Hospital São José é referência em transplantes de órgãos em Santa Catarina

Foto: Freepik

Por: Elisângela Pezzutti

19/10/2024 - 07:10 - Atualizada em: 23/10/2024 - 14:11

Desde 2017, o Hospital São José, de Jaraguá do Sul, é credenciado para realizar transplantes de fígado e de rim, um processo que exige estrutura robusta e uma equipe multidisciplinar qualificada. De acordo com dr. Gustavo Polesso Noal, responsável pelo setor de transplante de órgãos do HSJ, além de atender à demanda regional, recebendo pacientes de diversas cidades, o hospital também se destaca pela qualidade dos serviços. “Nós ofertamos serviços de retaguarda, como UTI, laboratório e exames complementares de qualidade. Então, tanto no pré-transplante quanto no pós-transplante, há o envolvimento de uma cadeia de profissionais”, afirma Noal.

O médico explica que o processo de doação de órgãos no Brasil começa com a confirmação de morte encefálica, que requer uma série de exames clínicos e complementares. “Normalmente, é um paciente que está na UTI, numa condição clínica mais grave. A evolução desse paciente tem que ser acompanhada por dois profissionais, que fazem testes clínicos para suspeição de morte encefálica, depois fazem exames complementares, como um eletroencefalograma ou um exame para ver se tem circulação dentro do cérebro, para então fechar o diagnóstico de morte encefálica”.

Pessoas que desejam ser doadoras devem comunicar sua vontade à família

A partir desse diagnóstico, é conversado com a família sobre a doação. “É uma conversa que acontece num momento muito difícil, que é quando um ente querido acaba de morrer e a família tem que decidir se vai fazer a doação ou não. Por isso que a gente sempre recomenda que a pessoa interessada em doar seus órgãos comunique isso aos seus familiares, porque para ser doador, não tem nenhum documento, nenhum registro que precise ser feito, a não ser a própria declaração de vontade”, explica Noal.

De acordo com o médico, apesar do aumento no número de potenciais doadores nos últimos dez anos, o Brasil ainda enfrenta um desafio significativo: a negativa familiar. “Uma estatística do Ministério da Saúde aponta que, de 2013 a 2023, o número de doações no Brasil aumentou de 13 pacientes por milhão para 19 pacientes por milhão, e a lista de espera por uma doação aumenta ano a ano”, diz o médico. Em contraste, países como a Espanha, maior doador de órgãos do mundo, têm um sistema de “presunção de doação”, onde todos são considerados doadores a menos que expressem o contrário.

Mortes por falta de doadores

“Embora o Brasil tenha melhorado em termos de infraestrutura e treinamento na área de transplantes, o aumento na lista de espera por órgãos continua. Recentemente, três pacientes faleceram em Jaraguá do Sul enquanto aguardavam um transplante, uma realidade triste que reforça a necessidade urgente de sensibilização sobre a doação”, reforça o médico.

Quais pacientes entram na lista de transplante

Ao chegar no Hospital São José, os pacientes são avaliados para determinar a gravidade de suas condições. Para isso, a equipe realiza uma série de exames laboratoriais e de imagem para decidir se o transplante é realmente a única alternativa viável. Doentes em estado crítico, que não têm possibilidade de cura, como aqueles em diálise ou com fígado severamente comprometido, por exemplo, têm prioridade.

