Na última quarta-feira (30), o Brasil perdeu um de seus maiores tesouros da música erudita. Arthur Moreira Lima, o pianista que por décadas nos emocionou com sua habilidade singular e dedicação incansável à difusão da música clássica, despediu-se de nós, deixando um legado irreparável. Sua partida é uma perda para a cultura nacional, e uma ausência que reverbera dolorosamente entre aqueles que compreendem o valor da arte como expressão da alma de um povo. Além de exímio pianista, Arthur Moreira Lima era um mestre em traduzir emoções em cada tecla pressionada, em cada melodia interpretada ou construída.
Suas interpretações de Chopin, Villa-Lobos, Liszt, Prokofiev, além de brasileiríssimas como Ernesto Nazareth e clássicos do choro e do samba, atravessaram fronteiras, mas foi sua alma brasileira que sempre o definiu. Ele acreditava na democratização da música e, por isso, levou o piano a comunidades que, de outra forma, jamais teriam acesso a um concerto de qualidade internacional. Com o projeto “Um Piano pela Estrada”, cruzou o país, fazendo vibrar corações nos rincões e periferias, entregando arte e emoção onde, muitas vezes, só há silêncio e esquecimento.
A morte de Arthur Moreira Lima deixa um vazio difícil de preencher. Em um país onde a música erudita luta por reconhecimento e espaço, sua figura era um símbolo de resistência e devoção. Ele acreditava que todos tinham o direito de se emocionar com a grandeza da música clássica e, por isso, batalhou para levá-la a cada canto do Brasil. Por isso, nos despedimos com pesar, mas também com gratidão. Moreira Lima também esteve em Jaraguá do Sul em 2009 quando inaugurou, em um concerto memorável realizado na Scar, o Steinway de cauda longa, doado pelo industrial Wandér Weege, que junto com as diretorias da Scar e do Femusc lamentaram a morte do pianista.
Arthur nos mostrou que a arte pode ser generosa, que a música erudita não precisa ser elitista, e que o amor pela cultura pode ser um ato de resistência. Que seu piano silencioso sirva de lembrança para todos nós sobre a importância de preservar a memória e o legado de quem tanto fez pela nossa cultura, pois, como bem proclamou Nietzsche: “sem a música, a vida seria um erro”.