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Pesquisa revela contaminação na costa catarinense e em ostras

Foto: Patou Ricard / Pixabay

Por: Priscila Horvat

19/02/2025 - 16:02 - Atualizada em: 19/02/2025 - 16:30

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade da Universidade Regional de Blumenau (PPGBio/Furb) revelou contaminação da costa catarinense pelos chamados poluentes emergentes, produtos decorrentes de atividades humanas cuja utilização e liberação no ambiente ainda não são reguladas.

Os pesquisadores detectaram a presença de anti-inflamatórios, cafeína, hormônios, pesticidas e derivados de petróleo, entre outras substâncias, em nove pontos da costa de Santa Catarina, nos municípios de São Francisco do Sul, Itajaí, Florianópolis e Laguna.

O estudo foi liderado pelo pesquisador Eduardo Alves de Almeida, Doutor em Bioquímica e professor dos Programas de Pós-Graduação em Biodiversidade e Engenharia Ambiental da FURB. Os resultados foram publicados nos periódicos Marine Environmental Reasearch e Science of Total Environment.

Além da água do mar, os pesquisadores coletaram para análise sedimentos e ostras de duas espécies nativas popularmente conhecidas como “ostras do mangue”: Crassostrea gasar e Crassostrea rhizophorae. O cenário identificado pelo estudo foi de contaminação em todos os pontos de coleta ao longo da costa.

A cafeína, por exemplo, marcador importante de contaminação de origem humana, foi encontrada em todos os pontos analisados, tanto na água do mar, quanto no sedimento e nas ostras.

Além da cafeína, foram encontrados fármacos (anti-inflamatórios, antibióticos e corticoides, por exemplo), vários tipos de pesticidas, hormônios e derivados de petróleo, entre outras substâncias.

Outro achado relevante foi a identificação de pesticidas banidos há décadas no país. De acordo com Almeida, a presença de pesticidas de utilização proibida não significa que eles estejam sendo usados atualmente, mas demonstra a persistência dessas substâncias no ambiente.

Em relação às ostras, os pesquisadores analisaram, ainda, os chamados biomarcadores, alterações fisiológicas e metabólicas que podem indicar se um determinado organismo está desenvolvendo processos de defesa ou desintoxicação, por exemplo.

No caso estudado, a análise dos biomarcadores das ostras refletiu o padrão de contaminação identificado na água e indicou que esses organismos estão sendo afetados pela contaminação do ambiente.

Almeida ressalta que as ostras analisadas para fins deste estudo foram coletadas em ambiente natural, não em locais de cultivo, que geralmente são posicionados em áreas mais distantes da costa e cujo ambiente é monitorado. Por esse motivo, não é possível aplicar as conclusões do estudo para as ostras cultivadas e comercializadas no estado.

Ele ainda explica que os contaminantes considerados “clássicos”, como metais pesados, por exemplo, já são amplamente estudados e tem sua utilização regulada pela legislação, tendo em vista os dados que podem causar. No caso dos poluentes emergentes, ainda não há regulação.

“Mesmo em baixas concentrações no ambiente, eles podem ter efeitos importantes a longo prazo. Por não serem tradicionalmente estudados, não existe legislação, então não sabemos qual o limite de segurança, qual a concentração máxima permitida, que fiscalização deve ser feita. A gente não tem legislação ainda, porque eles são compostos relativamente recentes e de preocupação recente”, ressalta.

São exemplos de poluentes emergentes os medicamentos, produtos de limpeza e higiene pessoal, microplásticos, entre outros.

Na avaliação dos pesquisadores, os níveis de contaminantes identificados e os biomarcadores das ostras analisadas indicam impacto de atividades humanas sobre os ambientes marinhos ao longo de toda a costa catarinense.

“Não podemos ser alarmistas, porque alguns estão em concentrações muito baixas, no nível de nanogramas, que talvez não sejam tão preocupantes pensando em efeitos agudos, mas a gente não conhece os efeitos crônicos, o que esses nanogramas presentes continuamente ao longo de vários anos podem estar causando nesses organismos”, ressalta.

O pesquisador explica que, de forma geral, os pontos de Florianópolis (Baía Norte e Baía Sul) apresentam concentrações superiores de contaminantes em relação aos demais pontos, ainda que o cenário identificado seja de contaminação generalizada ao longo da costa.

“Não podemos afirmar categoricamente com 100% de certeza qual ponto é o mais poluído, porque depende do foco de observação. A cafeína, por exemplo, foi encontrada em maiores concentrações em Laguna. Outros contaminantes, como derivados de petróleo, foram mais encontrados na região de Florianópolis. A análise é complexa”, explica.

Segundo Almeida, há relação direta entre a contaminação, os efeitos nas ostras e o grau de urbanização da área.

A pesquisa liderada por Almeida integra o “Diagnóstico Piloto da Contaminação de Ambientes Costeiros de Santa Catarina por Poluentes Emergentes e seus Potenciais Efeitos em Bivalves Marinhos”, projeto financiado por recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) que envolveu pesquisadores da Universidade Regional de Blumenau (FURB), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

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Na avaliação dos pesquisadores, os resultados obtidos pelo estudo podem servir de parâmetro para o futuro monitoramento dos níveis de contaminantes na costa catarinense.

Agora, a intenção dos pesquisadores é ampliar a investigação contemplando também as áreas de cultivo de ostras, que representam uma atividade econômica importante para o estado.

Efeito de contaminantes sobre organismos aquáticos

O grupo de pesquisadores liderado por Almeida na FURB tem como foco de investigação os efeitos dos contaminantes ambientais sobre organismos aquáticos.

Em 2024, o grupo finalizou um projeto de diagnóstico dos efeitos dos agrotóxicos usados na rizicultura sobre os anfíbios na cidade de Massaranduba, Norte do estado. Agora, os pesquisadores se dedicam a ampliar esse conhecimento adotando as áreas de rizicultura entre Gaspar e Ilhota, no Vale do Itajaí, como foco de observação.

As primeiras análises já foram realizadas e indicaram a presença de 15 agrotóxicos nas proximidades das lavouras de arroz.

Algumas dessas substâncias coincidem com as encontradas nas pesquisas anteriores, na região Norte do estado, outras estão sendo encontradas pela primeira vez no âmbito dessa investigação. O projeto é financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Adicionalmente, o grupo aguarda aprovação de projeto submetido ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que deve permitir a ampliação dos estudos ao nível nacional, envolvendo 45 pesquisadores vinculados a universidades de todas as regiões brasileiras.

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Priscila Horvat

Jornalista especializada em conteúdo de saúde e puericultura.