Para muitos, o aniversário é sinônimo de festa, presentes e reencontros com amigos. Mas, para uma parcela significativa da população, essa data é vista com desconforto, ansiedade ou até aversão. A recusa em comemorar aniversários pode parecer incompreensível para quem valoriza esses momentos, mas profissionais da saúde mental apontam que há razões profundas — e legítimas — por trás desse sentimento.
A pressão por “estar bem”
De acordo com a psicóloga clínica Dra. Marina Alves, especializada em saúde emocional do adulto, o aniversário pode trazer uma pressão emocional difícil de lidar.
“Existe uma expectativa social de que a pessoa esteja feliz, rodeada de amigos, e celebrando conquistas. Para quem está passando por momentos difíceis, como luto, desemprego, ou questões existenciais, esse dia pode se tornar um lembrete cruel do que não foi realizado”, explica.
A psicóloga destaca que, para alguns, o aniversário simboliza o passar do tempo e pode ativar sentimentos de inadequação, cobrança interna e até fracasso.
Trauma e memórias negativas
O psiquiatra Dr. Luís Montenegro, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que experiências traumáticas associadas à data também explicam a aversão.
“Algumas pessoas tiveram experiências ruins em aniversários anteriores — como brigas familiares, sensação de abandono ou ausência de celebração — e essas memórias se cristalizam. O cérebro aprende a associar a data a sentimentos ruins”, afirma.
Segundo ele, nesses casos, a evitação da comemoração funciona como um mecanismo de autoproteção.
Introspecção e desconforto social
Outro motivo frequente é o simples desconforto com a exposição. Pessoas introvertidas ou com ansiedade social podem se sentir sufocadas com a ideia de serem o centro das atenções.
“Cantar parabéns, abrir presentes na frente dos outros, ter que agradecer mensagens — tudo isso pode parecer um fardo para quem não se sente confortável com tanta visibilidade”, complementa Dra. Marina Alves.
Uma escolha pessoal legítima
Embora a sociedade muitas vezes veja a comemoração de aniversários como obrigatória, especialistas defendem que optar por não celebrar deve ser encarado com naturalidade.
“Cada pessoa lida com o tempo e com os rituais de maneira diferente. O mais importante é respeitar os próprios limites emocionais”, diz Dr. Luís Montenegro.
Alguns preferem marcar a data de maneira discreta — com uma reflexão silenciosa, uma caminhada ou um jantar íntimo. Outros, simplesmente, preferem ignorá-la.
Quando procurar ajuda?
Evitar comemorar o aniversário não é, por si só, um problema. No entanto, se a data desencadeia sofrimento intenso, tristeza prolongada ou isolamento, pode ser um sinal de que algo mais profundo precisa ser investigado.
“Se o aniversário se torna um gatilho para crises emocionais, é recomendável procurar um psicólogo. Pode haver questões não resolvidas que merecem atenção”, orienta Dra. Marina.
Em um mundo que valoriza celebrações públicas e redes sociais cheias de felicitações, entender que nem todos se sentem confortáveis com isso é um passo importante para o respeito às diferenças emocionais.
*Com informações do Uol