Em um momento difícil, nasce a chance de transformar a vida de outra pessoa. A doação de órgãos, ato que ganha destaque durante o Setembro Verde, contribui para a saúde e a qualidade de vida do receptor e ajuda a confortar a família de quem perde um ente querido. Tudo isso em um processo marcado por acolhimento, segurança e credibilidade.
Em Joinville, o Hospital Municipal São José é referência no atendimento a casos de traumatismo craniano e acidente vascular cerebral, duas das principais causas de morte encefálica. Neste ano, até agosto, das 18 famílias de pacientes com possibilidade de doação atendidos no hospital, 12 autorizaram o procedimento, resultando na doação de 22 rins, 11 fígados, três pâncreas e um coração.
Mas até que um transplante de órgãos seja realizado, há um longo trabalho de acolhimento à família do doador, além de uma logística rápida e segura para que os órgãos cheguem aos receptores. Trata-se de uma corrida contra o tempo para viabilizar o transplante, muitas vezes realizado em um estado diferente do local de captação.
Como é feita a doação de órgãos
A doação de órgãos pode acontecer de duas formas: com o doador vivo, no caso da doação de um dos rins ou partes do fígado, medula óssea e pulmão; e com o doador morto, o que possibilita a doação de órgãos como coração, pulmão, fígado, rim, pâncreas, intestino, córnea, ossos e pele, a depender da causa da morte e da viabilidade dos órgãos.
No caso da captação de doador morto, isso é possível apenas quando há diagnóstico de morte cerebral causada, por exemplo, por traumatismo craniano ou acidente vascular cerebral. Para atestar a morte, são realizados diferentes testes que têm o objetivo de verificar se há atividade cerebral e se o paciente apresenta reflexos. Apenas após a realização de todos os testes com resultados negativos é possível diagnosticar a morte encefálica.
“A conversa sobre a doação só pode acontecer depois do óbito confirmado, após todos os testes. E a palavra principal é cuidado: é preciso tato, sensibilidade. Só tocamos no assunto quando a família passou pelo momento da negação, quando houve entendimento sobre a morte”, destaca Liliani Azevedo, coordenadora da Comissão Hospitalar de Transplantes do Hospital Municipal São José.
O acolhimento às famílias é essencial e a doação contribui, inclusive, para amenizar o luto. “ O que a gente percebe das pessoas que optaram pela doação é que falar de como era o familiar em vida, traz conforto. Saber que há alguém vivendo neste plano com o familiar que partiu diminui o luto e o sofrimento”, salienta Liliani.
Corrida contra o tempo garante a ponte entre doador e receptor
Após a autorização da doação de órgãos pela família, o passo seguinte é a realização de exames para verificar a viabilidade dos órgãos – algumas doenças infecciosas, por exemplo, impedem o transplante. A remoção é realizada em centro cirúrgico.
Já o receptor do órgão doado é definido conforme a lista única administrada pela Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina (SC Transplantes), que também organiza a captação e a logística até o receptor. A definição é feita de acordo com diversos fatores, como a compatibilidade entre doador e receptor, além do estado de saúde do paciente.
Doação de órgãos só pode ser autorizada pela família
Segundo a legislação brasileira, apenas os familiares de primeiro grau, como pai, mãe, irmão, esposa e filhos, podem autorizar a doação de órgãos no caso de doador morto. É possível, inclusive, assinar uma Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos manifestando a vontade de ser doador para ajudar a família neste momento.
Dessa forma, a principal recomendação é expressar em vida, para a família, o desejo de ser doador. “Falar que tem o desejo de doar facilita a decisão da família”, explica Liliani.
Nesse sentido, campanhas como o Setembro Verde promovem orientação e a oportunidade de diálogo sobre o assunto. “A conscientização destaca a seriedade do processo e permite que as pessoas conversem sobre isso em casa”, complementa.
Ações destacam a importância da doação de órgãos em Joinville
Durante o Setembro Verde, o Hospital Municipal São José oferece capacitação para os profissionais da unidade. “O objetivo é que todos entendam como funciona o processo para disseminar orientações fora do hospital e contribuir quando estamos em protocolo de doação”, diz Liliani.
Além disso, no dia 24/9 ocorrem atividades internas com panfletagem e outras ações de conscientização no hospital. Já em 27/9, Dia Nacional da Doação de Órgãos, ocorre a Missa do Doador e dos Pacientes Transplantados no Santuário Sagrado Coração de Jesus (Rua Inácio Bastos, 308 – Bucarein) para acolher famílias de doadores e receptores de órgãos.