O hábito da leitura traz uma série de benefícios: aumenta o conhecimento, o senso crítico e a habilidade na escrita, enriquece o vocabulário, estimula o raciocínio e desenvolve a criatividade. No entanto, a avalanche de informações superficiais a que se tem acesso na Internet nos dias de hoje fez com que muitas pessoas deixassem de lado a leitura do livro de papel, que exige mais tempo e atenção. Mas, existem leitores que ainda preferem a sensação tátil de um livro impresso, de sentir o cheiro do papel e de folhear as páginas em busca do próximo capítulo. Este é o caso de Charles, Renata e Zigmar. Com diferentes idades, eles moram em Jaraguá do Sul e têm nos livros uma companhia constante e agradável.
Leitor que se tornou escritor
Charles Zimermann, 50 anos, é professor, escritor e analista de desenvolvimento intercultural. Sua trajetória acadêmica, que inclui graduação, pós-graduação e mestrado, está intimamente ligada ao comércio exterior e ao estudo das relações culturais entre países. Zimermann atua analisando as diferenças culturais entre nações, como Brasil e Ásia ou Brasil e países vizinhos, auxiliando empresas que buscam compreender essas culturas enquanto expandem seus negócios internacionalmente.
Ele conta que seu interesse pela leitura começou com publicações do navegador brasileiro Amyr Klink e da família Schürmann, que relatavam suas viagens e aventuras pelo mundo. Atualmente, Charles tem lido obras de ficção de autores indianos e brasileiros, como Joca Terron e Daniel Galera, além de livros sobre geografia, história, sociologia e antropologia. Entre seus autores preferidos estão o norte-americano Paul Auster, o japonês Haruki Murakami, a indiana Arundhati Roy e o português José Saramago. Fora da ficção, cita o indiano Amartya Sen, os historiadores britânicos Simon Sebag Montefiore e Simon Schama, e a historiadora brasileira Lilia Schwarcz . Em meio à sua vasta gama de interesses literários, também encontra tempo para apreciar poesia, de autores como Mário Quintana e Paulo Leminski.
Zimermann já publicou cinco livros. Seu primeiro lançamento foi “Nos Confins do Oriente”, em 2006, seguido por “Estrada para o Grande Deserto” e “Terra Estrangeira”. A obra mais recente, “Travessia”, publicada em 2018, narra sua volta ao mundo de bicicleta, uma jornada que durou dois anos e meio. Outra publicação de sua autoria é “Deserto Feliz”, uma coletânea de crônicas, lançada em 2009.
Apesar do acesso facilitado à literatura digital, o professor e escritor mantém o hábito de ler livros físicos. “Uso a Internet como ferramenta de leitura, especialmente para textos acadêmicos e livros que não são lançados no Brasil, mas sempre carrego um livro físico comigo, que estão sempre repletos de anotações a lápis”, afirma Charles, que dedica algumas horas por dia à leitura, geralmente pela manhã. “Todo escritor tem que ler. Sem leitura não há escrita”, reflete.
Com uma biblioteca pessoal que reúne cerca de mil volumes, muitos deles autografados, Charles planeja o lançamento de seu próximo livro para o final deste ano ou início do próximo. A nova obra será centrada em suas experiências na Índia, um país que continua a ser uma de suas maiores fontes de inspiração.
Preservação do patrimônio literário para as gerações futuras
Zigmar Raeder, 62 anos, é um corupaense que veio morar em Jaraguá do Sul aos 12 anos. Também residiu na Alemanha por duas ocasiões, em 1986 e 2011. Ele conta que sua paixão pelos livros vem de família. Seu avô, Hellmut Robert Raeder, que viveu em Corupá de 1930 até sua morte, em 1981, era uma pessoa simples, mas muito culta. Foi dele que Zigmar herdou uma enorme quantidade de livros e uma coleção de 10 mil cartas antigas, que abordam os mais variados temas, como política, religião e até a origem do universo.
Atualmente, ele possui um acervo de cerca de 30 mil volumes, boa parte fruto de doações, e a maioria escrita no idioma alemão. Há também Bíblias em português, alemão e hebraico, além de obras raras que reforçam o valor histórico e cultural de sua coleção. São livros de autores consagrados como Machado de Assis, José Lins do Rego, Jorge Amado, Adélia Prado, além de clássicos da literatura mundial, como Tolstói, Dostoiévski, Schiller e Goethe.
Ao mostrar livros de Goethe, Zigmar conta que sua bisavó, Elisabeth Jerusalem, que foi uma grande frequentadora de óperas e teatros em Leipzig, na Alemanha, era parente de Karl Wilhelm Jerusalem, cujo suicídio inspirou Goethe a escrever, em 1774, ‘Os Sofrimentos do Jovem Werther’, uma das principais obras do romantismo alemão.
Além dos livros, Zigmar possui um valioso arquivo histórico composto por fotos, documentos e cartas antigas, muitas delas escritas em alemão gótico, às quais ele tem se dedicado a traduzir. “Temos um acervo maravilhoso, mas nos falta espaço físico para concretizar o sonho que tenho de montar uma Sociedade Literária em Jaraguá do Sul”, diz. Hoje, a maior parte dos livros está armazenada em caixas guardadas em dois espaços alugados que ele paga com dinheiro do próprio bolso.
O sonho de Zigmar vai além da criação de uma simples biblioteca. Além, da preservação do patrimônio literário para as gerações futuras, ele planeja a instalação de um arquivo histórico, que será batizado de Willy Germano Gessner, em homenagem ao primeiro prefeito de Corupá.
Ele conta que a inspiração para esse projeto surgiu com a Sociedade Literária de São Bento do Sul, que existe desde 1881. Com mais de 50 mil volumes ela guarda uma das maiores coleções de livros em língua alemã no Brasil. “Precisamos de apoio, seja do poder público, empresários ou pessoas físicas, para que possamos montar uma Sociedade Literária nos moldes dessa de São Bento”, apela.
“Monteiro Lobato já dizia que ‘uma nação se constrói com homens e livros’, e eu continuo acreditando nisso. Seremos uma grande nação no dia em que os brasileiros se dedicarem mais à leitura”, afirma.
Interessados em contribuir com o projeto podem entrar em contato com Zigmar pelo WhatsApp (47) 99990-4296.