Eu, septuagenário e, desde 2009, aposentado “no papel”, escuto muito, que “já” está na hora de eu parar. E eu logo disparo, em “manezês” de Florianópolis, algo que está na ponta da língua e nas profundidades do coração e mente: “é … tu que dixxx !!! … di xeitu ninhum, não tem?!?”
Contudo, pausar cada vez mais, aí, sim, pois o cansaço na “antepenúltima” idade chega bem mais rápido que quando na flor da idade. Aliás, ao longo da vida profissional, sempre fiz 3 pausas de 7 dias cada no ano, pedalando ou maratonando pelo mundo, o que no total, correspondiam a 21 dos 30 dias corridos de férias anuais no Brasil. Lembrando que na França, as férias são de 25 dias úteis, na Alemanha 20 dias úteis, no Reino Unido 28 dias corridos e nos Estados Unidos zero dias (pois lá, as férias não são obrigatórias). O fato é que a cultura das férias anuais é relativamente recente na história do trabalho humano.
Até a Revolução Industrial (1760-1840), a ideia de parar um mês inteiro por ano para descansar era impensável para camponeses, artesãos ou trabalhadores assalariados. O que existia eram pausas ligadas a rituais religiosos (dias santos, festas agrícolas, feriados comunitários), intervalos estes frequentes, mas curtos. Com a Revolução Industrial, o trabalho tornou-se contínuo e desgastante. Disso, houve pressão social e sindical para regulamentar jornadas e conceder férias pagas.
Atualmente, em um mundo marcado pela velocidade, produtividade e competição incessantes, pausar – para alguns – ainda pode fazê-los sentir-se culpados, como se o valor da existência humana estivesse diretamente atrelado ao quanto se produz.
Que bom que existe a tal “Parábola do Machado Afiado”, atribuída a ensinamentos orientais, convidando-nos a refletir sobre a importância das pausas no caminho da realização. Ei-la: Dois lenhadores foram contratados para cortar árvores numa floresta. O primeiro era jovem, forte e ambicioso. O segundo era idoso, experiente e calmo. Logo no primeiro dia, o jovem, com toda energia, começou a cortar árvore atrás de árvore, sem parar. O idoso, por sua vez, trabalhava em um ritmo, mas fazia pausas frequentes. O jovem ria das pausas do idoso e pensava: “Vou mostrar que sou melhor que ele. Enquanto ele para para descansar, eu sigo cortando”.
Mas, ao final do dia, para sua surpresa, o idoso havia derrubado muito mais árvores. Intrigado, o jovem perguntou: – Como você conseguiu cortar mais árvores que eu, se eu trabalhei sem parar e você descansou várias vezes? O idoso respondeu com um sorriso: – Enquanto você só cortava, eu parava para afiar o machado.
Moral da “estória”: o machado é uma metáfora poderosa para habilidades, mente, corpo e espírito, pois quando usamos um machado sem pausar, ele perde o fio, tornando-se menos eficiente. O mesmo acontece conosco. Quanto mais trabalhamos sem descanso, menos produtivos e eficazes nos tornamos.
Considerando o jovem da fábula como os “impulsos da juventude moderna” (energia sem direção, produtividade sem estratégia, pressa sem propósito) e o idoso como a “sabedoria adquirida com o tempo” (percepção de pausas não como perda de tempo, mas como investimento no próprio desempenho), concluo comigo: pausar não deve significar parar em definitivo a caminhada rumo à construção de meu legado, muito pelo contrário.
Disto, continuarei firme com minhas Consultorias Empresariais, Pod Casts, Colunas, Projeto “Barra Velha Rumo à Excelência” e 1001 leituras físicas e digitais, sempre intercalando pausas, quiçá frequentes, tudo conforme Abraham Lincoln: “se eu tenho oito horas para derrubar uma árvore, eu devo passar seis afiando meu machado”.
Ah, e só pararei se for para recomeçar do jeito certo, pois segundo o filósofo romano Sêneca, “nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde vai”.