Após mais de quatro décadas dedicadas à Polícia Militar de Santa Catarina, o major Edson Jesus da Silva, 59 anos, encerrou oficialmente sua carreira. Sua última atuação foi como subcomandante do 14º Batalhão da PM, em Jaraguá do Sul. Com uma jornada marcada por superações, coragem e comprometimento com a segurança pública, o oficial reflete agora sobre os principais marcos da sua trajetória e os desafios enfrentados ao longo do caminho.
Apesar de ter trabalhado em municípios como Chapecó, Florianópolis, Joinville e Jaraguá do Sul, foi em Guaramirim que ele estabeleceu sua conexão mais forte. “Mesmo quando atuei fora, nunca deixei de residir em Guaramirim. Casei aqui, criei minhas filhas aqui. Sempre tive os olhos voltados para a segurança da cidade”, contou.
De soldado a major: uma jornada por mérito
Edson ingressou na corporação aos 18 anos como soldado, atendendo à sugestão do pai, que o aconselhou a conhecer a rotina da vida militar antes de seguir carreira. Identificado com a missão policial desde cedo, subiu gradativamente todos os degraus da hierarquia, passando pelos postos de sargento até alcançar a graduação de subtenente.
Com 25 anos de serviço, decidiu prestar concurso para oficial e, já formado em Direito pela UNERJ, foi aprovado no novo modelo de formação da PM voltado a bacharéis. Concluiu o curso de oficialato em Florianópolis e, mais tarde, foi promovido a capitão e major.
“O meu objetivo sempre foi ser tenente. Dali em diante, as promoções foram consequências. Foram bônus”, afirmou.

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Salvamentos, confrontos e o combate às facções
Entre as muitas experiências marcantes vividas na PM, o período no Batalhão de Aviação de Joinville é lembrado como um dos mais intensos. Atuar em operações de resgate com o helicóptero Águia, muitas vezes em situações de risco extremo, foi o que mais o tocou.
“Pular no mar, fazer rapel em encostas para salvar alguém, transportar vítimas em estado grave… Isso tudo fazia uma diferença real. Um minuto a menos poderia significar a vida de uma pessoa. Era gratificante saber que estávamos fazendo a diferença.”
Entre os episódios de maior tensão, destaca o salvamento de uma adolescente que era arrastada pela correnteza durante um carnaval. O helicóptero da PM sobrevoava a área quando ele avistou o desespero dos pais na areia. Imediatamente, saltou ao mar e conseguiu resgatar a jovem. “Foi muito emocionante. Ao sair com ela nos braços, a praia inteira aplaudiu.”
Mas a rotina também incluiu confrontos armados. No período em que comandou Guaramirim, enfrentou casos de sequestro e perseguições. Em uma das ocorrências mais graves, criminosos ligados ao Comando Vermelho sequestraram dois policiais em Jaraguá e seguiram em fuga até Guaramirim, onde foram interceptados após mais de 30 horas de buscas.
Outro desafio significativo ocorreu em 2019, quando houve tentativa de instalação de uma célula do PGC na região da Corticeira, em Guaramirim. Com uma série de ações integradas, 32 pessoas ligadas à facção foram presas em cerca de um ano, impedindo a consolidação da organização criminosa no município.
“Não quer dizer que não há tráfico, mas conseguimos impedir a estruturação de facções. Isso muda a dinâmica do crime local.”
Evolução tecnológica e profissionalização
Ao longo dos 41 anos de carreira, Edson acompanhou uma verdadeira revolução tecnológica e estrutural na Polícia Militar. Quando chegou a Guaramirim, em 1989, a única viatura disponível era um Corcel II doado pelo Fórum — anteriormente apreendido num assalto. Os coletes balísticos eram raridade, o armamento era precário e a comunicação limitada.
Hoje, a realidade é bem diferente. Viaturas modernas, armamento de ponta e a implantação de sistemas como rádio digital, videomonitoramento e viaturas blindadas colocam a PM de Santa Catarina entre as mais bem equipadas do país.
“A estrutura evoluiu de forma impressionante. A PM de hoje não se compara àquela em que entrei. É outra polícia”, avaliou.
Além dos recursos físicos, a preparação dos policiais também mudou. O treinamento de tiro, por exemplo, deixou de ser estático e passou a simular situações reais, com exercícios de tiro em movimento, sob estresse e desgaste físico. “Isso fez muita diferença. O policial precisa estar pronto para agir em situações caóticas.”
Outro ponto destacado por Edson é a preocupação crescente da corporação com a saúde mental dos militares.
“A atividade policial é desgastante. Há hoje mais atenção para o bem-estar psicológico da tropa, o que é essencial.”

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Valores e legado
Ao relembrar sua formação, o major faz questão de ressaltar os valores que sempre nortearam sua conduta: lealdade, integridade, honestidade e cumprimento das leis. “Em 41 anos, nunca fui punido disciplinarmente, nem respondi a processo criminal. Desde o início, tracei como meta ser um policial correto.”
Esses princípios, segundo ele, foram fundamentais para o sucesso na carreira e para conquistar o respeito da tropa e da comunidade. “O policial precisa ser exemplo, mesmo quando ninguém está olhando.”
Comenda Peabiru e reconhecimento
Em agosto deste ano, Edson foi homenageado pela Câmara de Vereadores de Guaramirim com a Comenda Peabiru, honraria concedida a personalidades de destaque do município. Ao receber a medalha, ele fez questão de dividir o reconhecimento com seus colegas de farda:
“Essa homenagem representa todos os policiais de Guaramirim, os que estiveram comigo e os que ainda atuam. É um reconhecimento à Polícia Militar como instituição.”
A nova etapa
Agora na reserva, o major afirma que pretende tirar um período de descanso, recarregar as energias e dedicar-se à família. Embora tenha recebido convites para novos projetos, afirma que o momento é de pausa. “Foram 41 anos de muita entrega. A atividade policial é extenuante. Vou descansar um pouco e, depois, quem sabe, avaliar novas possibilidades.”

Registro do major Edson Jesus da Silva, que segue para a reserva, ao lado do comandante tenente-coronel João Carlos Benassi Borges Kuze. Foto: Divulgação