A médica Lenise Fernandes Sampaio foi condenada nesta quinta-feira, 9 de outubro, a 11 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão, em regime inicial fechado, pelo Tribunal do Júri da comarca de Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina. Ela foi considerada culpada por tentativa de homicídio contra o ex-marido, o policial militar Wellington da Silva Cruz, com reconhecimento de motivo torpe e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. O crime ocorreu em 11 de agosto de 2024, no bairro Czerniewicz, durante o fim de semana do Dia dos Pais. O julgamento foi encerrado por volta das 22h.
Lenise foi levada do Complexo Prisional de Joinville, onde está presa preventivamente, até o fórum de Jaraguá do Sul, local do julgamento. A sessão teve início às 8h, com os depoimentos colhidos a portas fechadas pela manhã. O júri, formado por cinco homens e duas mulheres, teve a parte da tarde aberta ao público.
A denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) enquadrou o crime como tentativa de homicídio com três qualificadoras: motivo torpe, emboscada e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima.

Foto: Gabriel JR/OCP News
A assistente de acusação, Fernanda Andressa Simão, avaliou o resultado do julgamento como justo e proporcional.
“O júri atendeu plenamente às nossas expectativas. Houve o reconhecimento das três qualificadoras apresentadas pela acusação, a ré não foi absolvida e a pena foi fixada em 11 anos, 1 mês e 10 dias”, afirmou.
Segundo ela, a decisão considerou não apenas os danos físicos causados à vítima, mas também os impactos emocionais sobre o filho do casal.
“Considerando tudo o que foi exposto durante o julgamento — especialmente o sofrimento enfrentado pelo pai e, principalmente, pelo filho — entendemos que a decisão foi justa e proporcional. O veredito reflete, de forma adequada, a gravidade da conduta da genitora ao expor a criança a uma situação tão traumática e irresponsável.”

Foto: Gabriel JR/OCP News
Já a defesa da médica, representada pelo advogado Felipe da Silva Carlos, afirmou que o júri foi exaustivo e que a equipe irá analisar os próximos passos jurídicos.
“Eu compus a banca de defesa. Hoje foi um júri complexo, cansativo para todos. É um caso que teve impacto na vida de todo mundo e, agora, houve a condenação pelo conselho de sentença. Vamos analisar a sentença para decidir qual medida será tomada”, declarou o advogado.
O caso ganhou repercussão nacional pela complexidade dos fatos e pelo histórico de disputa judicial envolvendo a guarda da criança.

Foto: Arquivo/OCP News
Relembre o caso
O crime aconteceu em 11 de agosto de 2024, durante o fim de semana do Dia dos Pais, no bairro Czerniewicz, em Jaraguá do Sul (SC). De acordo com a investigação, Lenise Fernandes Sampaio invadiu o apartamento alugado pelo ex-marido antes da chegada dele e se escondeu em um armário por cerca de uma hora. Quando Wellington da Silva Cruz entrou no imóvel com o filho, então com 8 anos, foi surpreendido pela médica, que efetuou três disparos com uma pistola calibre 9 mm, registrada em seu nome como CAC (Colecionadora, Atiradora e Caçadora).
Imagens de câmeras de segurança exibidas no julgamento mostram Lenise chegando ao prédio pela manhã, observando o local e retornando no período da tarde com uma bolsa — onde estaria a arma. Às 16h48, ela entrou no edifício. Wellington e o filho chegaram às 16h51. Os disparos foram ouvidos entre 17h47 e 17h53.
Vizinhos acionaram a polícia após ouvirem os tiros. Um morador prestou os primeiros socorros à vítima, que foi salvo antes da chegada da polícia, cerca de três a quatro minutos depois. Lenise foi presa em flagrante no local, a prisão foi convertida em preventiva, e a arma apreendida.
O laudo pericial confirmou a materialidade do crime: marcas de tiro no apartamento, inclusive no banheiro, e uma fratura exposta no fêmur da vítima. Wellington foi atingido no abdome e na perna, passou por três cirurgias, ficou 20 dias internado, usou cadeira de rodas por 40 dias e muletas por mais quatro meses. Perdeu parte da perna por causa dos ferimentos.
A defesa de Lenise alegou legítima defesa, afirmando que ela teria sido agredida. A versão foi rejeitada pela Polícia Civil, que não encontrou elementos para sustentá-la.
As investigações revelaram uma disputa pela guarda da criança desde 2022, com registros de boletins de ocorrência e descumprimento de decisões judiciais. O Ministério Público apontou vingança e ciúme como motivação para o crime, já que o pai havia conseguido uma ordem judicial de busca e apreensão para ficar com o filho naquele fim de semana.
Um vídeo apresentado em juízo mostra Lenise utilizando ferramentas para arrombar a fechadura e entrar no apartamento.
Após a separação, o casal passou a viver em estados diferentes. Ela se mudou para o Nordeste e, depois, para Santa Catarina. Ele permaneceu no Mato Grosso do Sul e viajou a SC apenas para exercer o direito de visita.
O filho presenciou parte do crime. Ele estava no andar inferior do prédio, mas subiu após ouvir os disparos. Após o ocorrido, ficou sob os cuidados do Conselho Tutelar.
Apesar da gravidade dos fatos, Lenise não possuía antecedentes criminais.