♫ “Ce que j’ai fait, ce soir-là/ Ce qu’elle a dit, ce soir-là/ Réalisant mon espoir/ Je me lance, vers la gloire, okay”♫ (Psycho killer, Talking Heads)
Você tem certeza que seu filho ou filha não está planejando atentados terroristas contra escolas? Ou que não está propagando mensagens racistas, misóginas, homofóbicas ou classistas? Ou que não está trocando fotos e vídeos de crianças e bebês nus ou coisas mais graves com conhecidos ou desconhecidos? Ou que não está forjando falsos nudes de meninas para obter benefícios próprios? Ou que não está divulgando vídeos ou fotos íntimos de colegas ou ex-namoradinhas?
Se você tem certeza disso tudo, possivelmente você está em uma das duas seguintes posições: ou realmente é ingênuo e não está a par de tudo o que está acontecendo ou é radical e não permite em hipótese alguma que seu filho ou filha tenha acesso a celular, redes sociais e internet.
Por outro lado, se seu filho ou filha estiver envolvido em algum dos crimes acima indicados, é provável que a polícia já saiba.
Estarrecedores
Semana passada ouvi uma entrevista com uma juíza do Rio de Janeiro que atua em uma vara que cuida de menores infratores. Os relatos são estarrecedores. Não só pelos crimes em si, mas, principalmente, pelo crescimento, segundo ela, destes tipos de comportamentos na internet entre crianças, adolescentes e jovens.
Se antes episódios com menores infratores tinham muito mais a ver com questões patrimoniais (infelizmente natural em uma sociedade extremamente consumista e com a internet incentivando ainda mais esse consumo extremo), brigas e drogas, atualmente o panorama está assustadoramente mudando de rota.
Crianças e adolescentes estão se encontrando no mar da internet, seja com os amigos, seja com desconhecidos, para discutir como atacar escolas, para enaltecer os que tiveram coragem de fazer isso, para planejar como achincalhar quem não faz parte do seu grupo, principalmente com investidas racistas, misóginas e homofóbicas, muitas vezes com base em mentiras que visam acabar com a reputação da vítima, e até para trocar fotos de pedofilia.
Seus filhos
E não, não são só os filhos dos outros. E não, não acontece só com famílias pobres ou muito ricas. E não, não fazem isso só pelo WhatsApp. O avanço das crianças e jovens nessa floresta virtual de selvageria está ocorrendo a passos largos. E comumente passando do virtual para atingir as vítimas na vida real.
Diversas plataformas são utilizadas para estes tipos de mancomunações, e quanto mais desconhecidas dos pais e adultos, melhor. Ao que tudo indica, por ora, a preferida dos que enveredam por esse caminho é a Discord. Mas todas elas, em regra, quando identificam esse comportamento avisam as polícias (internacionais e nacionais).
Então, não se assuste se algum dia a polícia, federal ou estadual, bater na porta da sua casa ou apartamento e levar o computador e o celuar do seu filho e seu próprio filho. Quer dizer, assuste-se, sim, porque a coisa estará bastante grave!
Privacidade deles
Muitos pais se defendem, para justificar porque não acompanham mais de perto seus filhos, com a tal privacidade que eles devem ter. Entendo, porém, que essa privacidade deve ser parcial e monitorada. Afinal de contas, os pais respondem pelos atos de seus filhos. Se não vão presos por eles, podem, ainda assim, responder financeiramente por todos os danos que causarem às vítimas deles. “Minha casa, minhas regras” deve valer na relação pais e filhos, sim.
Ou vocês preferem que o Estado restrinja a privacidade e liberdade deles depois dos atos criminosos cometidos?