonomia e dignidade, promove a inclusão formal no trabalho, dá senso de pertencimento e contribui com a formação de um novo lar.
Para o município, reduz problemas sociais, otimiza recursos, cria coesão comunitária e fortalece serviços públicos.
Para empresas locais, diminui a rotatividade, forma trabalhadores qualificados e aumenta produtividade e engajamento.
Números de migrantes no estado
Relatório da Operação Acolhida mostra que entre abril de 2018 e janeiro de 2024, 27,2 mil venezuelanos foram interiorizados para Santa Catarina.
Levantamento da Secretaria de Estado de Assistência Social, Mulher e Família mostra que, em dezembro de 2023, o estado tinha 59,6 mil estrangeiros no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).
Participação na indústria
Levantamento feito pelo Observatório Fiesc mostra que, dos 977,5 mil trabalhadores da indústria catarinense, 53,7 mil (5,5%) são migrantes.
Os setores que mais empregam: alimentos e bebidas (24,2 mil), construção (4,5 mil), têxtil, confecção, couro e calçados (3,5 mil), metalmecânica (2,8 mil); os municípios com mais migrantes na indústria: Chapecó (17,8% do total), Joinville (8,6% do total), Guatambu (4,3% do total), Concórdia (3,5% do total), Blumenau (3,3% do total); principais países de origem: Venezuela (61,1%), Haiti (30,3%), Paraguai (1,6%).