Convivemos com uma inaceitável e vergonhosa mazela. Os números são mais do que estatísticas. São vidas. Trinta e seis casos de crimes sexuais contra crianças registrados em apenas quatro meses em Jaraguá do Sul. Trinta e seis histórias de inocência violada, de traumas que podem durar uma vida inteira, de uma violência que macula qualquer sociedade que se pretenda civilizada. Essa mazela não é um problema distante, um pesadelo alheio. Está aqui, nas nossas ruas, nas nossas casas, muitas vezes escondida sob o manto do silêncio pela ameaça. A campanha lançada pela Prefeitura e pela Câmara de Vereadores é um passo necessário e urgente, mas não basta. Combater esse mal exige mais do que isso – exige ação firme, prevenção eficaz, punição severa, coragem em denunciar e uma mudança cultural. Em primeiro lugar, é essencial educar as crianças desde cedo, de forma lúdica e segura, sobre seus direitos e sobre a diferença entre carinho e violação. Programas como “Defenda-se”, já adotados em algumas cidades, mostram que a informação empodera e quebra o ciclo do silêncio. Além disso, professores e profissionais da saúde devem ser capacitados para identificar sinais de abuso, pois muitas vítimas dão indícios que passam despercebidos. Escolas e postos de saúde precisam se transformar em espaços de proteção e denúncia. Outro ponto crucial é a celeridade judicial. Criminosos sexuais não podem contar com a morosidade da Justiça. É urgente pressionar por varas especializadas, penas mais duras e monitoramento eletrônico para condenados. Mas a Justiça sozinha também não resolve tudo – a comunidade precisa estar envolvida. Campanhas midiáticas são importantes, mas precisam chegar às igrejas, aos times de futebol, às reuniões de bairro. A sociedade deve entender que proteger crianças é dever de todos, não só do Estado. Denunciar não é “se intrometer”, mas, salvar uma vida. E não podemos esquecer das vítimas. Muitas crianças sofrem caladas porque não têm apoio. Centros de acolhimento psicológico especializados são essenciais para reconstruir vidas destroçadas. Jaraguá do Sul é uma cidade conhecida por seu desenvolvimento e qualidade de vida, mas esse progresso não é legítimo se nossas crianças estão inseguras. Esses 36 casos não é só um alarme, é um grito. A resposta, portanto, deve ser preventiva, educativa e, acima de tudo, coletiva. Chega de silêncio. A inocência de uma criança não tem preço, e a responsabilidade por protegê-la é de todos nós. Unimo-nos!