Por Francine Sevignani
Jornalista e mãe atípica
Expressões do tipo “na minha época não tinha tanto autista” ou “autismo está moda” são exemplos de como ainda precisamos falar sobre o espectro também na vida adulta. Isso porque o autismo sempre existiu, o que não tínhamos eram diagnósticos, e hoje nós temos.
Por isso, é cada vez mais comum adultos se descobrirem neurodivergentes. A grande maioria, inclusive, junto com os próprios filhos no consultório médico.
Aquele aluno “esquisito” na sala de aula, aquele menino tímido demais, ou aquela pessoa considerada “fresca” porque não comia qualquer alimento, na verdade, eram autistas, só não sabiam disso. Nem a gente.
Essas pessoas cresceram, foram para o mercado de trabalho, se apaixonaram, constituíram família e tornaram-se adultos funcionais, autossuficientes. Porém, por trás de tudo isso, também desenvolveram quadros de ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamentos, de se manterem no emprego, de manter um casamento. Tudo isso porque cresceram sem as intervenções necessárias, sabendo que eram diferentes, mas não entendendo o porquê.
Pensando nisso, a Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, presidida pelo deputado estadual Dr. Vicente Caropreso, médico de Jaraguá do Sul, lançou neste mês a cartilha “Diagnóstico tardio do autismo – um olhar necessário e urgente”.
Mais que uma simples apostila, essa ferramenta escrita por profissionais experientes e capacitados reúne informações, esclarecimentos e histórias de quem enfrentou o desafio do diagnóstico tardio. Resultado da Lei Estadual nº 18.972/2024, de autoria também de Caropreso, que garante o direito de pessoas adultas e idosas ao diagnóstico tardio do autismo, o material tem como missão informar, conscientizar e garantir direitos para quem permaneceu invisível por tanto tempo.
A cartilha oferece ainda informações sobre os sinais, o diagnóstico em si, e também sobre os direitos das pessoas autistas na vida adulta, porque como mencionei no início, ninguém deixa de ser autista quando cresce, e seus direitos não podem ser diminuídos.
E muitas vezes são …
Além do enfrentamento ao próprio diagnóstico, adultos autistas também enfrentam dificuldades em acessar seus direitos com dignidade. Hoje, muito se fala em autismo, mas o foco principal acaba sendo as crianças. Temos Apaes, Amas, programas de capacitações profissionais direcionados aos jovens, mas quase nada ao adulto autista. Faltam programas de acolhimento, terapias necessárias e empatia. Ao adulto, sobra o julgamento.
Até mesmo os direitos garantidos por lei à pessoas com deficiência (lembrando que autismo não é deficiência, mas por lei, autistas têm os mesmos direitos) são dificultosos ao adulto. A isenção de IPVA é um exemplo. Pais com crianças com autismo conseguem o beneficio, o adulto autista nem sempre.
É preciso urgentemente um olhar a estas pessoas. Políticas públicas assertivas, acolhimento, conscientização e respeito. É preciso apoio.