“♫ Sinais de vida no país vizinho/ Eu já não ando mais sozinho/ Toca o telefone/ Chega um telegrama enfim/ Ouvimos qualquer coisa de Brasília/ Rumores falam em guerrilha/ Foto no jornal/ Cadeia nacional” (Revoluções por minuto; RPM).
Antigamente, as notícias eram consumidas em momentos específicos do dia: durante o café da manhã com o jornal matinal ou no noticiário noturno. Chegavam de forma pausada e seletiva. Esse ritual permitia às pessoas digerir as informações com certa tranquilidade e depois seguir com suas vidas. Hoje, porém, a realidade é outra. Com a revolução digital, as notícias borbulham 24 horas por dia por meio de smartphones e computadores, criando um fluxo contínuo e, se a pessoa deixar, ininterrupto de informações.
O poder de estar sempre, teoricamente, informado, traz, ao mesmo tempo, gigantesco desafio.
Baixo valor com alto preço.
Essa acessibilidade constante vem com seu preço. Com esse fácil e rápido acesso às redes sociais e a sites de notícias, as fake news se proliferam com a mesma velocidade das notícias legítimas (alguns estudos apontam, inclusive, que se espalham até sete vezes mais rápido), explorando as plataformas digitais para disseminar desinformação. O impacto é significativo, pois muitos usam essas notícias falsas para reforçar crenças pessoais sem fundamento, alimentando divisões e mal-entendidos, e, em muitos casos, reforçando preconceitos e visões enviesadas de mundo, distorcendo realidades de acordo com o interesse do freguês.
Literalmente pelo gosto do freguês, pois é assim que as plataformas mantêm os usuários presos a suas timelines. E ele, o freguês, sai ainda mais convicto do seu viés ideológico (seja em que seara for) do que entrou. Afinal, a internet pensa como ele!
Efeito cascata.
Além disso, essa enxurrada de informações tem outro efeito colateral preocupante: a dificuldade de desligar. O acesso constante às notícias pode ser exaustivo mentalmente, afetando a capacidade de relaxar e de dedicar tempo de qualidade a si próprio e aos seus familiares. Cada vez mais pessoas estão, de certa forma, sempre ligadas ou conectadas, o que pode impedir o convívio humano saudável e a verdadeira desconexão do mundo digital.
O excesso de informações pode ser paralisante. Essa avalanche constante de notícias (ou mentiras sensacionalistas) mantém muita gente em um estado de alerta permanente, dificultando a desconexão e o relaxamento. Esse bombardeio contínuo pode tirar o foco das atividades cotidianas e da convivência com a família, substituindo momentos de qualidade por uma atenção fragmentada e muitas vezes ansiosa.
Portanto, apesar de a tecnologia oferecer a incrível vantagem do grande e quase infinito acesso à informação, é fundamental aprender a gerenciar o tempo e a atenção. Isso significa selecionar fontes confiáveis, questionar o que se lê e ouve, e, acima de tudo, reservar momentos para desligar de verdade e realmente estar presente no aqui e agora, longe das telas e mais próximo de quem importa.