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A vida em movimento: cadeirante conhece o mundo viajando em um triciclo

Por: Luana Maia

04/09/2025 - 07:09 - Atualizada em: 04/09/2025 - 15:54

Paisagens deslumbrantes, milhares de quilômetros percorridos e muita aventura. Foi assim que o empresário Giuliano Nogaroli, de 47 anos, morador de Barra Velha, no litoral Norte catarinense, realizou um feito que vai muito além de atravessar fronteiras. Cadeirante desde 1996, ele viaja o mundo com um triciclo adaptado e já realizou rotas como cruzar o Oceano Atlântico ao Pacífico em uma rota que inclui o deserto do Atacama.

A ideia de ir até o Atacama de triciclo nasceu em conversas com amigos viajantes e ganhou força após uma perda dolorosa. O veículo, pintado de amarelo e batizado de “Cássio Amaídio”, leva o nome de seu primo, falecido durante a pandemia de Covid-19.

Foi ele quem incentivou Giu a não desistir do sonho, mesmo após ter sido enganado na compra de seu primeiro veículo. “Viajo sempre levando um pedaço dele comigo, até nas roupas que uso”, conta. A rota, que foi de novembro de 2023 a fevereiro de 2024, trouxe amizades, desafios e cenários que ficarão marcados para sempre na sua memória.

Viajando direto desde 2023, agora o trajeto mudou e segue para três países da América do Sul: Paraguai, Bolívia e Peru. Durante sua trajetória de viagens, já foram cinco países visitados e mais de 50 mil quilômetros rodados em uma experiência que mistura aventura, autodescoberta e alguns perrengues.

Paixão por viagens

Morador de Barra Velha, sua paixão pelo mundo das viagens começou cedo. Era atleta e viajou para muitas cidades por meio do esporte. Mas o gosto pelo novo jeito de viajar surgiu em 2018 acompanhando vídeos de outros viajantes pelo Youtube.

Proprietário de uma loja de esportes, foi conversando com clientes e amigos que começou a se aprofundar e colocar em prática o plano de se aventurar pelo mundo.

Da vida de atleta às estradas

Apaixonado por esportes, durante sua juventude Giu praticava basquete, futebol, futsal e ainda corrida de rua. Foi quando uma fatalidade mudou a rota de toda a sua vida.

Aos 19 anos, sofreu um grave acidente na BR-101. A via ainda não era duplicada e Giu se perdeu ao volante, saiu da pista e capotou o carro. A batida resultou em quatro vértebras quebradas e uma costela que perfurou seu pulmão. “Passei em três hospitais até fazer a cirurgia e descobrirem que uma costela havia atravessado o pulmão”, relembra Giu.

Apesar do acidente, Giu não se deixou abalar pelas limitações do corpo. Praticou esportes como basquete em cadeira de rodas, handebol, tênis de quadra e mesa, natação, paraciclismo e corrida de rua. Com seu talento, representou Joinville por 17 anos no basquete e Balneário Camboriú no handebol de 2018 a 2023.

A vivência no esporte ajudou a moldar a disciplina necessária para enfrentar os desafios da estrada, desde problemas mecânicos até a adaptação da rotina como cadeirante em locais sem estrutura adequada.

Um novo ritmo

Suas aventuras iniciaram em 2019 viajando com uma caminhonete, um trailler, e seus dois cachorros. “Um dia eu viajei para Curitiba e para o interior de Campo Largo. Primeira vez que eu fui de barraca e gostei”.

Desde então, ele mantém o ritmo das viagens e aprende algo novo a cada dia. “É nos perrengues que aparecem as pessoas mais incríveis. Muitos se tornaram amigos para a vida toda”, lembra. O triciclo desperta curiosidade por onde passa e, segundo Giu, policiais nas fronteiras até pedem fotos com ele.

A passagem por diferentes lugares do Brasil, Paraguai, Argentina, Chile e Bolívia trouxeram muitos registros e amizades para a vida toda. Agora, ele já inicia a preparação para seu próximo destino, o Peru. Para Giu viajar é uma experiência única, “todo mundo deveria ter essa experiência de passar um período longe de casa e conhecer lugares que que sempre sonhou em conhecer.”

A viagem não tem data para acabar e Giu ainda planeja atravessar a Austrália, continente que ele descreve como um universo à parte, repleto de contrastes naturais, com deserto, pântanos, selva e mar.

Uma jornada de inspiração

Seja em rodas de conversa ou nas redes sociais, Giu inspira. Seu perfil, embora atualizado de forma despretensiosa, atrai pessoas que se veem refletidas em sua coragem. “Já recebi mensagens de cadeirantes que compraram triciclos depois de me conhecer e começaram a passear. É uma sementinha que a gente vai plantando”, afirma.

Acostumado à cadeira de rodas desde o acidente de carro, Giu não a enxerga como um obstáculo, mas como ferramenta de conquistas. “Ela transformou minha vida. Se não fosse a cadeira, talvez eu não tivesse realizado tantas coisas”, reflete.

Enquanto não desembarca na Austrália, Giuliano segue na estrada, sempre com um livro na bagagem e a certeza de que viajar é mais que deslocamento, é encontro com pessoas, com histórias e conexão consigo mesmo.

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Luana Maia

Acadêmica de Jornalismo e redatora de cotidiano e entretenimento.