A sociedade contemporânea, marcada pela revolução digital, cria paradoxos: enquanto a tecnologia promete inclusão e democratização do conhecimento, ela também gera novas formas de exclusão. O novo excluído não é apenas aquele marginalizado pela pobreza clássica, mas também o indivíduo desconectado — seja por falta de acesso, alfabetização digital ou adaptação às demandas do capitalismo informacional.
Esse perfil é heterogêneo: inclui idosos que não dominam plataformas digitais, trabalhadores substituídos por algoritmos, jovens periféricos sem infraestrutura para educação remota e até profissionais que, embora conectados, não conseguem acompanhar a velocidade das transformações. A exclusão tecnológica reforça desigualdades estruturais, pois o acesso à internet e a habilidades digitais tornaram-se requisitos básicos para emprego, educação e participação social.
Zygmunt Bauman já alertava para a “modernidade líquida”, onde a fluidez das relações e a volatilidade do conhecimento marginalizam quem não se adapta. No contexto digital, isso se intensifica: a brecha cognitiva entre gerações e classes sociais aprofunda-se, criando uma subclasse invisível— aqueles que, mesmo fisicamente inseridos na sociedade, são funcionalmente excluídos por sua incapacidade de interagir com sistemas digitais.
Na lógica do capitalismo de plataforma reside a ironia: a tecnologia inclui para excluir de outras formas.
A solução passa por políticas públicas que enxerguem a conectividade como direito fundamental, aliadas a educação digital crítica — não apenas técnica, mas que discuta os impactos sociais da tecnologia. Caso contrário, o futuro será de uma sociedade hiperconectada, porém, ainda mais desigual.