“Se for uma doença mais branda, a gente consegue tratar – não curar – esse paciente com medicamentos, terapia nutricional e fisioterapia. A partir do momento que essa doença já está avançada, que não há mais a possibilidade de estabilização ou a gente percebe que ela está evoluindo muito rápido, temos que pensar em transplante, que é o último recurso que se tem para garantir a vida e a saúde desse paciente. Então, a gente não transplanta qualquer paciente, só o paciente que não tem possibilidade de cura”, afirma Noal.
“Imagina um paciente que precisa fazer diálise pelo menos três vezes por semana e se não for a máquina de diálise ele vai morrer. Às vezes, a condição desse paciente acaba se agravando e é preciso pensar em um transplante renal. A mesma coisa com relação ao fígado, quando dá sinais de que está deteriorado, não funciona, e a gente tem que fazer um transplante hepático. A partir disso, é feita uma série de exames e tem uma pontuação que esse paciente recebe para ir para a lista de transplante, que vai mudando todos os dias, por isso o paciente pode avançar ou perder posição. A lista é gerenciada pelo Governo do Estado, que por sua vez é comandada por uma secretaria do Ministério da Saúde, que é quem determina para onde os órgãos irão “, detalha.

Garantia de segurança

Quando o hospital recebe uma notificação de doação do Estado, todos os exames necessários são feitos na unidade onde o paciente está internado e os resultados são enviados para a Central Estadual de Transplantes de Santa Catarina (SC Transplantes), em Florianópolis, para que seja feita uma contraprova. Se houver qualquer divergência nesses exames, eles são todos refeitos. “A garantia então são dois locais diferentes isolados que vão produzir exames cujos resultados têm que ser iguais. Então, realmente, é impensável isso que aconteceu no Rio de Janeiro. Foi um evento único em todos esses anos em que o serviço de transplante funciona no Brasil”, destaca o médico.

Há doenças que tornam a doação contraindicada. Se o paciente tiver uma doença infectocontagiosa, como HIV, ou alguns tipos de câncer, por exemplo, ele não pode ser doador.

Após os exames no doador serem feitos, eles são organizados pela Central de Transplantes, que já tem os resultados dos exames dos pacientes que estão na lista de espera por um órgão, e consegue avaliar qual o melhor receptor para aquele órgão que está sendo doado. Entre outros requisitos, é preciso ter compatibilidade de tipagem sanguínea.

“A gente sabe de onde vêm os órgãos, mas não sabe quem é o paciente que doou. Muitas vezes, o paciente que recebe o transplante quer saber quem é a família do doador para agradecer, mas a gente não sabe, a lei proíbe”, observa Noal.

A vida pós-transplante

O processo de transplante não termina com a cirurgia e envolve cuidado contínuo. Os transplantados devem tomar medicamentos imunossupressores pelo resto da vida para evitar a rejeição do órgão. O acompanhamento médico é fundamental, com consultas regulares e exames laboratoriais para monitorar a saúde dos pacientes.

O papel do SUS

Os remédios necessários ao transplantado são fornecidos pelo Governo do Estado. “Quando o paciente recebe o órgão, a gente faz essa solicitação, então ele já sai aqui do hospital com todos os remédios que ele vai precisar usar”, informa o médico, salientando que o Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores financiadores de transplantes de órgãos no mundo, garantindo que esses procedimentos sejam acessíveis a toda a população.

Uma nova vida

Em fevereiro de 2023, dona Marina recebeu um transplante de fígado | Foto: Arquivo pessoal

Em fevereiro de 2022, a comerciante aposentada Marina Bagatoli, 61 anos, procurou a emergência do Hospital São José com fortes dores abdominais e foi orientada a procurar com urgência um especialista em hepatologia. Em 2012, ela havia sido diagnosticada com hemocromatose, uma doença hereditária que provoca acúmulo de ferro no organismo, danificando os órgãos e causando sintomas como fraqueza, cansaço e dores abdominais e nas articulações.

Dona Marina, que mora em Schroeder, passou a ter o acompanhamento da equipe de transplante do Hospital São José até ser incluída na lista para receber um fígado. “Após oito meses na fila de espera, meu transplante foi realizado no dia 13 de fevereiro de 2023”, conta, dizendo que desde então passou a ter uma rotina normal. Ela faz questão de enfatizar a importância da doação de órgãos. “Eu e muitas pessoas ainda estamos vivendo por isso”, salienta.

 

 

 

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Elisângela Pezzutti

Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.