“♫ I said: Look ma, I ain’t got no brains/ I’m a goner and I don’t feel no pain/ I’m stupid and I’m all by myself/ ‘Cause I’m special and I don’t need your help” (Look ma, no brains!; Green Day)
Antropologia é a ciência que estuda o ser humano em seu todo, considerando aspectos biológicos, evolutivos, sociais, culturais, comportamentais, simbólicos e por aí vai. A origem do nome vem do grego: ánthropos, que significa homem ou ser humano.
Antropocentrismo, por sua vez, é a filosofia ou uma visão de mundo que coloca o ser humano como centro de tudo, do universo, da moral, do valor de tudo. Em outras palavras: é a ideia de que o mundo, ou tudo, existe para o homem e em sua função. Há variáveis e discussões longas sobre esse conceito.
A involução humana
Ocorre que algumas pessoas levam o conceito de antropocentrismo ao nível da falta de bom senso e educação mesmo. Esses, digo eu, vivem o umbigocentrismo. Tudo gira em volta deles. Egocêntricos, narcisistas e, agora, os idioticentristas.
Já falei, em algum texto, que é irritante aquele pessoal que fica escutando suas músicas ou batendo seus papos no viva-voz para que todo mundo ouça seu péssimo gosto musical ou suas intimidades, por vezes asquerosas, que a mais ninguém deveriam interessar.
E nesse final de semana, almoçando com a família em um restaurante, aparece um ser desta natureza. Ele simplesmente tem uma conversa longa (pelo menos para os demais presentes) por vídeo e, obviamente, no viva-voz em bom e alto som; nem um fone de ouvido teve a educação de colocar. Enquanto aguardava seu pedido, seu filho de quatro, cinco anos perambulava para cá e para lá, e sua mulher ficava à toa, para desconforto de todos naquele ambiente, ele ficava resolvendo seu almoço de domingo em Balneário Camboriú e otras cositas mas.
Infelizmente, ele não é o único. Esses seres se proliferam com seu individualismo, suas meritocracias de terem seus celulares de última geração e sua falta de consideração e respeito com os outros. E continuarão, pois, muito provavelmente, em algum momento, seu filho, infelizmente, seguirá seu triste e imbecil exemplo. Ele não deve saber, mas filhos seguem, sim, os exemplos dos pais…
Eco sempre teve razão
Não sei se sobre tudo, mas sobre os imbecis, o filósofo italiano Umberto Eco sempre teve razão. Mais especificamente sobre as redes sociais e os imbecis. É dele a célebre frase (que regularmente uso em minhas palestras): “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Se estivesse vivo, ele provavelmente reforçaria sua tese de maneira muito contundente.
De sua morte (ocorrida em fevereiro de 2016) para cá, muita coisa mudou. Menos a imbecilidade de uma legião (ou várias) de seres humanos. As redes sociais com seus algoritmos aperfeiçoados potencializaram essa crise de sensatez e respeito.
Além de verem muitas besteiras na internet e não se preocuparem em ler conteúdo consistente (nem peço mais para lerem livros; tem muito material sério na internet, mas nem isso são capazes), essa nova horda está mais preocupada em ter razão sobre qualquer coisa (mesmo que para isso tenha que ofender quem discorde) a saber se está certa. Confirmar seus vieses enviesados é a ordem do dia.
Para piorar, estamos diante da crescente IA slot, ou seja, de conteúdo massivo de baixa qualidade gerado por inteligência artificial, com a intenção única e exclusiva de deixar as pessoas vidradas nesse lixo digital. Cérebros fervendo, mas no mau sentido.
A letra do Green Day da música de hoje só errou numa coisa: infelizmente, eles não estão sozinhos.