“♫ Não me convidaram/ Pra esta festa pobre/ Que os homens armaram/ Pra me convencer
A pagar sem ver/ Toda essa droga/ Que já vem malhada/ Antes de eu nascer” (Brasil; Cazuza).
Deolane Bezerra se tornou um dos maiores nomes entre os influenciadores digitais brasileiros. Advogada e viúva do funkeiro MC Kevin, Dra. Deolane, como é conhecida, conquistou milhões de seguidores nas redes sociais, onde compartilha sua rotina de luxo, opiniões polêmicas e parcerias publicitárias. Sua ascensão meteórica, que ganhou força com a morte do músico, é emblemática quanto ao poder dos influenciadores digitais. E ela se tornou uma figura que influencia o comportamento de uma geração de seguidores.
O papel dos influenciadores.
Os influenciadores digitais têm um papel cada vez mais relevante no comportamento de seus seguidores, especialmente entre os mais jovens. A idolatria em torno dessas figuras públicas muitas vezes ultrapassa a admiração saudável. Muitos seguidores não apenas acompanham o conteúdo produzido, mas espelham suas próprias vidas nas dos influenciadores, buscando, muitas vezes de forma desesperada, alcançar o sucesso, a fama e o estilo de vida ostentado por eles. Esse comportamento de “idolatria digital” é reforçado pela constante exibição de sucesso pessoal, bens materiais e conquistas que, muitas vezes, estão fora do alcance da maioria dos seguidores.
Não é incomum seguidores entrarem em verdadeiras guerras virtuais de versões nas redes sociais quando seu ídolo é criticado de alguma forma. A soltura da dra. Deolane é um exemplo disso: muitos seguidores a esperavam do lado de fora da cadeia.
Os impactos dos influenciadores.
Entretanto, o impacto desses influenciadores vai muito além do comportamento. O mercado publicitário percebeu o potencial de mobilização dessas figuras e começou a investir pesado. Só no Brasil, o mercado de marketing de influenciadores só na América Latina movimentou cerca de US$ 1 bilhão em 2023. Globalmente, estima-se que o mercado de influenciadores digitais movimentará perto de US$ 500 bilhões até 2027. Esse cenário demonstra o quão poderosas essas figuras se tornaram, capazes de influenciar decisões de compra, comportamentos e até mesmo opiniões políticas e sociais.
O problema é que muitas pessoas acreditam que podem alcançar o mesmo nível de sucesso e visibilidade, mas, na realidade, o sucesso dos influenciadores está longe de ser alcançável para a maioria. Isso pode levar a uma busca incessante pela popularidade nas redes, com algumas pessoas recorrendo a comportamentos extremos para viralizar. Desde cirurgias plásticas até endividamento para manter a aparência de uma vida luxuosa, as consequências dessa busca são graves. A ideia de que qualquer um pode ser famoso tem suas consequências sociais nefastas.
Há, ainda, outros aspectos. A prisão de Deolane em uma operação da Polícia Federal trouxe à tona questões importantes sobre o papel desses influenciadores na promoção de comportamentos prejudiciais. Ela foi acusada de envolvimento com esquemas ilegais de jogos de azar e lavagem de dinheiro (o que nega). Essa questão levanta um ponto crucial: muitos influenciadores promovem abertamente sites de apostas e joguinhos online e o país (talvez o mundo) está sofrendo de uma epidemia da ideia de enriquecimento fácil. O endividamento sério de algumas pessoas é só a ponta do iceberg.
As Dras. Deolanes da vida real são o reflexo de uma nova era digital, onde a fama rápida e o sucesso nas redes sociais parecem estar ao alcance de todos. Porém, como qualquer influência massiva, exige responsabilidade e consciência por parte daqueles que são seguidos por milhões. Afinal, o impacto de suas ações e recomendações vai muito além da tela do smartphone – molda comportamentos, escolhas e, em última instância, o futuro de uma geração.