Na ocasião de datas comemorativas comerciais, como no caso do Dia das Crianças celebrado neste dia 12 de outubro, muitos pais se veem tentados a atender todas as vontades dos filhos e a gastar em exagero. No entanto, especialistas orientam que é mais promissor saber dar limites: o exemplo dos adultos é o principal fator para formar hábitos financeiros saudáveis nas crianças.
Conforme explica o Doutor em Finanças Comportamentais, Jurandir Sell, que atua como consultor de educação financeira da Warren Investimentos Jaraguá do Sul, é ao observar a forma como os mais velhos lidam com o dinheiro — seja através do consumo, do planejamento ou do ato de poupar — que os pequenos desenvolvem suas próprias atitudes em relação a ele. “A educação financeira, quando ensinada desde cedo, não é apenas sobre dinheiro, mas também sobre o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida adulta”, comenta.
Um comportamento comum observado em muitas famílias é o desejo dos pais de proporcionar aos filhos tudo o que não puderam ter em sua própria infância. Essa tendência de ceder a todos os pedidos dos pequenos, embora bem-intencionada, segundo o especialista, pode resultar em uma visão distorcida sobre o valor do dinheiro e a importância do esforço.
Para evitar isso, os pais podem aproveitar os desejos das crianças, que por vezes não passam de impulsos consumistas, como oportunidades de ensino e reflexão. Por exemplo, ao querer um brinquedo novo ou um item de valor, os filhos podem ser orientados a poupar parte de sua mesada. Isso introduz a noção de planejamento e do esforço necessário para alcançar algo. “Ao dar tudo o que eles pedem, perde-se a oportunidade de ensinar o valor da conquista”, explica.
A “mesada”, inclusive, é uma das ferramentas mais recomendadas na educação financeira para introduzir as crianças no mundo do dinheiro. De forma prática, ajustada de acordo com as possibilidades dos pais e a maturidade dos filhos, ela ensina conceitos como economia, poupança e planejamento.
Ao administrar uma quantia fixa regularmente, os mais jovens aprendem a tomar decisões sobre o que comprar e quando economizar, o que os ajuda a desenvolver responsabilidade e autocontrole. “Aprender a aceitar que nem sempre é possível obter o que se quer, e que é necessário batalhar e ter estratégia para alcançar objetivos, é uma das lições mais importantes de educação financeira que se pode dar aos filhos”, afirma Sell.
Para ele, “falar sobre dinheiro com as crianças deve ser tão natural quanto discutir a escola ou os amigos”. Conforme complementa o consultor de educação financeira da Warren Investimentos, os pais devem ser encorajados a explicar, de forma simples e objetiva, o que compõe o orçamento familiar e como funcionam as finanças da casa, incluindo os filhos na tomada de decisões.
“Isso inclui falar sobre o valor das compras, explicar a origem do dinheiro e mostrar a importância de reservar parte da renda para emergências ou grandes aquisições”, coloca Sell. Definir juntos como utilizar o dinheiro familiar é uma oportunidade para todos compartilharem seus desejos, aprenderem sobre escolhas e compreenderem que gastar depende tanto de vontades, quanto de possibilidades.
Algumas práticas recomendadas incluem avaliar em família quais presentes, no contexto de datas comemorativas, são viáveis dentro do orçamento, explicar como funciona a relação entre preço e produto e, novamente, incentivar a ideia de poupar para atingir um objetivo maior no futuro.
Discussões sobre o preço de brinquedos ou passeios, por exemplo, podem abrir portas para conversas sobre escolhas, motivação e consumo responsável. Além disso, apresentar atividades simples e gratuitas, como um piquenique no parque ou um dia cozinhando juntos, podem ser alternativas significativas que mostram às crianças que o valor do tempo em família é muitas vezes mais valioso do que os presentes materiais.