Somos todos relógios – Luiz Carlos Prates

Por: Luiz Carlos Prates

23/10/2024 - 07:10

Vamos imaginar que você tenha um relógio na cozinha, outro no na sala, um no banheiro e outro ainda na cabeceira da cama. Você aceitaria que algum relógio estivesse parado, atrasado ou adiantado? Não aceitamos relógio parado, atrasado ou adiantado. Ou colocamos pilhas novas no relógio, acertamos o relógio ou o jogamos fora. Relógio que não funciona corretamente não presta. Pois é, mas nós, os humanos racionais, não deixamos de ser um relógio, um relógio que deve estar acertado para o aqui e agora. Fora disso é estar “atrasado”, preso a um passado inútil, ou adiantado num futuro irreal. O relógio da nossa vida devia estar sempre no “acertado” no aqui e agora, mas dificilmente está. Vêm daí nossas maiores inquietações ou prisão ao que já passou ou ao que pode acontecer, mas nada garantido. Medos do futuro são inúteis ou podem ser diminuídos se a pessoa acertar o passo no momento presente. Ninguém começa a poupar amanhã, será sempre num hoje, não existe o amanhã. E é essa distração humana que está acabando com os humanos sobre a Terra. Acabando, eu disse, só os ingênuos não vêem isso. E não precisamos pensar muito, as crianças não sabem mais o que é infância, não sabem o que é brincar no pátio ou na calçada, subir em árvores, brincar de pegar ou brincar de se esconder, coisas típicas das crianças do passado. Hoje, a criança nasce e é “depositada” numa creche, depositada sim. Crianças de três, quatro anos já têm celular, mais ou menos como dar um revólver carregado para uma criança brincar… Quanto aos adultos, pouco a dizer, a maioria são relógios “atrasados”, ainda que ricos ou com rútilos diplomas na parede, pobres coitados existenciais. E por quê? Porque os valores do aqui e agora, do “relógio” acertado importa a poucos, desnorteados que vivem. Infelizmente, os relógios humanos andam ou muito atrasados ou perdidos num adiantado vago e assustador. O diacho é que até mesmo a “relojoaria do céu” foi para o espaço, ninguém mais acredita nela, ainda que digam da boca para fora que são pastores, religiosos ou quase santos. Os humanos estão precisando de um relógio de sol…

SANTOS

Manchete desta semana: – “Papa Francisco canoniza religioso por milagre ocorrido na mata amazônica brasileira”. Um sujeito foi atacado por uma onça, ficou bem ferido, uma freira rezou a um padre italiano que ela conhecia, falecido, e houve o “milagre”, o ferido sobreviveu. – Ah, por favor, inventem outra! Santo, Santa são pessoas vivas que passam a vida no sacrifício e mesmo assim acham tempo para ajudar necessitados, pessoas que pensam mais nos outros que em si mesmas. Esses tipos, sim, são “santidades”.

MILAGRE

Já contei aqui… Eu devia ter uns nove anos, fui levado pelos pais a um grupo religioso… Contada a história de que minhas notas eram muito baixas no colégio, o “religioso” procurado me olhou nos olhos, me assoprou um monte de fumaça na cara e me receitou o “remédio”: levantar mais cedo e estudar no mínimo uma hora por dia em casa. O religioso foi certeiro: quem estuda passa. Aprendi!

FALTA DIZER

No passado, o celebrante de um casamento dizia aos noivos: “Juntos até que a morte os separe…”. Hoje a frase é outra: – “Juntos até que o primeiro perrengue os aborreça”! Acabo de ler, manchete: – “Frustrante aceitar a paralisia cerebral do meu filho. Virei mãe e terapeuta”, diz uma mãe diante de um filho gravemente enfermo. E o maridinho, e o papai da criança? Sempre elas…

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Luiz Carlos Prates

Jornalista e psicólogo, palestrante há mais de 30 anos. Opina sobre assuntos polêmicos.