Um carro é uma máquina muito complexa. Mesmo os modelos mais básicos e frugais são frutos de milhares de horas de trabalho pesado de engenheiros, designers e centenas de diferentes profissionais. Um carro é um produto que precisa ser atraente na funcionalidade e no design, ou seja, não há espaço para brincadeiras na hora de projetar um. Claro, há a arte de criar o visual da carroceria e do interior, mas todo o resto é algo bem sério.
Mas não há porquê mantar a sisudez o tempo todo. Se você não sabe o que são easter eggs (ovos de páscoa, em inglês), a expressão costuma ser usada em referência aos detalhes escondidos em obras de arte e ficção, como livros, discos, filmes, fotografias ou pinturas. Pode ser uma frase em uma parede, um pequeno personagem ou símbolo escondido, uma frase que só pode ser ouvida com atenção, esse tipo de coisa.
Carros podem ser até entendidos como obras de arte (alguns, ao menos), mas não de ficção. De qualquer forma, o que queremos dizer é que carros também têm easter eggs. O Jeep Renegade está cheio de easter eggs! Mesmo com plataforma moderna (a mesma do Fiat 500X), de tração dianteira, o Jeep Renegade tem visual e competência off road inspirados em modelos do passado — basta dirigir a versão Trailhawk, com motor turbodiesel e tração 4×4, para comprovar. Assim, a Chrysler fez questão de incluir diversas referências ao passado do Jeep no Renegade. Saca só:
A silhueta de um pequeno Jeep Wrangler no para-brisa; a grade clássica, com sete aberturas, nas lanternas traseiras; outra grade próxima à entrada USB no painel e a inscrição “SINCE 1941” (ano de produção dos primeiros Jeep para o exército americano). Os caras da Car and Driver gringa encontraram mais de 30 easter eggs diferentes no Renegade. Segundo as contas deles, a grade do Jeep Wrangler clássico aparece 12 vezes ao longo de todo o carro. A silhueta, em outros três lugares. Uma pequena aranha dizendo “CIAO, BABY!” fica perto do bocal do tanque de combustível, e a superfície do teto é moldada para lembrar aqueles galões de água que os adeptos de trilhas no deserto usam em seus veículos.
E tem mais: na versão de topo Trailhawk, o fundo do porta-objetos do console traz o mapa de uma das trilhas que existem em Moab, Utah, nos EUA, destino muito popular para os jipeiros e congêneres americanos. E ainda tem mais! Mas é claro que o Renegade não é o único carro do mundo com easter eggs.
Renault Twingo RS
A versão mais potente da geração passada do Renault Twingo, o RS, era equipado com um motor 1.6 de 135 cv, tinha um detalhe bem musical: os símbolos pause, stop e play nos pedais de embreagem, freio e acelerador, respectivamente. Trata-se de uma referência ao conceito da segunda geração, que foi apresentada em 2006 e era inspirado pelo mundo da música.
Volvo XC90
Falando em aranhas, este easter egg todo simpático está no elegante, caro, luxuoso e sóbrio Volvo XC90. Na terceira fileira de bancos do SUV, há um pequeno compartimento de carga. Dennis Nobelius, diretor da linha 90 da Volvo, viu que o padrão da parte de baixo da tampa lembrava uma teia de aranha e decidiu colocar uma pequena aranha em alto relevo ali — para as crianças, visto que normalmente é ali que elas vão sentadas em viagens.
O detalhe é que, normalmente, este tipo de alteração precisa passar pelo CEO da empresa. Dennis decidiu que não tinha tempo para isto e o Volvo XC90 chegou ao mercado com este detalhe “em segredo”.
Os tubarões da Opel
Em 2013, o usuário “boffey” do fórum Cliosport.net disse que trabalhava na Opel quando a quarta geração do Corsa, lançada em 2006, estava sendo projetada. Ele disse que alguns dos membros da equipe de design apostaram que conseguiriam incorporar alguns tubarões ao acabamento do carro. Eles conseguiram: há alguns espalhados pelo interior, como este na tampa do porta-luvas.
Boffey criou o tópico depois que viu a foto ali em cima no Instagram, e depois encontrou outro tubarão — no apoio de braço do banco traseiro de uma Opel Zafira.
O projetista do compacto Opel Adam, Stefan Arndt, decidiu que o carro também deveria ter tubarões e, novamente, o fez em segredo. A Opel não sabia que o Adam tinha um tubarão no porta-copos até seu lançamento.
