Nesta semana, escrevo diretamente da maior ilha do Mediterrâneo: a deslumbrante Sicília, no sul da Itália. Um destino que, além de paisagens deslumbrantes, carrega uma herança cultural riquíssima — e que tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para as minhas receitas e memórias afetivas.
A Itália é um país conhecido pela força e pela identidade da sua gastronomia, mas o que muitos não percebem de imediato é o quanto essa cozinha é diversa e regionalizada. Cada região, cada província, tem sabores únicos, modos de preparo distintos e ingredientes que traduzem a geografia e a história local. E a Sicília é um exemplo exuberante dessa autenticidade.
Rodeada pelo mar, a ilha tem uma forte tradição na culinária com frutos do mar. É fácil entender: com uma costa tão generosa, o peixe fresco é uma escolha natural — especialmente o peixe-espada, que aparece grelhado, em molhos ou recheando sanduíches. Também são protagonistas o polvo, a lula, os mexilhões e outras delícias do mar, que brilham em pratos como saladas mornas, risotos ou massas com molho de tomate fresco e toque de limão.
Mas a cozinha siciliana vai muito além dos frutos do mar. É uma culinária de contrastes, herança das várias civilizações que passaram por aqui — gregos, árabes, normandos. Entre os pratos mais emblemáticos, vale destacar:
Arancini: bolinhos de arroz recheados (com carne, queijo ou até frutos do mar), empanados e fritos, perfeitos para comer com as mãos. Cada cidade tem sua versão.
Pasta alla Norma: uma massa tradicional com molho de tomate, berinjela frita, ricota salgada e manjericão. É simples, mas com sabor profundo.
Melanzane alla milanese: fatias de berinjela empanadas, crocantes por fora e macias por dentro, geralmente servidas como entrada ou acompanhamento.
Cannoli: talvez a sobremesa siciliana mais famosa — massa crocante recheada com creme de ricota doce, frequentemente com pedacinhos de chocolate ou frutas cristalizadas.
Cassata siciliana: um bolo festivo, colorido e exuberante, feito com ricota, frutas cristalizadas e marzipã, símbolo da influência árabe na ilha.
Outros pratos que encantam os sentidos incluem o caponata (um refogado agridoce de berinjela, aipo, alcaparras e vinagre), os panelle (pastéis fritos de farinha de grão-de-bico, típicos de Palermo), e os refrescantes granitas de limão ou amêndoas, que são mais
cremosos que uma raspadinha, perfeitos para o verão escaldante da ilha.
Viajar é, sem dúvida, uma oportunidade de aprendizado — não só cultural, mas também sensorial. É quando expandimos nosso paladar, conhecemos ingredientes diferentes, e criamos memórias afetivas que ficam impressas no sabor de um prato, no aroma de um tempero, na textura de um doce. A cozinha siciliana tem esse poder: ela alimenta o corpo, encanta os olhos e toca o coração.
