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De Marte para SC: UFSC traz tecnologia de análise de solo utilizada pela Nasa ao Estado

Técnica LIBS para análise de amostras no Lamaf. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Por: Pedro Leal

06/06/2025 - 21:06 - Atualizada em: 06/06/2025 - 21:07

Em Marte, o robô Perseverance da Nasa realiza análises do solo utilizando a técnica de Espectroscopia de Emissão Óptica com Plasma Induzido por Laser (LIBS). Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a mesma técnica será utilizada no Laboratório Multiusuário de Agro-Fotônica (Lamaf), inaugurado em dezembro de 2024 no Centro de Ciências Físicas e Matemática (CFM), em Florianópolis. Aqui na Terra, equipamentos inéditos em Santa Catarina ajudarão a fazer a análise rápida e precisa do solo e podem evitar doenças em plantações.

Idealizado por meio de uma parceria entre o Centro de Ciências Agrárias (CCA) e o Departamento de Física, o Lamaf integra tecnologias de ponta em espectroscopia óptica. Com a incidência de luz, a técnica LIBS permite o reconhecimento de todos os componentes químicos de uma amostra, podendo ser utilizada para verificar a presença de fertilizantes, minerais, resíduos de cimento, vidro e outros. Com isso, além de pesquisa aplicada, o laboratório poderá oferecer análises para atividades de agropecuária e de licenciamento ambiental.

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O Lamaf surgiu da necessidade de atender demandas do setor agropecuário catarinense, especialmente das cadeias de hortaliças, suínos e aves, setor responsáveis por aproximadamente 64% das exportações e por 30% do PIB estadual, segundo dados da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc). A UFSC poderá contribuir diretamente para o aumento da produtividade e da sustentabilidade dessas cadeias, oferecendo soluções como monitoramento de fertilidade do solo e detecção de contaminantes.

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Alinhada aos princípios da Química Verde e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), a abordagem do laboratório dispensa o uso de reagentes químicos poluentes. Além da LIBS, outras duas tecnologias complementares — Raman e OCT —, aliadas à inteligência artificial, fornecem informações de modo mais rápido e completo do que os métodos tradicionais. Análises de solo, líquidos e vegetais podem ser realizadas todas pelo mesmo laboratório.

Para mais de uma área do conhecimento

Multidisciplinar desde a concepção, o Lamaf tem utilidade para mais áreas do conhecimento além da física e ciências agrárias. Gustavo Nicolodelli, professor do Departamento de Física e coordenador do Lamaf, acredita que as técnicas da espectroscopia alcançam pesquisas na Odontologia e Engenharia Mecânica. Essa abrangência corresponde ao caráter “multiusuário” do laboratório, que é resultado de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

O projeto foi inicialmente articulado com dois programas de pós-graduação da UFSC: o Programa de Pós-Graduação em Física (PPGFSC) e o Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas (PPGA), o que reforça a contribuição para a formação de recursos humanos qualificados em áreas estratégicas para o estado. Conta ainda com a colaboração dos professores Leonardo Furini, da Física, e Arcângelo Loss, da Engenharia Rural.

A estrutura se destina ao atendimento de instituições públicas e privadas como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto do Meio Ambiente de SC (IMA), oferecendo ferramentas analíticas capazes de monitorar impactos ambientais e auxiliar órgãos reguladores em processos de fiscalização e planejamento ambiental.

Tecnologia

Importado da República Tcheca, o equipamento do Lamaf é o primeiro de Santa Catarina que utiliza a LIBS. A amostra, que pode ser terra ou grãos moídos, por exemplo, é levada a uma prensa e se torna um pequeno disco, menor que uma moeda. Com apenas esse material, a máquina é capaz de detectar todos os componentes químicos da amostra utilizando um laser de alta potência que gera um plasma na superfície.

O sensor capta a luz e fornece os dados. Mas para que as informações possam ser compreendidas, é necessário calibrar o equipamento, processo em que o professor Gustavo e estudantes de graduação e pós-graduação da UFSC estão trabalhando.

A Tomografia de Coerência Óptica (OCT), por sua vez, é utilizada para analisar materiais orgânicos maiores (permitindo mapeamento óptico tridimensional), seja uma folha, um fruto ou outros. Também através da incidência de luz, o equipamento mapeia o objeto, que pode ser visualizado com diferentes cores em uma tela. O professor Arcangelo, que lidera essa atividade no Lamaf, indica a utilidade para identificação prematura de doenças em vegetais.

O terceiro equipamento, o Raman, é um espectrômetro que permite a análise de amostras líquidas. As três técnicas combinadas possuem uma gama de aplicações ambientalmente limpas, que estarão disponíveis à serviço da população.

 

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Pedro Leal

Analista de mercado e mestre em jornalismo (universidades de Swansea, País de Gales, e Aarhus, Dinamarca).