Dodge Viper
Em 2012, ficamos absurdamente empolgados com a volta de um cara que estava fazendo falta: o Dodge Viper (na época, por alguma razão, a Chrysler decidiu chamá-lo de SRT Viper, se arrependendo pouco depois). Claro, adoramos o motor V10 de 8,4 litros e 649 cv, curtimos muito o visual renovado e ficamos felizes porque a Dodge decidiu manter o veneno da víbora tão letal quanto possível ainda que tenha sido obrigada por lei a adotar controle de estabilidade eletrônico).
O que não percebemos logo de cara no novo (e, infelizmente, futuramente extinto) Viper foram suas “tatuagens” homenageando circuitos famosos. O primeiro é Nürburgring Nordschleife, que tem seu traçado gravado no puxador das portas. Há uma boa razão: em 2011, o Dodge Viper ACR da geração anterior virou 7:12,13 no Inferno Verde.
O outro é Laguna Seca, nos EUA. Lá, em 2009, o Viper ACR estabeleceu a volta recorde de 1:33,944. Vale lembrar que, em novembro de 2015, o atual Viper ACR reduziu ainda mais este tempo, virando 1:28,65 — além de quebrar recordes de outros supercarros em mais 13 circuitos.
Ford GT
O Ford GT conseguiu o admirável feito de manter-se absurdamente fiel ao carro de corrida histórico que o inspirou — o quatro vezes vencedor das 24 Horas de Le Mans, o Ford GT40 — visualmente e, ao mesmo tempo, parecer completamente contemporâneo quando foi lançado, em 2005.
Os primeiros protótipos foram construídos em 2003, anos em que a Ford completava seu centenário. Para celebrar, a fabricante decidiu incluir um número “100” camuflado nos faróis. Bem, ao menos no esquerdo, cujos elementos internos formam um “100”. O farol direito, portanto, diz “001”. E isto provavelmente não significa nada.
Chrysler 200
Em uma demonstração de orgulho de sua história, a Chrysler colocou o horizonte da cidade de Detroit, onde fica sua sede, nos tapetes do sedã Chrysler 200. Não lembra dele? É este cara aqui, olha:
Rolls-Royce Phantom Drophead Coupé Waterspeed Collection
O nome gigantesco condiz com o porte do carro: o Rolls-Royce Phantom Drophead Coupé Waterspeed Collection foi lançado em 2014 pela fabricante de carros de alto luxo, e presta homenagem a Sir Malcolm Campbell, um dos mais antigos recordistas de velocidade em terra do planeta e nome importantíssimo na história de Bonneville Salt Flats.
No entanto, o feito a que se refere a Rolls-Royce é outro: em 1937, Campbell atingiu 203,3 km/h em com o hidroplano Bluebird K3, movido por um V12 Rolls-Royce. É aí que entra o easter egg: este e outros recordes estão impressos na parte de dentro da tampa de um dos porta-objetos do Rolls-Royce — além do recorde de 1937, estabelecido no Lago Maior, na Itália, estão registrados os recordes de 1938 (210,71 km/h, Lago Halwill, Suíça) e 1940 (228,1 km/h, Lago Coniston, Reino Unido).
Citroën DS3
Na melhor tradição dos carrinhos apimentados franceses, o Citröen DS3 é bom de chão, potente na medida certa (165 cv do seu brilhante motor 1.6 turbo) e tem um visual no mínimo excêntrico. A Citröen não poderia deixar de manifestar seu orgulho pela França e colocou três símbolos históricos na borda do vidro traseiro: o horizonte de Paris, a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, mais ou mesmo da mesma forma que o Renegade fez com a silhueta do Jeep CJ.
Volkswagen Golf GTI Wolfsburg Edition
Este aqui não é um carro produzido em série, mas sim um conceito, mas é bacana e merece estar na lista. Trata-se do Golf GTI Wolfsburg Edition, desenvolvido por 12 aprendizes da VW, todos com idades entre 18 e 23 anos. O carro é vermelho com listras pretas e traz um motor 2.0 TSI de 380 cv. O interior traz detalhes vermelhos e bancos concha com o icônico padrão xadrez Interlagos, e as rodas pretas têm o emblema de Wolfsburg nas calotinhas centrais.
O horizonte de Wolfsburg, incluindo as torres do Autostadt (o “parque temático” da VW na cidade), está gravado em baixo relevo no couro dos revestimentos de porta, além de fazer parte do desenho das faixas laterais da carroceria.
Fonte: Flat Out