Muitas empresas nascem de um impulso empreendedor. No início, prevalecem a coragem, a dedicação incansável e, com frequência, a informalidade nas relações. Sócios apertam as mãos, fornecedores confiam na palavra, parcerias se firmam com base na boa-fé. Essa dinâmica, comum nos estágios iniciais de um negócio, muitas vezes é suficiente para dar o primeiro passo. Mas o tempo passa, o faturamento aumenta, as estruturas se expandem — e os riscos também.
Com o crescimento, surgem novos elementos: equipes maiores, novos mercados, financiamentos, aportes de capital, mudanças societárias, fornecedores estratégicos e contratos de maior complexidade. O cenário jurídico e regulatório se adensa, exigindo um nível de formalização que vá além da mera confiança. No entanto, é bastante comum que empresas mantenham contratos desatualizados, assinados anos atrás, sem revisão jurídica periódica — ou, pior, que operem com acordos verbais ou documentos frágeis, descolados da realidade atual.
Muitas disputas comerciais têm origem em cláusulas mal redigidas ou mal compreendidas. Isso demonstra que o contrato não é um mero acessório burocrático: é uma ferramenta estratégica de governança empresarial. Ele previne litígios, alinha expectativas, formaliza obrigações, delimita responsabilidades e protege o caixa da empresa contra perdas evitáveis.
Além disso, contratos bem estruturados refletem a realidade atual do negócio, incorporando atualizações legislativas, tributárias e societárias; reduzem incertezas jurídicas e riscos operacionais, fortalecendo a reputação da empresa no mercado; conferem segurança em processos de M&A, sucessão ou entrada de novos sócios, onde due diligences rigorosas exigem documentação sólida; servem como base para negociações estratégicas, como financiamentos, franquias, licenciamento de marcas ou acordos internacionais.
É essencial que o empresário revise periodicamente os contratos em vigor, principalmente aqueles de maior impacto financeiro ou estratégico. A cada nova etapa de crescimento, a empresa deve se perguntar: “Esses contratos ainda refletem nossa operação, estrutura de custos e modelo de negócios?”
Um contrato antigo pode conter cláusulas obsoletas, lacunas de responsabilidade, ausência de mecanismos de resolução de conflitos eficazes, e até falhas na proteção da propriedade intelectual ou na limitação de responsabilidade. Além disso, mudanças legislativas exigem constante adequação contratual.
Revisar contratos não é uma despesa — é um investimento na segurança jurídica e na sustentabilidade do crescimento empresarial. A confiança entre sócios e parceiros continua sendo essencial, mas ela precisa ser amparada por documentos que traduzam essa relação de forma técnica, clara e estratégica. Afinal, contratos não substituem a confiança: eles a sustentam.
Dra. Fernanda Fachini
OAB: OAB/SC 20.229
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