Esses desafios envolvendo, notadamente, crianças e adolescentes, muitos deles mortais, é um sintoma alarmante da irresponsabilidade coletiva que domina a era digital, cujo propósito essencial é o engajamento. Embora seja tentador culpar apenas os jovens ou as plataformas de redes sociais, a verdade é que essa epidemia tem raízes mais profundas: uma sociedade que glorifica a viralização a qualquer custo, pais ausentes e uma indústria tecnológica que lucra muito com o engajamento tóxico.
As redes sociais, como TikTok, Instagram e YouTube, são cúmplices diretos. Seus algoritmos promovem conteúdos perigosos porque chocam, geram cliques e, consequentemente, lucros exorbitantes. A lógica é perversa: quanto mais extremo o desafio, maior a visibilidade. Plataformas que deveriam moderar ativamente esse tipo de conteúdo muitas vezes só agem depois que a tragédia acontece – e mesmo assim, de forma insuficiente.
No entanto, a família também falha. Muitos pais, distraídos por suas próprias vidas digitais, negligenciam a supervisão dos filhos. Adolescentes em formação são expostos a esses desafios sem qualquer filtro crítico, buscando validação em um ambiente que recompensa a audácia e não o bom senso. A falta de diálogo em casa deixa os jovens vulneráveis à pressão dos pares virtualizados, onde a “coragem” é medida pelo risco de morte.
A escola, por sua vez, muitas vezes trata o tema de forma superficial, sem educar para o uso crítico da tecnologia. E o Estado? Legisladores parecem mais preocupados em aparecer na mídia do que em criar políticas efetivas de regulamentação digital.